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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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As balas perdidas e os bandidos perdidos – Quantos anos para prender foragidos como Playboy, Guarabu e Pitbull?

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 02h16 - Publicado em 25 jan 2015, 18h17

PlayboyA invasão do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, na Zona Norte do Rio, comandada por Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, chefe do tráfico do Morro da Pedreira, deixou uma mulher baleada neste sábado, a sétima vítima da mal chamada “bala perdida” na cidade em oito dias.

“Bala perdida” é aquela que sai da arma disparada por um bandido perdido pela polícia e, em vez de se perder, encontra um cidadão inocente.

Playboy está foragido desde o dia 26 de agosto de 2009, quando se aproveitou do direito ao regime semiaberto, saiu do Instituto Penal Ismael Pereira Sirieiro e não retornou. A recompensa para quem der informações sobre o seu paradeiro é agora a segunda mais alta da história do Disque-Denúncia (2253-1177), sendo que a primeira foi de R$ 100 mil pelo esconderijo de Fernandinho Beira-Mar.

Contra Playboy, há 22 mandados de prisão, a maioria por roubo e homicídio, além de anotações por tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Foram seus comparsas que posaram submersos ostentando três fuzis na piscina da Vila Olímpica Félix Mielli Venerando, em Honório Gurgel, inaugurada em 2012 para formar talentos para os Jogos de 2016. “Adorei a piscina, esculachou. Mó complexão, tá tudo dominado”, disse Playboy em áudio investigado pela polícia.

piscina-traficantes

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O traficante é o líder da quadrilha que mais rouba cargas de cigarros, eletrônicos e bebidas do mundo, como revelara VEJA em 2014, e no final do ano, ele ainda comandou o roubo de 197 motos do depósito da empresa Rodando Legal, na Fazenda Botafogo.

Vídeos mostraram os bandidos desfilando pelas ruas da região com os veículos roubados, 97 dos quais seriam devolvidos uma semana depois por ordem do traficante para evitar operação policial na comunidade. Mesmo assim, a Polícia Civil fez uma grande operação e apreendeu mais de 30 carros e 112 motos.

Prendeu Playboy? Não. E lá se vão seis anos desde que ele fugiu. Seis anos de incompetência do secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, em encontrá-lo.

Resta saber se o traficante Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, vai encontrá-lo primeiro. Num belo dia, Playbou o roubou, levou vários fuzis e mudou de facção. Guarabu já tentou muito, mas ainda não conseguiu matá-lo.

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As calcinhas de Guarabu e PQD
Foragido há mais de 11 anos(!), Guarabu assumiu em 2003 o poder do Morro do Dendê, na Ilha do Governador – junto com Gilberto Coelho de Oliveira, o Gil, seu homem de confiança e amigo de infância -, depois da prisão de seu rival Marcelo PQD. O faturamento apenas com vans e kombis que circulam pelo bairro – cerca de 600 veículos – rende à dupla 800.000 reais mensais.

Beneficiado em janeiro de 2007 por bom comportamento, PQD saiu pela porta da frente do presídio Edgar Costa, em Niterói, para visitar parentes, e não voltou mais. Ele planejava matar Guarabu e retomar o tráfico de drogas no Dendê, mas acabou preso com seis comparsas no entorno da comunidade menos de cinco meses depois, no dia 1º de junho.

“Nesta ocasião, a prisão só foi possível porque eles alugaram uma casa. Dessa forma, nós pudemos arquitetar um plano para prender Marcelo sem promover troca de tiros que pudesse resultar na morte de inocentes”, dissera o delegado Ronaldo de Oliveira, da DFRA.

A rixa entre PQD e Guarabu é pessoal porque, ao assumir o controle do tráfico, Guarabu expulsou do morro parentes de PQD. Segundo a polícia, a vingança teria sido motivada por humilhação: quando liderava as bocas-de-fumo da favela, PQD teria obrigado Guarabu a desfilar de calcinha. Quando PQD foi preso, a quadrilha de Guarabu celebrou com a exposição de um boneco representativo do rival, vestido de calcinha vermelha.

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A falência total do Estado
Depois disso, Beltrame prometeu que a polícia iria executar novas ações para capturar também Guarabu e reprimir o tráfico no Dendê, o que não aconteceu até hoje, talvez por pura falta de interesse da Segurança Pública. VEJA revelou em dezembro de 2013 que a facilidade com que a quadrilha se instalou naquela região passa, necessariamente, pela relação promíscua que o bando tem com a polícia. As propinas podem variar de 450 a 1.000 reais por dia.

Em 2012, durante uma das raras operações realizadas pelo batalhão da área no Dendê, uma equipe de policiais chegou à casa de Guarabu e encontrou vários objetos de valor, como roupas, móveis e até aparelhos de tevê de última geração. “Quando acabou a ação, eles foram obrigados a devolver tudo por ordem de um major e ainda perderam suas funções no Grupamento de Ações Táticas”, contou um dos policiais militares que atuava na favela.

O Dendê persiste como um território blindado, à parte das regras do restante da cidade, e as ações policiais na favela são raríssimas. Além de pagar propinas, Guarabu não permite assaltos na Ilha, ou seja: até uma porção de moradores comuns do Jardim Guanabara, pais de família sócios do Iate Clube, prefere que ele fique por lá. Resultado: o número de “disque-denúncias” contra o traficante não é tão grande.

Sim: isto é a falência total do Estado.

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Procurados

Cartaz do Disque-Denúncia divulgado em outubro de 2014

Pitbull e a ordem no Comando Vermelho
pitbullcartaz300Além de Playboy, Guarabu e PQD, vale lembrar o caso do chefe do PPG (Pavão, Pavãozinho e Galo), Adauto do Nascimento Gonçalves, o Pitbull, de 33 anos, aquele do churrasco na favela no dia da troca de tiros com a polícia que teria resultado na morte do dançarino DG, do Esquenta.

Pitbull havia sido preso em 2008, mas estava foragido desde julho de 2013, quando passou para o regime semiaberto e não retornou à cadeia. No Comando Vermelho, famigerada facção criminosa à qual Pitbull pertence, há uma ordem interna: quando se ganha qualquer benefício, é proibido voltar para a cadeia com as próprias pernas. E até hoje o traficante está solto.

Proteção legal e incompetência da secretaria
A proteção legal que facilita a fuga de bandidos é obra de legisladores mais preocupados com o direito dos ‘manos’ do que com o direito à vida da população. A incompetência – para dizer o mínimo – de 5 meses (PQD), 1 ano e meio (Pitbull), 6 anos (Playboy) e 11 anos (Guarabu) para encontrá-los e prendê-los é obra da secretaria de Segurança Pública do Rio, há 8 anos nas mãos de Beltrame.

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Não: uma coisa não é justificativa, nem pode camuflar a outra.

Nota 1 para a polícia
A VEJA desta semana ainda traz uma matéria sobre o despreparo – tantas vezes apontado neste blog – dos policiais que estão sendo formados a toque de caixa para preencher os quadros das Unidades de Polícia Pacificadora, que sorvem atualmente 20% de todo o efetivo do estado e só fazem crescer, sem que os resultados práticos fiquem à altura de sua publicidade política. Foi o tiro disparado por um desses policiais que acabou matando o capitão Uanderson Manoel da Silva, 34 anos, comandante da UPP de Nova Brasília, uma das favelas que compõem o Complexo do Alemão. Há PM que entrou para a tropa com nota “1” em português.

Qual concurso público do planeta aprova um candidato que tira 1 na língua nativa? Só mesmo o de um estado onde as “balas perdidas” de bandidos perdidos cismam em encontrar a população.

Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil

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