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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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A nova elite dos amigos do poder

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 03h16 - Publicado em 18 ago 2014, 16h55

lula-e-chavezMeu post anterior, “Entre a fome do povo e as fortunas dos amigos do poder“, continha a tradução da primeira parte, publicada no domingo, da reportagem do Clarín sobre as mamatas do socialismo na Venezuela, comandada por parceiros do PT no Foro de São Paulo. Segue abaixo – depois dos meus comentários – a segunda parte da matéria, publicada nesta segunda-feira com o título “Uma nova elite do clientelismo na Venezuela bolivariana” e o subtítulo: “Banqueiros milionários elogiam Chávez. O ‘modelo’ abriu-lhes grandes oportunidades.”

Enquanto Chávez nacionalizava os bancos que não apoiavam o seu governo, Lula mantém até hoje a rédea curta de instituições em tese privadas, como vimos no episódio do Santander, quando o ex-presidente, com seu jeitinho nada delicado de ser, pediu e recebeu a cabeça dos funcionários do banco envolvidos no envio de uma carta aos correntistas com projeções econômicas negativas em caso de uma eventual vitória eleitoral de Dilma. O Brasil petista é uma Venezuela dissimulada em fase de crescimento. Tanto lá quanto aqui, ainda que por meios diferentes, falou mal do governo, já era, amigo. E não importa se é só a mais pura verdade.

Quanto à fortuna dos amigos do poder e à escassez para o povo faminto, é como escreveu Kevin d. Williamson, em “O livro politicamente incorreto da esquerda e do socialismo“:

“O socialismo não trata primariamente da redistribuição de riquezas ou receitas dos ricos aos pobres. O socialismo diz respeito a políticos planejando a economia. A politização da economia, e não sua redistribuição, forma a base do socialismo. (…) E embora um alto grau de redistribuição necessariamente acompanhe as tentativas de planejamento socialistas, esta muitas vezes canaliza riquezas e receitas dos pobres e da classe média para os abastados – em particular aqueles que são membros da classe política planejadora ou que podem explorar sua ligação com essa classe para benefícios próprios” (p. 167).

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Ou: “os Grandes Negócios são amigos de confiança dos regimes de planejamento centralizado, já que essas empresas acreditam, acertadamente, que poderão usar o aparato do planejamento para seus próprios interesses. Isso acontece, por exemplo, ao aplicar pesadas cargas reguladoras para evitar que novos competidores entrem em suas áreas de mercado” (p. 11).

A história do banqueiro Victor Vargas Irausquin é mais uma a ilustrar o socialismo como ele é. Enquanto Chávez vociferava contra os ricos em seu programa de TV, seu miguxo levava um estilo de vida luxuoso, com mansão, iate e, claro, partidas de polo. Cada país que ignorou o poder do Foro de São Paulo tem hoje os Lulinhas que merece.

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Ao outorgar contratos com ex-militares e executivos favoráveis ao governo, Hugo Chávez deu uma nova cara ao sistema do crônico clientelismo venezuelano que tem minado a riqueza do país desde 1500, quando a Espanha começou a colonizar a região que mais tarde seria este país.

Naquela época, um grupo de oligarcas nomeado pela coroa mantinha o domínio político e econômico. Em 1811, a Venezuela declarou sua independência, desencadeando uma guerra de 12 anos contra a Espanha liderada por Simón Bolívar, que terminou com a derrota das forças reais na batalha naval do Lago Maracaibo.

Invocando o espírito de Bolívar, em 4 de fevereiro de 1992, Chávez, que era então tenente-coronel de paraquedistas, liderou uma tentativa fracassada de derrubar o presidente Carlos Andrés Pérez. O militar acabou preso por dois anos. Essas ações e o encarceramento fizeram o líder carismático conquistar o apoio do povo e abriram o caminho para a vitória eleitoral esmagadora de Chávez em 1998.

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Mas enquanto ajudava os pobres construindo habitação a preços acessíveis e oferecendo educação gratuita, Chávez também deixava o poder econômico nas mãos de uma nova elite, diz Kim Morse, professora de História Venezuelana na Universidade Washburn, em Topeka. “Chávez simplesmente mudou o funcionamento do clientelismo, incorporando novas pessoas ao sistema”, acrescentou.

Um dos indivíduos mais destacados da elite da era Chávez é Victor Vargas Irausquin. Ele é presidente do Banco Occidental de Descuento baseado em Maracaibo, conhecido como BOD, o quarto maior banco não estatal do país. Vargas, ex-presidente da Associação Bancária da Venezuela, joga polo em sua própria equipe profissional, Lechuza Caracas. Uma década atrás, Vargas começou a aparecer nos jornais espanhóis, quando sua filha Margaret casou com Luis Alfonso de Bourbon, primo de segundo grau do rei espanhol Filipe VI.

Vargas está há anos celebrando publicamente as políticas económicas de Chávez e Maduro. Em um discurso no dia 5 de junho, em Maracaibo, elogiou Chávez por ajudar os pobres a obter hipotecas. “Temos um sistema financeiro forte, robusto”, disse ele. “Aqui sim eu me sinto um socialista porque demos a oportunidade para os mais necessitados. Chávez restaurou o crédito hipotecário. “Vargas era um banqueiro de sucesso antes de o ex-paraquedista chegar ao poder. Em 1993, uma sociedade anônima comprou o BOD. Naquela época, era um banco regional que operava no estado de Zulia.

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Mas a instituição cresceu nos tempos de Chávez até se converter em uma franquia nacional, quando o presidente nacionalizou os bancos que não apoiavam o seu governo. Os ativos do BOD totalizavam 19,3 bilhões de dólares em maio. Vargas é dono de 95% do capital acionário. No entanto, Vargas não recebeu um tratamento especial de Chávez, diz Diego Lepage, um dos advogados do banqueiro. “Quando dizem que Vargas foi um empresário que se beneficiou de Chávez, não dizem que tem 15.000 funcionários na Venezuela. Isso é importante.”

O BOD ganhou dinheiro recebendo mais depósitos públicos do que qualquer outro banco privado, segundo documentação obrigatória apresentada ao Sudeban, o regulador bancário da Venezuela. Em 31 de dezembro de 2013, o BOD tinha ao menos 50% de depósitos a mais do que qualquer outro banco privado.

Como outros bancos venezuelanos, o banco paga uma média de 0,78% ao ano sobre os depósitos em conta corrente. Investe parte do efetivo do governo em títulos venezuelanos. Os rendimentos sobre a dívida venezuelana emitida em dólares americanos, e portanto isolada da inflação galopante do país, tinham uma média de 11,8% desde que Chávez assumiu o poder. Em 15 de julho, as ligações renderam 11,2%.

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Fazer negócios com o governo é valioso para o BOD, diz Capriles Andres Perez, vice-presidente da entidade. “O BOD está ativamente envolvido no setor, fortalecendo seu relacionamento com as empresas estatais que fazem gestão de recursos de petróleo e outros recursos minerais, bem como os rendimentos de prefeitos, governadores e institutos autônomos”, explica.

Um fato importante é que o BOD está entre os bancos venezuelanos que ajudaram a reestruturar a dívida pública e a implementar os controles de câmbio. As comissões para essas atividades fizeram chover riqueza sobre os proprietários dos bancos, dizRussell Dallen, sócio-gerente da Caracas Capital Markets, com sede em Miami. “Com Chávez, os donos de bancos na Venezuela tiveram um caminho livre para lucrar”, acrescenta. “E estar a favor do governo foi uma excelente apólice de seguro para que os bancos não lhes fossem tomados.”

Não era sempre que Chávez gostava do que fazia Vargas, diz Lepage, o advogado do banqueiro. Em 2008, o executivo tratou de comprar o Banco da Venezuela SA, o maior do país em depósitos. Deu um adiantamento de US$ 150 milhões. “O presidente Chávez saiu dizendo que Vargas não compraria o Banco da Venezuela, porque este seria adquirido pelo Estado.” O proprietário do BOD ainda trava uma batalha na Justiça para recuperar os US$ 150 milhões, diz o advogado.

Enquanto Chávez vociferava contra os ricos em seu programa de televisão semanal, Vargas gastava em um estilo de vida luxuoso. Em 2005, uma mansão em West Palm Beach foi adquirida por 33,6 milhões dólares através de uma empresa onde o advogado do financista figura como alto executivo. Três anos mais tarde, uma casa em frente ao mar foi vendida por 68,5 milhões de dólares para uma empresa co-dirigida pelo mesmo advogado. Em setembro de 2012, Vargas ganhou um troféu no torneio de polo em Sotogrande, Espanha. Apropriou-se do Ronin, um iate de 58 metros (190 pés) que havia comprado do fundador da Oracle, Larry Ellison, e deu uma entrevista para o site Polo-Line: “Não vão acreditar, mas o polo me dá paz”, disse.

– Conheça o Foro de São Paulo, o maior inimigo do Brasil.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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