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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Craque contra time ruim, Neymar ainda tem muito a provar contra time bom. Se o Brasil perder para a Alemanha, a desculpa da ausência dele está pronta, mas seria justa?

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 03h32 - Publicado em 7 jul 2014, 19h16

I.

“Afinal, você vai acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?”, perguntava Groucho Marx. “O homem medíocre não acredita no que vê, mas no que aprende a dizer”, explicava Olavo de Carvalho. Não sei se há assuntos em que isto fique mais evidente do que no futebol. Entre o que acontece em campo e o que dizem narradores e comentaristas de TV, há frequentemente um hiato – menor ou maior, dependendo da emissora – que qualquer espectador deveria levar em consideração, porque a TV precisa promover o jogo, o evento, o espetáculo, de modo que a tendência – consciente ou inconsciente – na avaliação da sua qualidade e na de seus protagonistas é sempre para cima, já que a audiência tende a se dispersar se entender que o programa não é atraente. Até aqueles que dizem odiar Galvão Bueno, contudo, parecem repetir seus exageros, potencializados ainda pela exaltação publicitária dos ídolos do esporte. (São da mesma escola da turma que diz “eu não sou PT, mas…” – e aí repete todas as “ideias” petistas, propagandeadas pela mídia e pelo sistema de ensino.) O motivo é simples: a força do que se aprende a dizer não se esvai pelo ódio puro e simples que se tem de quem disse. Odiar é fácil. Ajustar a própria linguagem à realidade das coisas é um esforço diário de descontaminação das frases feitas presentes no ambiente cultural, em nome do poder individual de discernimento.

Não estou pedindo que ninguém acredite em mim mais do que nos seus próprios olhos. Apenas lembrando que, diante de opiniões divergentes, convém se perguntar se aquilo que você diz é realmente fruto daquilo que “viu”, ou simplesmente daquilo que aprendeu a dizer por aí.

Pela repercussão do meu comentário abaixo no Facebook, nota-se que homens medíocres e mal-educados preferem xingar e desmerecer o autor.

Também isto, diga-se, eles aprenderam a “dizer” neste país.

II.

Captura de Tela 2014-07-07 às 15.11.19Neymar fez 4 gols na Copa: 2 contra a Croácia [1 do pênalti “roubado” e outro de fora da área, quando Oscar limpou a jogada para ele], 2 contra Camarões – ambas, seleções fracas. Contra as medianas do México, do Chile e da Colômbia, sua máxima contribuição para os gols do Brasil foi batendo escanteio. De resto, basicamente prendeu a bola e caiu. Foram raros os bons passes para seus companheiros nesses jogos. E ele desperdiçou uma porção de cobranças de falta. Sim: deve ter ajudado a cansar os adversários, nada além disso. A tristeza legítima com sua contusão não deveria ser pretexto para erguê-lo mais uma vez a um patamar ao qual ele nunca pertenceu, como bem sabe a torcida do Barcelona [III]; nem conferir à sua ausência um peso sequer próximo ao que teve a de Pelé em 1962 (ainda que naquela seleção houvesse um Garrincha e até um Amarildo). Neymar é um ótimo jogador contra times fracos e no máximo um bom jogador contra times melhorzinhos. O fato de ser o mais badalado do Brasil não faz dele o craque em qualquer circunstância que se imagina por aí. Seu desempenho contra a Colômbia, a rigor, foi ruim. É verdade que o Brasil não tem jogadores melhores no banco, mas, se Felipão souber armar o time para o jogo contra a Alemanha, sua ausência poderá até mesmo favorecer o toque de bola. Nem tudo está perdido. Pode fazer bem à seleção parar de jogar em função do gênio que não tinha.

III.

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Ver: AQUI, AQUI, AQUI, AQUI, AQUI, AQUI.

A propósito: as seleções que disputaram a Copa das Confederações, vencida pelo Brasil em 2013 para deslumbramento geral, já foram todas eliminadas da Copa do Mundo. Itália e Espanha – que fizeram uma das semifinais – o foram na primeira fase, inclusive, como prova da decadência anunciada. E o Uruguai, derrotado pelo Brasil na semifinal, foi atropelado pela Colômbia nas oitavas, esta mesma seleção cheia de jogadores em times B do futebol mundial.

mundoesportivo

Este (acima) foi o texto do jornal espanhol “Mundo Deportivo” após a vitória do Brasil por 4 a 0 sobre o Panamá: “Quando Neymar coloca a camisa do Brasil é outro, é o Neymar que os torcedores do Barcelona queriam ver também, ou muito mais”. Eles, que não viram ainda um Neymar genial no Barça, só não entenderam que o jogo era contra o fraquíssimo Panamá.

Na internet, a propósito, também é comum vê-lo tido como “superestimado”:

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Mas a opinião de Dunga, como a de tantos torcedores, é essa:

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No Brasil, a culpa do mau desempenho de Neymar – seja no Barcelona, isto é, nos bons campeonatos europeus onde o futebol não é de várzea como o nosso, seja na seleção brasileira – nunca é do próprio jogador, nunca é de suas limitações, ainda que estas possam ser vencidas com o tempo: é sempre do esquema tático, do treinador, das contusões, da incompatibilidade com Messi, do diabo. Como é que alguém pode evoluir assim, inconsciente de seus limites?

IV.

Só para registrar: o Brasil já era pior do que a Alemanha com Neymar, ok? Para vencer, com ou sem ele, já teria de estar em dia de graça (o que, sim, é possível). Mas a desculpa está pronta: se a seleção perder, foi porque ele não jogou. Afinal, ele teria feito contra a favorita Alemanha aquilo que não fez contra as seleções medianas do México, do Chile e da Colômbia, não é mesmo? É o óbvio dos óbvios… Então tá.

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Conforme comentei em 26 de junho, aliás:

Flalemanha

Respondendo a leitores:

Foi o Messi que deu o passe para o gol da Argentina na vitória sobre a Suíça, aquela para a qual o Brasil perdeu no ano passado, com Neymar. Foi o Robben que deu o passe para um dos gols da Holanda contra o Chile, aquela seleção com a qual o Brasil empatou nas oitavas, com Neymar. Foi o Robben, também, que sofreu o pênalti (e ele foi calçado sim, apesar do teatro que fez) na vitória de virada da Holanda contra o México, aquela seleção com a qual o Brasil empatou em 0 a 0 na primeira fase, com Neymar. Em relação a Messi, Robben e ainda Müller, Neymar é o que menos deu passes para finalizações na Copa. Foram 13 (19,6% dos do Brasil) contra 22 (30,9%) de Messi, 16 (25,8%) de Robben, e 14 (24,5%) de Müller.

O cúmulo do autoengano é a alegação de que “a marcação é bem dura e muitas vezes vitoriosa” e Neymar é “caçado em campo, o que explica o baixo rendimento às vezes contra times melhores. E uma coisa justifica a outra.” Justifica, uma ova! Craque tem de ser craque jogando marcado, ué, como o foram todos os grandes craques da história. Senão, ainda que seja craque contra time ruins, é no máximo um bom jogador contra times bons, como eu disse. E sim: Messi e Robben, marcados, foram mais decisivos que Neymar contra times relativamente bons.

É muito melhor para o futebol brasileiro que o seu craque mais badalado se conscientize de que sair driblando bons marcadores de times compactos pode não ser a melhor opção – e aprenda a desenvolver e potencializar outros recursos que funcionem nesses casos. Ele é jovem e pode evoluir nisso. Mas a exaltação alucinada, sem as devidas distinções, só faz mal ao seu inegável talento.

V.

Meu time contra a Alemanha seria: Júlio César, Maicon, David Luiz, Dante e Marcelo; Luiz Gustavo, Fernandinho, Oscar e Willian; Bernard e Hulk. Felipão não vai começar assim. Não gosta de mexer tanto. Provavelmente, vai deixar o Fred (e eu torço para que ele desencante, mas não o manteria pelo que mostrou até aqui). Se usar Willian e Bernard, não serão os dois de cara. E poderá usar 3 volantes (LG, Fernandinho, Paulinho/Ramires), compensando talvez com Daniel Alves na lateral, com a crença de que ele ataca mais do que Maicon. O perigo disso é o Brasil ficar com menos criação do que já tem, sem ligação do meio com o ataque, o que resulta em chutão pra frente. Como Oscar já é uma espécie de terceiro volante, eu não colocaria mais um – o que me parece uma cautela tão excessiva que se confunde um tantinho com a covardia mesmo. O entrosamento de Oscar e Willian, que jogam juntos no Chelsea, merece ser finalmente explorado. E o Brasil devia tentar pressionar ao menos um pouquinho e fazer gol, assustando a Alemanha, em vez de lutar para manter um 0 a 0 desde o começo.

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Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil

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