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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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A comédia do cinismo mundial

Negar, negar, negar... até o Tio Sam chegar

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 23 dez 2016, 14h09 - Publicado em 23 dez 2016, 14h06

Em março e abril de 2015, este blog publicou três crônicas que ironizavam a negação por parte da Odebrecht de qualquer envolvimento com os esquemas de corrupção investigados pela Operação Lava Jato.

Sob os títulos “Entrevista com a Odebrecht” 1, 2 e 3, diálogos ficcionais – mas com base na realidade – entre um repórter e um representante da empreiteira retratavam o contraste cada vez maior entre as informações sobre a participação da Odebrecht e a sua recusa em admiti-la.

O terceiro e último da série fazia troça especificamente do pavor da Braskem diante do desdobramento das investigações nos Estados Unidos, quando finalmente a empresa se viu obrigada a romper o silêncio.

Agora que Odebrecht e Braskem fecharam acordo de leniência nos EUA, e o Departamento de Justiça americano revelou que elas admitiram o pagamento de cerca de R$ 3,5 bilhões em propinas no Brasil e em mais 11 países, reproduzo abaixo aquelas três crônicas em ordem.

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É a comédia do cinismo mundial.

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Lula, Emílio Odebrecht e Marcelo Odebrecht: dos chefes, só Lula ainda insiste em negar ()

Entrevista com a Odebrecht 1 – Se a Odebrecht cair, Lula também cairá? (FMB, 31/03/2015)

– A Odebrecht pagou propina ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque por meio de depósitos nas contas que ele mantinha em nome de empresas offshore do Panamá mas geria em Mônaco?

– A Odebrecht nega.

– A Odebrecht repassava o dinheiro ao petista por meio de uma conta em nome da Constructora Internacional Del Sur Ltda?

– A Odebrecht nega.

– A Operação Lava Jato obteve documentos que comprovam dois pagamentos feitos pela Odebrecht a Duque, em 2009, por meio desse esquema: um de 290 mil dólares, outro de 584,7 mil dólares. O senhor não lembra deles?

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– A Odebrecht nega.

– Mas o doleiro Alberto Youssef disse que era comum a Odebrecht “fazer esses pagamentos (de propina) lá fora, ou ela me entregava em dinheiro vivo no escritório”…

– A Odebrecht nega.

– Segundo Youssef, a Odebrecht “teve grandes contratos na Petrobras, primeiro a Rnest (Abreu e Lima) onde teve o consórcio Conest, onde parte desses valores ela me pagou em reais vivos aqui no Brasil, e parte me pagou em contas no exterior”.

– A Odebrecht nega.

– Veja bem que Youssef deu até o nome dos executivos da Odebrecht que ordenavam o pagamento das propinas: “Marcio Faria, presidente da Odebrecht Óleo e Gás, e o seu Cesar Rocha, diretor financeiro da holding. E pela Braskem o Alexandrino”.

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– A Odebrecht nega.

– Mas ouvimos dizer que Emilio Odebrecht ameaçou Lula e recomendou a César Mata Pires, dono da OAS, que fizesse o mesmo com o petista se quisesse salvar a sua empresa.

– A Odebrecht nega.

– O senhor confirma que, se a Odebrecht cair, Lula também cairá?

– A Odebrecht nega.

– Posso publicar esta entrevista na íntegra?

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– A Odebrecht nega.

– Tudo bem. O senhor gostaria de pedir a sobremesa agora?

– A Odebrecht nega.

– Petit gateau, torta alemã, mil folhas…?

– A Odebrecht nega.

– Senhor, a entrevista já acabou.

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– A Odebrecht nega.

– …

Entrevista com a Odebrecht 2 – Propina e lula frita (FMB, 01/04/2015)

– A Odebrecht usou a offshore Constructora Del Sur para pagar propina a Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras, depositando em uma de suas contas em paraísos fiscais, correto?

– A Odebrecht nega.

– Mas veja bem que Barusco, braço-direito de Renato Duque, entregou aos investigadores da Operação Lava Jato essas cópias dos depósitos, senhor. E, como falamos da primeira vez, eles já tinham cópias dos depósitos feitos pela Constructora aberta no Panamá também para Duque, o homem de José Dirceu.

– A Odebrecht nega.

– Senhor, pelo menos dez depósitos da Constructora Del Sur foram identificados para a conta da offshore Pexo Corporation, registrada por Barusco em 2008, ao longo do ano de 2009.

– A Odebrecht nega.

– Barusco afirmou que conseguiu “identificar o recebimento de quase US$ 1 milhão depositados pela Odebrecht” nesta conta. Para ser mais exato, foram 916.697 dólares referentes a pagamento de propina.

– A Odebrecht nega.

– O delator também disse que o diretor da Odebrecht Rogério Araújo atuava como operador nos pagamentos das propinas.

– A Odebrecht nega.

– Mas Barusco afirmou que “mantinha contato direto com Rogério, pois o recebia com frequência por encontros de trabalhos e às vezes almoçava com ele”.

– A Odebrecht nega.

– Posso dizer na revista que o senhor e eu almoçamos juntos também?

– A Odebrecht nega.

– Aliás, está gostosa essa lula frita, não?

– A Odebrecht nega.

Entrevista com a Odebrecht 3 – O fim do silêncio (FMB, 02/04/2015)

– Hoje o senhor nem se preocupe que eu vim aqui só para comer.

– A Odebrecht nega.

– Nem vou perturbá-lo com perguntas, porque sei que o senhor só vai responder que “a Odebrecht nega” o tempo todo.

– A Odebrecht nega.

– Não se preocupe. Eu adoro comer essa lulinha fri…

– A Odebrecht nega.

– Mas agora que a barra está sujando para a empresa do senhor também nos Estados Unidos, confesso que imaginei o senhor dizendo “Odebrecht denies”.

– …

– É até engraçado: disseram na redação que a Braskem, sociedade entre a Odebrecht e Petrobras, tem também ADRs negociadas na Bolsa de Nova York. Você acredita que eu nem sabia o que eram ADRs?

– …

– Então fui ver no Google: “American Depositary Receipt”, a tal da ADR, “é um certificado de depósito emitido por bancos norte-americanos, representativos de ações de empresas sediadas fora dos Estados Unidos”.

– …

– Por obrigação com o mercado de ações americano, além do brasileiro, qualquer empresa daria explicações sobre o pagamento de propinas, porque, sabe como é, mentir nos EUA é mais complicado, mas deixa quieto. A lulinha está gostosa, vamos dividir mais uma?

– A Braskem…

– Eu sei, senhor. A Braskem também nega. Vai um molho rosé?

– …A Braskem, à luz das alegações de supostos pagamentos indevidos para seu favorecimento em contratos celebrados com a Petrobras, admite à CVM que deu início a um procedimento de investigação interna.

– Jesus! Onde está meu gravador?

– Informa também que contratou escritórios de advocacia no Brasil e nos EUA com reconhecida experiência em casos similares para conduzir a investigação.

– Santo Deus! Um minuto. Cadê o botão? Aqui! O senhor pode repetir, por favor?

– A Odebrecht nega.

– Mas senhor! “À luz das alegações…”?

– A Braskem nega.

– Se eu chamar um americano, o senhor responde?

– …

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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