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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Como vencer um debate sobre silicone sem precisar ter razão

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 2 dez 2016, 15h50 - Publicado em 19 mar 2014, 17h05

6 – Como és bela e graciosa, ó meu amor, ó minhas delícias!… 7 A tua estatura é semelhante à palmeira; e os teus seios são semelhantes aos cachos de uvas. 8 Dizia eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; e então os teus seios serão como os cachos na vide, e o cheiro da tua respiração como o das maçãs.

Cânticos 7

Sobre as reações que meu texto O silicone, a mulher e o homem despertou no Facebook, seguem minhas notas:
 
1.
 
Enquanto os cirurgiões se julgarem aptos a vender “autoestima”, eu zombarei deles (dos que vendem). E nada mais cômico que eles me acusarem daquilo que fazem: falar do que está fora da minha alçada.
 
2.
 
Como vencer um debate sobre silicone sem precisar ter razão: diga que o debatedor não entende absolutamente NADA do assunto, sem especificar onde ele está errado e por quê; dê uma carteirada de médico especialista, como se ele tivesse falado apenas de questões médicas; acuse-o de desrespeitar genericamente os profissionais da área, ignorando o ponto da crítica que lhes faz; elogie o desempenho do debatedor em outros temas, sugerindo que se ocupe deles; afirme que isto não lhe dá o direito de palpitar sobre o que desconhece, ignorando que ele critica precisamente isto nos especialistas; capriche em palavras como “deselegante”, “leviano”, “ignorante” etc.; afete patriotismo declarando que o país precisa de quem entende do que fala; e, se possível, reduza a exposição do debatedor a um suposto gosto pessoal dele mesmo, como se ele não estivesse, também, lembrando e distinguindo justamente os aspectos estéticos, práticos, eróticos, passageiros, duradouros, fetichistas, autênticos, declarados, averiguados etc. dos gostos que talvez mereçam ser levados em conta para uma decisão mais consciente de suas consequências reais.
 
Pronto. A plateia bocó – que, como as “pessoas comuns” de Arthur Schopenhauer, o “homem comum” de Ludwig von Mises, o “homem-massa” de Ortega y Gasset e o “homem medíocre” de José Ingenieros, prefere se amparar na autoridade, nos padrões e na propaganda de outras pessoas para atingir o seu bem-estar -, certamente lhe dará umas curtidas.
 
3.
 
Do leitor Fabiano Bortoni:
 
Nunca se esquecendo, Felipe Moura Brasil, que os seios são como os amigos:
 
É na hora do aperto que se descobre quais são os falsos e quais são os verdadeiros.
 
4.
 
Do leitor Andre Fausto:
 
Alguma mulher que morasse em uma ilha deserta se importaria com o tamanho dos próprios peitos? Duvido muito. Então, esta história de que “boto silicone para me sentir bem comigo mesma” e não “para agradar os outros” é um tremendo nonsense. Não vou nem entrar no mérito se esta conduta é boa ou ruim, só estou destacando a incapacidade das pessoas de perceber, admitir para si mesmas ou nomear os seus próprios sentimentos e motivações.
 
[Sobre esta última frase, ver meu post: Próteses de felicidade e neuroses sexuais.]
 
5.
 
Não estou proibindo ninguém de ganhar sua graninha, nem sequer sou contra a publicidade… Estou apenas na minha função intelectual de desintoxicar a linguagem dos chavões da propaganda. Isto, no Brasil, é um crime, eu sei. A maioria das pessoas não quer aprender a expressar as coisas e quando seus lucros dependem disso são mais teimosas ainda. É a velha máxima de Upton Sinclair: “It is difficult to get a man to understand something when his job depends on not understanding it.
 
6.
 
“Autoestima” é aquilo que o silicone supostamente aumenta nas mulheres e que a rejeição ou a “broxada” dos homens que preferem seios naturais pode nelas diminuir, seja se acontece antes, durante ou após o coito. Como esses homens nem sempre alegam os motivos verdadeiros, e os cirurgiões não têm por que lembrar às pacientes que isso pode acontecer, e as mulheres não gostam mesmo de admitir que a rejeição masculina as afeta, que dirá quando esta deriva dos peitos que ela fez questão de comprar, a “autoestima”, segundo o senso comum fabricado pela propaganda, só corre mesmo o risco de aumentar com a cirurgia.
 
Não será um espanto se junto com a neurose.
 
7.
 
“Autoestima”, “autoconfiança”, “felicidade”, “bem-estar”, “realização pessoal” e uma série de outros eufemismos propagandísticos são geralmente usados para encobrir uma única coisa, a qual o brasileiro toma como base para todas as suas decisões: a satisfação imediata.
 
8.
 
Do leitor Robson Ujoarah:
 
Ao persistirem os sintomas, um novo cirurgião deve ser consultado.
 
9.
 
Como tem mulher que fica me mandando aquelas pesquisas “científicas” sobre o aumento da “autoestima”, cujo método básico é praticamente perguntar às moças “Você é feliz com o resultado do implante? Em quais áreas da sua vida?”; e tem até homem que toma como verdade universal e definitiva as supostas preferências de jovens que mal começaram a vida sexual por peitos siliconados, reproduzo abaixo um trecho sobre pesquisa de opinião, transcrito do best-seller mundial, recém-publicado no Brasil pela editora Agir, ‘O Livro Politicamente Incorreto da Esquerda e do Socialismo’, escrito pelo professor Kevin D. Williamson, do King’s College, de Nova York, a fim de deixá-los, ao menos, mais céticos diante dessas coisas, guardadas as devidas diferenças em relação aos produtos:
 
(…) Muitas vezes as pessoas mentem em pesquisas de opinião, fornecendo informações que transmitem o que consideram qualidades desejáveis sobre si mesmas. Por exemplo: assustadas pelo declínio de leitores, as editoras de jornais frequentemente pedem a opinião dos americanos sobre o que desejam de um jornal. Geralmente, as respostas são:
 
1. Mais notícias internacionais.
2. Mais reportagens investigativas.
3. Mais notícias culturais.
 
Na verdade, as seções mais lidas da maioria dos jornais são:
 
1. Os obituários.
2. Os resultados esportivos.
3. As cartas do editor.
 
Em outras palavras, as preferências declaradas pelos leitores apresentam certa discrepância em relação a suas preferências averiguadas. Dizemos que queremos assistir aos programas culturais da PBS, quando na realidade assistimos a American Idol.
 
Outro elemento complicador é que os consumidores não sabem quais serão seus desejos e necessidades futuros. (…)
 
Pois é. Entre o que se declara e o que se averigua, vai uma distância enorme; e o que não falta é homem dizendo que gosta ou que não se importa com o silicone para parecer legal com as moças. Sei que elas dirão: “Ah, mas tem também os homens que dizem não gostar, mas se passar uma siliconada eles querem!”. Ora, claro que tem! Há de tudo. Mas cadê as pesquisas capazes de averiguar se as siliconadas transam mais, namoram mais, casam mais, são mais ou menos rejeitadas etc. e o quanto o silicone tem a ver com isto? Cadê a pesquisa capaz de averiguar se os homens realmente escolhem as mulheres, seja para uma noite ou para uma vida, de acordo com a sua preferência declarada? E quais dos jovens que se dizem amantes da coisa sabem, afinal, quais serão seus desejos futuros?
 
Com a idade e a experiência de Antonio Fagundes, por exemplo, pode ser que repitam o que ele declarou à revista Quem: “A mulher não faz isso para o homem! O homem brasileiro não gosta de peito. A gente gosta de bunda. No entanto, elas estão botando peito. Não perguntaram para a gente do que a gente gosta. Elas estão ficando magras, magras, magras… Mas a gente gosta de violão!” Eu sei. Você talvez tampouco possa analisar as preferências averiguadas do Fagundes. Mas declarações como as dele deveriam ao menos fazer as mocinhas lembrarem que existe essa opinião no universo masculino e que essas mocinhas podem vir a ser rejeitadas, senão casualmente, amorosamente, na hora em que elas se encantarem por um homem assim.
 
Mas no país que já chegou às centenas de milhares de mamosplatias de aumento por ano, não sem a propaganda das celebridades turbinadas, dizer essas coisas é um insulto.
 
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
 
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Leia também aqui no blog:
Cirurgião plástico de BH comenta no blog: “Torço para que em nossos consultórios continuem chegando pacientes com queixas estéticas, porém amadurecidas e com um melhor julgamento do papel da beleza na vida delas”
O silicone, a mulher e o homem
Próteses de felicidade e neuroses sexuais
O mictório da estética
Contra a cafonice

 
Matérias da Veja.com:
Uma em cada três brasileiras já pensou em colocar silicone
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Cirurgias plásticas: começou a temporada de busca pela perfeição
Próteses mamárias podem atrasar diagnóstico de câncer de mama, diz estudo / Entre especialistas, porém, não há consenso a respeito da influência das próteses na identificação e prognóstico da doença


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