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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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A farsa da ‘pacificação’ no Rio de Janeiro

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 02h34 - Publicado em 27 nov 2014, 19h20
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O PM Ryan Procópio estava lotado na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Vila Kennedy, favela da zona oeste do Rio

Em vez de investir gradativamente em poucas e eficazes Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que ocupem por completo o território das ‘comunidades’ com policiais militares experientes e treinados para isso, e que de preferência prendam os bandidos locais, o governo do Rio de Janeiro publicitariamente espalha UPPs cuja presença frequentemente tem apenas a dinâmica da “cabeça de ponte” – o termo militar para descrever a situação altamente instável em que apenas um pedaço do terreno do inimigo foi conquistado -, deixando PMs recém-formados trabalhando em condições precárias à mercê dos ataques de traficantes armados com fuzis.

Para além da exportação de parte dos bandidos para aterrorizar regiões vizinhas como Niterói, São Gonçalo e Nova Iguaçu, o resultado é o aumento da tensão nas ‘comunidades’, extravasada na caça aos policiais por todo o estado, com direito a sequestro, tortura e execução, como ocorreu nesta terça-feira (25) com o PM então de folga Ryan Procópio, um negro de 23 anos lotado na UPP da Vila Kennedy que não serve de instrumento para o avanço da agenda de esquerda, mais preocupada no momento em defender um bandido negro americano morto por um policial branco em legítima defesa. (Ver aqui e aqui.)

Um dia depois, nesta quarta-feira (26), 8 (oito!) PMs foram baleados nas ruas do Rio, em áreas onde há pouco policiamento porque praticamente todos os 10 mil PMs que entraram na corporação nos últimos anos foram jogados em UPPs.

Um dos oito, o soldado Anderson de Senna Freire, cujo carro de patrulha do 41º BPM (Irajá) foi atacado na Avenida Brasil, na altura de Guadalupe, levou um tiro na cabeça e morreu no Hospital estadual Albert Schweitzer. Eis os outros sete:

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– soldado Bruno de Moraes
– sargento Marques
– sargento Divaldo Rodrigues de Oliveira
– subtenente Paulo Araújo da Silva
– subtenente Hélio
– sargento Alexsandro
– sargento Alexandre dos Santos Alves

Até esta quarta, havia registro de 256 policiais (247 PMs) baleados no estado neste ano de 2014. Destes, 73 morreram. Do total de policiais na ativa, 88 estavam de folga e 153 de serviço. E não pense o leitor que os policiais estão morrendo, mas os civis, não. De acordo com o Mapa da Violência de 2014, foram 30 por 100 mil os crimes violentos intencionais no estado em 2013, 157% a mais do que São Paulo, com crescimento de 15% em relação a 2012. Em números absolutos, o Rio passou de 4.241 vítimas para 4.928. Que política de segurança é essa?

Familiares, amigos e colegas de farda de Anderson protestaram com camisas de “Basta!” durante o sepultamento do corpo do PM no Cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita, no final da manhã desta quinta-feira (27), como informou a repórter Roberta Trindade. Por meio de cartazes, eles pediram ao secretário de Segurança do Estado do Rio, José Mariano Beltrame, autorização para “buscar nossos assassinos” e denunciaram como “omisso” o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) – cuja autópsia moral eu já fiz aqui no blog -, decerto um dos líderes da turma dos direitos humanos que, segundo eles, “tem sangue nas mãos”.

Basta PM

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O governador Luiz Fernando Pezão anunciou que mandará para a rua policiais militares que atuam em funções administrativas e que “em breve, mais 1.600 policiais estarão formados”, ou seja: ambos os grupos com pouca experiência e a árdua missão de fazer os bois alcançarem a carroça governamental, enquanto os traficantes brincam com eles de tiro ao alvo.

Na Rocinha, tem havido tiroteios praticamente diários, que aterrorizam os moradores e também podem ser ouvidos em São Conrado e no Alto Leblon, embora a imprensa só tenha dado uma atenção maior ao assunto quando repórteres do Globo foram recebidos a tiros na favela.

Jose-Mariano-Beltrame-secretario-estadual-de-Seguranca-do-Rio-size-598É uma trágica ironia que os repórteres do mesmo jornal que elegeu o secretário de Segurança Beltrame a “Personalidade do Ano” na oitava edição do Prêmio Faz Diferença em 2010 sejam alvejados por traficantes em uma ‘comunidade’ que ele pretendia pacificar. Neste ponto, Beltrame é o Obama brasileiro: incensado como um messias pela imprensa amiga e vencedor de prêmio por sua suposta atuação pela paz com anos de antecedência para alcançá-la.

Em março de 2014, o Ministério Público detectou que caiu sensivelmente o número de investigações policiais no estado nos últimos anos, já que a grande maioria dos inquéritos servia apenas para tratar de flagrantes. A sensação no MP era de que a UPP entrou nas favelas, mas depois não deu o segundo passo para prender os traficantes, sinal de que a criminalidade tem menos a ver com ausência de investimentos sociais e frouxidão das leis do que com falta de vontade política de botar bandido em cana no Brasil.

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Hoje, os números mostram uma tragédia diária no Iraque fluminense, mas a imprensa insiste em esconder, porque, teoricamente, houve também uma sensação de melhora. Ainda, sim, que possa ter acontecido em 2011 alguma melhora, era nítido que, da forma como foi posto em prática, o programa de “pacificação” não demoraria a revelar tragicamente os seus embustes e fragilidades, como avisei em 2010.*

Resta saber quando o ‘Esquenta‘ fará um programa em homenagem a PMs como Ryan e Anderson; e quando a presidente Dilma Rousseff vem bater um papo com seus assassinos.

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* Segue o artigo com que estreei no site Mídia Sem Máscara, mais de três anos antes de estrear na VEJA.

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Mandem a gasolina para o Lula
Felipe Moura Brasil

Eu escrevi no Twitter em 28 de abril [de 2010]: “Depois de avisar gentilmente aos bandidos, polícia de Cabral ocupa 5 favelas da Tijuca. Mas: para qual eles foram agora?”. Ninguém questionava ainda o destino dos narcotraficantes após a instalação sem tiros das UPPs. A imprensa aplaudia a tal Pacificação, como se o nome atribuído a uma ação política se convertesse magicamente em realidade. Sete meses e muitos veículos queimados depois, a imprensa continua sendo a porta-voz do governo. Mas, como no aforismo de Karl Krauss: “Há escritores que já conseguem dizer em vinte páginas aquilo para o que às vezes preciso de até duas linhas”.

Eu gosto de escrever em duas linhas. Se resumisse este artigo à equação Farc + PT + Cabral + Traficantes + Usuários = Guerra “do Rio”, com aspas, eu já ampliaria toda a cobertura jornalística. Gabriel O Pensador, num encontro imaginário com o Capitão Nascimento no calçadão, reclama que não é revistando maconheiro que ele “vai achar os grandes bandidos”, afinal “nós somos vítimas da violência estúpida que afeta todo mundo”. Gabriel O Pensador é uma espécie de Arnaldo Jabor do rap. Um integrante do “sistema” revoltado contra o “sistema”. Ele já pode fundar uma ONG com Wagner Moura, Dado Dolabella, Marcelo D2 e Chico Buarque.

O Brasil só dá alegrias às Farc. Dilma – a musa das selvas colombianas – garantiu a Cabral que vai continuar apoiando o estado no combate à violência, assim como faz o governo Lula. Isto significa que continuaremos neutros em relação aos grupos terroristas que fornecem drogas e fuzis aos nossos traficantes. Neutros nas ideias. Neutros nas fronteiras. Neutros no calçadão. Assim como se absteve em votação da ONU contra o apedrejamento de mulheres no Irã, o governo do PT continuará se abstendo (estou de boa vontade) no combate aos nossos 50 mil homicídios por ano. Lula ordenou “que é para atender o Rio de Janeiro naquilo que o Rio precisar”. É como se o Rio fosse outro país, do qual Lula e Dilma respeitassem a soberania.

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Em Rondônia, o Exército controla o fluxo de drogas na fronteira, até o dia do mês em que o diesel distribuído para as patrulhas diárias acaba. Isso mesmo: o diesel das patrulhas acaba. Os traficantes (e desmatadores) só precisam esperar até o dia 15 ou 18 de cada mês para abastecer o mercado nacional. Como os traficantes cariocas incendeiam carros, ônibus e vans com garrafas de gasolina, eu sugiro que, num gesto simbólico, a polícia de Cabral também se solidarize com Lula e Dilma, doando todas as garrafas apreendidas para abastecer as patrulhas de Rondônia. Se Lula não bebê-las antes, é possível que os bandidos tenham de esperar até o dia 19.

No Rio de Janeiro, eles nem precisam tanto. Uma parte já convive com as UPPs nas favelas, aonde os “pensadores” vão hoje às compras sem medo. A outra, dispensada, brinca de Coringa pela rua. E há uma terceira, que, diante das novas dificuldades, põe a mão na cabeça: “Ah, não vou ser bandido mais não. Dá muito trabalho!”. Mas essa só existe na imaginação dos nossos “artistas” e “especialistas”. José Mariano Beltrame disse que “prender bandido é importante, apreender droga é importante, mas o mais importante é recuperar o território”. É como dizer que comer é importante, beber é importante, mas o mais importante é recuperar a saúde.

Que ninguém se lembre da criminalidade quando a economia vai bem, já é sintoma de um país doente. Que pacificar não signifique fiscalizar fronteiras e prender bandidos (pequenos e grandes), usando as Forças Armadas para recuperar o território, nem quando uma cidade está em chamas, já é sintoma de um país petista. Eu sempre fico um pouco constrangido de dizer em 6 parágrafos aquilo que eu já disse numa única linha sobre o Brasil de Lula, Dilma e Sérgio Cabral: Fique calmo, companheiro. Você não está seguro, mas o seu dinheiro está.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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Veja também aqui no blog: O Brizola do mundo.

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