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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Comento o texto de Guga Chacra “Minha resposta ao Felipe Moura Brasil”

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 03h16 - Publicado em 15 ago 2014, 21h53

O blogueiro do Estadão e analista da Globo News Guga Chacra publicou em seu blog o texto “Minha resposta ao Felipe Moura Brasil” relativo ao meu artigo anterior, Guga Chacra diz que tem mestrado e eu não! É a carteirada chupa-cabra!.

Segue o texto dele em azul, entremeado pelos meus comentários.

O jornalista Felipe Moura Brasil me criticou em seu blog na Veja e leitores pediram resposta. Primeiro, como quem me segue sabe, nunca critico outros jornalistas. Quando discordo de algum, escrevo pessoalmente para a pessoa. Fiz isso algumas vezes com o Rodrigo Constantino, a quem conheci no Rio no ano passado em palestra para a Comunidade Judaica do Rio, com o Reinaldo Azevedo, a quem conheço por email e por telefone uma vez, e com o Caio Blinder, de quem sou amigo pessoal. Também escrevo para eles e outros para elogiar (discordo do Reinaldo em alguns pontos de Israel, mas concordamos na Síria).

Quanto às críticas a outros jornalistas, nada sei a respeito. Só sei que, dessa vez, de uma forma ou de outra, Chacra me criticou. Como a crítica foi pública, e estou certo de que um comentarista de TV tem muitos seguidores no Twitter, respondi publicamente no espaço de que disponho para alcançar o maior número de pessoas, já que não tenho como mensurar o alcance da crítica inicial. É um risco que corre quem faz críticas públicas.

A história começou, segundo o post do Felipe Moura do Brasil, que pode ser lido aqui, com uma leitora que me segue no Twitter e insiste em compartilhar textos o tempo todo. Em determinada hora, ele compartilhou um do Felipe Moura Brasil. Eu estava cansado de tanto ele mandar ler textos de outras pessoas o tempo todo, eu pedi para ele compartilhar o meu. E, neste momento, admito que fui arrogante. O Felipe tem razão. Disse que por ter mestrado na Universidade Columbia e conhecer Gaza e Israel minhas opiniões teriam maior valor. Não tem. Eu estou errado. Uma pessoa pode escrever um ótimo artigo de opinião sem conhecer Gaza e sem ter formação acadêmica. No Twitter, às vezes exageramos e peço perdão pela arrogância. Mais uma vez, errei.

Agradeço o gesto e retribuo a gentileza, acredito que estamos resolvidos quanto a isto. Mas vamos ao resto.

Agora, no restante do texto, o Felipe Moura Brasil afirma que sou de esquerda. Não sou.

Não foi bem isso que eu afirmei. As aspas continuaram faltando, o que não é um expediente recomendável, mas ok, I come in peace. Eu disse, sim, que Chacra recai em expedientes típicos da esquerda e eu os apontei. E disse, também, que a tal “direita multicultural-liberal” descrita por ele, e da qual ele se julga um representante, é uma dissimulação left-lib politicamente correta, por menos que se queira assim (e especialmente se recai nos expedientes citados). Entendo que se depreenda daí a suposta afirmativa. E entendo que Chacra se defenda disso.

Inclusive, costumo ser criticado por ser de direita em questões econômicas e por ter simpatizado com a candidatura de Mitt Romney à Presidência dos Estados Unidos. Isto mesmo, eu considerava o republicano o melhor candidato e ainda acho que teria sido um ótimo presidente, assim como foi um ótimo governador em Massachusetts, no comando das Olimpíadas de Salt Lake City e como CEO da Bain Capital, um fundo de private equity.

Ok, mas direitismo econômico é muito pouco para escapar do esquerdismo cultural, cujos efeitos podem ser mais graves, até porque a cultura move a economia e não o contrário, como queria Karl Marx.

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Aparentemente, o Felipe Moura Brasil me classificou de esquerdista por eu combater a islamofobia.

Aparentemente, Chacra não entendeu bem o que eu disse, mas quem lê meus textos sabe exatamente o que é esquerdismo. Se eu achasse que ser de esquerda é combater a islamofobia, eu também (benza Deus!) seria esquerdista.

Eu combato também o antissemitismo e não acho que condenar islamofóbicos tenha a ver com direita ou esquerda.

Se eles forem de fato islamofóbicos, não tem mesmo. Mas é mais uma vez um provável reflexo tardio dos ensinamentos de esquerda recebidos na academia estender o conceito de “islamofóbico” e, consciente ou inconscientemente, usá-lo como rótulo infamante para impedir o debate, dando ares de coisa maligna a alguma ideia, conduta ou adversário que se deseja destruir. Eu também combato a islamofobia (e todas essas fobias), o que varia é o entendimento do que ela é e, no caso, do risco dos radicais islâmicos à segurança da região e do Ocidente. Chacra andou estendendo demais o conceito de islamofóbico e naturalmente cometeu injustiças. E este tipo de gritaria geral tem consequências.

Há vários casos, como o de Fort Hood, que teve 3 mortos, em que o atirador dava todos os indícios de que cometeria o crime, mas, como toda a administração Obama tem uma postura tão politicamente correta que beira o paroxismo, não houve espaço para um “profiling” adequado do atirador e infelizmente pessoas morreram. Os terroristas de Boston, por exemplo, foram identificados pelo serviço secreto russo, que avisou formalmente o governo americano sobre os irmãos, mas o governo Obama preferiu ignorar os avisos e pessoas morreram também.

Chacra pode alegar que não foi assim, pode ter outra visão, mas o problema em questão aqui não é este: o problema é que essa histeria politicamente correta é um impedimento não só a certas medidas de segurança que eventualmente podem salvar vidas, mas ao debate sobre quais delas seriam as mais eficazes.

Tem a ver com valores que aprendi com a minha família, sendo metade dela cristã do mundo árabe.

Uma coisa são os valores. Outra, o modo de aplicá-los. É preciso tomar cuidado com o segundo, justamente para não deixar de lado os primeiros.

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Se for minhas posições de política externa, tampouco sou de esquerda. Nos últimos tempos, para os EUA, sou defensor de uma política mais isolacionista. Neste caso, há defensores no espectro político americano tanto na direita, com o libertário Rand Paul, do Partido Republicano, como na esquerda, com a senadora Elizabeth Warren, do Partido Democrata. Já Hillary Clinton, democrata, e John McCain, republicano, tendem a ser mais conservadores. Esquerda, em política externa, é ser ideológico e, por exemplo, condenar os EUA mas não condenar Cuba. Eu não sou assim. Aliás, moro em Nova York e literalmente amo os EUA, onde escolhi estudar e trabalhar.

Isto tudo aí deixo para os leitores do Chacra, porque nada tem a ver com as questões do meu texto.

Sobre a Columbia, de fato, a universidade, assim como quase todas nos EUA, é “liberal” no sentido americano da palavra – na Europa e no Brasil, seria esquerda a tradução (Embora a Columbia talvez estejam [sic] à direita do PSDB). Isso não significa que ex-alunos ou professores sejam de esquerda.

Que todos sejam de esquerda, claro que não significa. E eu não disse que Chacra cometia esquerdices PORQUE estudou lá, apenas mostrei aos que se encantam com um diploma americano que lá é um ambiente esquerdista, que um professor importante na formação de Chacra é um ativista palestino, e que Chacra saiu de lá cometendo determinadas esquerdices, que afirmei não saber se ele já cometia antes. O resto cabe a Chacra refletir, não fiz um estudo completo para determinar de onde exatamente vem cada uma de suas ideias e os modos como ele as aplica; ele não é meu objeto de estudos.

Warren Buffet também estudou na Columbia, assim como grande parte do mercado financeiro em Wall Street.

Buffet estudou em Columbia na virada dos anos 1950. A infiltração esquerdista ficou muito mais acentuada nas últimas décadas, como também explicam o livro e um dos artigos que eu indiquei. Além disso, seria de uma ingenuidade atroz achar que só porque alguém trabalha no mercado financeiro é de direita. O maior financiador da esquerda mundial é George Soros! O próprio Buffet sofre uma série de críticas dos conservadores americanos, mas isto não vem ao caso aqui.

O mesmo vale para filhos de banqueiros no Brasil. E o Armínio Fraga, presidente do Banco Central de Fernando Henrique e comandante da equipe econômica de Aécio Neves, foi professor na Columbia. O Pedro Malan, ministro de FHC, foi orientado pelo Albert Fishlow, meu professor na Columbia (ele era de Berkeley antes). Um dos meus melhores amigos em NY é um brasileiro, muçulmano, de direita e aluno do PhD em economia da Columbia.

Não vou avaliar caso a caso, mas, de acordo com os exemplos, Chacra segue falando de economia. E o problema é geralmente este: muita gente especializada – ou avessa à bibliografia conservadora por conta de demonizações pueris – se julga de direita por questões econômicas, mas favorece a esquerda em questões culturais, que, no fim das contas, resultarão, também, em vantagens econômicas para a esquerda. Essas coisas estão mais explicadas no livro do Olavo de Carvalho que eu idealizei e organizei, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Fica meu convite para Chacra lê-lo; se ele me fornecer um endereço de envio, faço questão de mandar um exemplar.

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E, realmente, tive um professor de origem palestina que é um dos mais renomados historiadores dos EUA. Mas isso não quer dizer que eu concorde com ele. Na aula dele, inclusive, a maioria era judaica (algo normal na Columbia, com 30% de alunos judeus) e havia também israelenses.

“Renomado” carece de fontes e há diversos acadêmicos americanos, como Noam Chomsky, que são reconhecidos em suas áreas e estão à esquerda do PT ideologicamente. Não custa lembrar também que a grande maioria dos judeus residentes nos EUA se identifica com o Partido Democrata e votou em Barack Obama por questões que não são objeto deste texto. O fato de haver judeus em classe nada significa tampouco. Nem Columbia nem o professor ativista vão proibir judeus de frequentar aulas, mas isto não os impede de moldar comportamentos e inculcar nos alunos ideias e modos anti-Israel de pensar. É assim, de maneira sutil, que funciona o adestramento universitário, justamente para que suas vítimas jamais se deem conta de que foram ludibriadas e, quando alertadas, ainda teimem em reconhecer os vícios que herdaram desse ambiente, para poderem finalmente se descontaminar. E é especialmente assim que os judeus que vivem longe de Israel se tornam muitas vezes anti-Israel eles próprios.

De resto, creio que o episódio está encerrado e fica meu convite para que Guga Chacra conheça mais o que é o conservadorismo, especialmente o americano, que representa algo como metade do eleitorado do país hoje e que mantém vivos os ideais dos fundadores da nação americana. Entender os EUA é fundamental para entender a posição ocidental no conflito e não apenas o lado islâmico, o qual Guga, evidentemente, entende e comenta com muita familiaridade.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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