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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Reforma política do PT: Educafro ameaça com multa e perda da bolsa estudantes que não coletam assinaturas. É isso que petistas chamam de “iniciativa popular”? Entenda como o partido de Dilma quer construir a ditadura perfeita

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 02h40 - Publicado em 11 nov 2014, 18h20
Educafro ameaça print

Print do e-mail da Educafro enviado aos estudantes bolsistas

A ONG Educafro (Educação e Cidadania de Afro-descendentes e Carentes) supostamente tem por objetivo lutar pela inclusão de negros e pessoas oriundas de escolas públicas ao ensino superior, oferecendo cursinhos comunitários e bolsas de estudo para graduação e pós-graduação em parceria com várias instituições do país. Mas o objetivo do momento, tido como mais um “exercício de cidadania”, é promover a reforma política do PT, ameaçando os estudantes com multas e perda da bolsa caso eles não colham ao menos 35 assinaturas em prol da medida: “É para nossa Entidade, ofensivo, que você deixe a missão para a última hora e opte pela multa de R$ 300,00. Isto fere a cidadania pregada pela EDUCAFRO”, diz o item 6 do e-mail enviado aos bolsistas, com o assunto “Novas orientações para renovação de bolsa Educafro”, que traz a assinatura do diretor executivo da entidade, Frei David Santos. (“Caso você concerte [sic] seus erros a multa será extinta”, diz ele, que não “consertou” a grafia do verbo.) Se o PT fez terrorismo eleitoral especialmente no Nordeste com a mentira de que a oposição acabaria com o Bolsa-Família, o Frei David chantageia os beneficiários da bolsa Educafro para transformá-los em militantes do partido – e ainda chama de ofensivo o gesto de quem o desobedece.

Frei-DavidDe quebra, como fiel seguidor da recomendação atribuída a Lenin, “Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz”, o diretor diz que deputados e senadores, que “são contra os anseios do povo”, “querem fazer a reforma do jeito deles, beneficiando a si mesmo e seus grupos” e pergunta: “Você é a favor desta atitude?” Esta que, no caso, é precisamente a atitude petista.

Captura de Tela 2014-11-11 às 16.28.27“Quando for para eu renovar a matrícula para 2015, será cobrada essa multa, e quem não pagar perderá a bolsa”, contou-me a bolsista de São Paulo que me repassou a mensagem e cujo nome não revelo por motivos óbvios. “Não entreguei, achei um absurdo me coagirem dessa forma. Sou contra a reforma, sou contra o PT, sou contra o Governo”, acrescentou. O prazo para coleta de assinaturas acabou nesta segunda-feira, 10 de novembro. “Peço que divulgue, pois não assinei e nem recolhi assinaturas por simplesmente não concordar com esse absurdo”, explicou ela.

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Que Frei David e demais petistas enquadrem como “iniciativa popular” um projeto de iniciativa escancarada do PT que busca o apoio do povo por meio da chantagem de estudantes desprovidos de condições de pagar suas faculdades, só mostra o tamanho do cinismo dessa gente disposta a fazer “o diabo” para construir a ditadura perfeita. Quantos signatários não terão também firmado seus nomes apenas para que seus parentes e amigos pedintes não percam o benefício parcial ou integral de que dispõem? Não terá sido coletada assim boa parte das 8 milhões de assinaturas que a presidente Dilma Rousseff alega ter recebido em suposta petição de “movimentos sociais” para encaminhar a reforma política?

Em outro e-mail da entidade, sob o título “Carta de orientação”, o arquivo anexo é claro: “Recolher as assinaturas deles e entregar as 5 (cinco) folhas totalmente preenchidas (sem erros), na sede da Educafro para que seja habilitada a renovação da bolsa para 2015.”

Na mesma carta, depois de parabenizar “os Guerreiros da EDUCAFRO que deixaram as aulas e o trabalho indo lutar” em Brasília, em ato em frente ao MEC, do qual teria resultado a criação de “um grupo de trabalho para ampliar a participação de negros/as no ‘Programa Ciência sem fronteiras II’, e também no MESTRADO e no DOUTORADO”, o diretor executivo impõe a militância petista – que ele chama de “trabalho por um Brasil melhor” – como condição para a manutenção da bolsa:

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“Assim que você fez sua opção de receber uma bolsa pela EDUCAFRO, você tomou plena consciência de que o trabalho por um Brasil melhor está diretamente ligado à bolsa. Os que não querem este compromisso podem desistir da bolsa EDUCAFRO e ir para o ProUni, Cotas ou outras portas que a EDUCAFRO ajudou a abrir para garantir o seu sucesso.”

Em outras palavras: nesta organização não governamental, só fica quem faz favorzinho ao governo.

O relatório bolivariano
A atitude de Frei David está perfeitamente de acordo com a proposta de “relançar a campanha pela reforma política” presente no relatório bolivariano da Comissão Executiva Nacional do PT que escancarou de vez o projeto ditatorial do partido antecipado no best seller de Olavo de Carvalho idealizado e organizado de mim, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.

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“Para transformar o Brasil, é preciso combinar ação institucional, mobilização social e revolução cultural”, diz o texto, sem citar o ideólogo comunista italiano Antonio Gramsci, que concebeu tal revolução, mas falando explicitamente da urgência de “construir hegemonia na sociedade”, tornando a “verdade” do partido a única possível. Toda ação, como queria Gramsci, passa então a ser analisada pelo critério do aumento ou da diminuição do poder do “Moderno Príncipe”, como ele chamava o partido que comandaria a sociedade. Tudo que serve para aumentar o poder do PT é bom e verdadeiro, tudo que não serve é ruim e falso. Os caminhos para a ditadura perfeita estão lá:

a) reforma política, precedida de um plebiscito, através de uma Constituinte exclusiva;
b) democracia na comunicação, com uma Lei da Mídia Democrática — o que, em português claro, quer dizer “censura”;
c) retomada do projeto que submete a administração federal a conselhos populares — mesmo após o decreto 8.243 ter sido derrubado pela oposição no Congresso.

A reforma política tem três pilares básicos:

1) FINANCIAMENTO PÚBLICO E EXCLUSIVO DE CAMPANHA
O problema é a doação ilegal, mas o PT quer vetar a doação legal de empresas privadas, porque assim o maior partido levará a maior bolada de dinheiro; e o maior partido, claro, é o PT – o mesmo que, segundo as delações, ainda usou dinheiro do Petrolão na campanha de 2010, o que a reforma política não impediria de acontecer novamente.

2) VOTO EM LISTA PRÉ-ORDENADA PARA OS PARLAMENTOS
O eleitor vota no partido, sem nem saber a quem está dando seu voto. Apenas se estabelece o número de cadeiras a que cada legenda tem direito, e os eleitos serão os primeiros de uma relação previamente preparada por cada uma, o que, em vez de aproximar os eleitores do eleito, afasta-os ainda mais do que hoje.

3) ASSEMBLEIA CONSTITUINTE EXCLUSIVA
Sem que tenha havido qualquer rompimento da ordem anterior, seria eleita para fazer a mudança uma Assembleia que se dissolveria em seguida – um método ao qual recorreram na América Latina os governos autoritários de Venezuela, Cuba e Bolívia, todos parceiros do PT no Foro de São Paulo.

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Objetivo oculto
“Após quebrar a espinha do DEM e causar sérias avarias no tucanato nestes 12 anos”, como já alertou várias vezes Reinaldo Azevedo, “o alvo natural e necessário do petismo” com a reforma polítca, para além de aniquilar ou subordinar as demais vozes da sociedade, “é seu principal aliado: o PMDB”, “que receberia menos verbas do fundo público de campanha do que o PT, estaria impedido de se financiar com empresas privadas (a não ser por intermédio do caixa dois, com os riscos inerentes a esse tipo de ação) e não contaria com as doações não estimáveis em dinheiro que os sindicatos sempre fazem ao petismo”.

Retomo para encerrar
Não bastassem a propaganda explícita das políticas racialistas no Enem, descrita no artigo “O governo nos educa“, de Demétrio Magnoli; o fracasso e a “doutrinação política marxista” do nosso sistema educacional, descritos no artigo “Estamos acabando com o país“, de Gustavo Ioschpe; as críticas às políticas afirmativas vindas até de bíblias do progressismo americano como o “New York Times” e a revista “Atlantic”, conforme descritas no artigo “Desembarques na Normandia“, de João Pereira Coutinho, e até de negros americanos, conforme descritas no meu post anterior, “Arnaldo Jabor ainda quer acusar a direita de ‘racismo’?“; ainda há uma nova lei que institui cotas para pós-graduação nas universidades estaduais, sancionada pelo governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e sim: ONGs como a do Frei David trocando bolsas para necessitados por serviços de militância petista em prol de uma ditadura perfeita. De uma forma ou de outra, o estudante brasileiro tem de militar na escola, no vestibular, na universidade, na pós-graduação e até nas ruas se quiser ter uma carreira acadêmica.

E aí? “Você é a favor desta atitude?”

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Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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