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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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“Nós estamos enfrentando não é o PT, nós estamos enfrentando séculos de culto da ignorância”

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 04h32 - Publicado em 1 fev 2014, 00h07

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1.
 
Transcrevo do excelente hangout de quinta-feira entre Lobão, Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino o trecho que julgo mais importante, surgido após os comentários sobre as denúncias de Romeu Tuma Jr. contra Lula e o PT, contidas no livro “Assassinato de Reputações“.
 
Volto em seguida para esmiuçá-lo.
 
Olavo: O problema não é a revelação dos fatos. O problema é que não há meios de ação política. Não há canais por onde fazer essas coisas terem as consequências que deveriam ter. (…) Agora o fato é que esses camaradas se apropriaram de todos os meios de ação. Ter o controle dos meios de ação é fundamental em política. O pessoal fala: “Escândalo derruba governo.” Eu digo: não, escândalo aciona um mecanismo de poder que pode derrubar um governo. Mas esse mecanismo não existe. Esse é que é o problema! Como dizem vocês, para usar o termo comum: os caras aparelharam tudo. Então tem que começar a desaparelhar. Tem que começar a botar outras pessoas, a começar pela própria mídia. Tem que começar pela mídia e pela universidade. Vai levar 40 anos? Ora, claro que vai.
 
Lobão: Tem que ter persistência e objetividade.
 
Olavo: Claro. Por exemplo, eu acho que fazer uma “limpa” na esfera intelectual, nós já estamos fazendo. Nós estamos “cortando cabeça” aí que é uma delícia. É só sujeito confessando inépcia e dizendo assim: “Desculpa, eu vou ali cagar, volto já” e não volta mais…
 
Lobão: Passando atestado de idiota pra baixo, né…
 
Olavo: De idiota pra baixo. Todos estão passando. Eles estão apavorados por causa disso. Mas eles têm os meios de impedir qualquer um de agir. O problema é que nós não temos a menor perspectiva de ação política. Nós não somos políticos, não seremos jamais. Nós estamos cumprindo a nossa parte, como jornalistas, como formadores de opinião. Mas para por aí.
 
Lobão: É como na gíria do vôlei: a gente está levantando, mas o cara que tem que dar a “raquetada” não dá.
 
Olavo: Exatamente. Nós já levantamos mil vezes a bola e não vem ninguém. Este é que é o problema. Então nós temos que começar a estimular esse pessoal melhor, quer dizer, político, essa coisa toda… Até hoje eu não entendo por que é que não vêm esses políticos de oposição me pedir um conselho, me pedir uma orientação, eles não vêm. Ficam orgulhosinhos demais. E, no Brasil, se você sabe alguma coisa, todo mundo quer te matar. O certo é não saber, nós todos temos que ter a ignorância nivelada, assim todos nós nos “sentimos bem”. Então é isso. Líder político e líder empresarial têm uma inveja de gente de estudo que é uma coisa de outro mundo! [Até] Milico tem isso, meu Deus do Céu! Então nós estamos enfrentando não é o PT, nós estamos enfrentando séculos de culto da ignorância! (…) É isso que acontece no Brasil: é a democracia do QI. Ninguém pode ter um grau de QI a mais: é proibido.

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2.
 
No best seller de Olavo de Carvalho, idealizado e organizado por mim, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, eleito o melhor livro de 2013 pela Arata Academy, fiz uma seção especial sobre os líderes empresariais, chamada “Dinheiro x Conhecimento”, reunindo os textos do filósofo que descrevem impiedosamente a vaidade suicida daqueles que se acham sábios só porque têm muito dinheiro:
 
“Esse é o perfeito idiota opulento que os intelectuais de esquerda utilizam para subsidiar a ‘revolução cultural’ destinada a preparar a destruição da classe dos idiotas opulentos” (p. 218).
 
Difícil é encontrar um deles com a coragem de reconhecer isso, pois, como escreve Olavo na seção “Manipulação”:
 
“A idéia de ter sido usado inconscientemente por outro mais esperto é tão humilhante que cada um instintivamente a rejeita indignado, sem notar que a recusa de enxergar os fios que o movem o torna ainda mais facilmente manejável” (p. 170).
 
Mas, para compreender a extensão da idiotice opulenta, é preciso passar pelo capítulo “Inveja”, que começa com a perfeita descrição desta velha conhecida brasileira:
 
“A inveja é o mais dissimulado dos sentimentos humanos, não só por ser o mais desprezível mas porque se compõe, em essência, de um conflito insolúvel entre a aversão a si mesmo e o anseio de autovalorização, de tal modo que a alma, dividida, fala para fora com a voz do orgulho e para dentro com a do desprezo, não logrando jamais aquela unidade de intenção e de tom que evidencia a sinceridade” (p. 373).
 
No capítulo “Vocação”, Olavo aponta a origem da inveja no Brasil, mostrando sua relação com o desejo de enriquecimento dos portugueses que fundaram o país:
 
“No Brasil, para agravar as coisas, a população foi constituída sobretudo de três espécies de pessoas: portugueses que vinham na esperança de enriquecer e não conseguiam voltar, negros apanhados à força e índios que não tinham nada a ver com a história e de repente se viam mal integrados numa sociedade que não compreendiam. É fácil perceber daí o imediatismo materialista dos primeiros (o qual, quando frustrado, se transforma em inveja e azedume que tudo deprecia, e que com tanta facilidade se disfarça em indignação moralista contra a corrupção e as ‘injustiças sociais’), e mais ainda a total desorientação vocacional do segundo e do terceiro grupos, brutalmente amputados do sentido da vida e por isto mesmo facilmente inclinados a sentir-se marginalizados mesmo quando já não o são mais” (p. 48).
 
A ganância dos nossos fundadores, descrita por Paulo Prado em “Retratos do Brasil – Um ensaio sobre a tristeza brasileira” como mais um fator para além da luxúria a resultar neste “povo triste”, também já foi resumida por Diogo Mainardi:
 
“O Brasil foi fundado por bodes gananciosos e sem escrúpulos, dispostos a qualquer ignomínia a fim de conseguir acumular a maior quantidade possível de dinheiro o mais rápido possível e depois voltar com os despojos às suas terras de origem. Os ecos dessa gênese saqueadora são ouvidos ainda hoje na vida cotidiana. De fato, mais que os cinquenta mil assassinatos cometidos todos os anos – em 2013 foram assassinadas mais pessoas no Brasil que na Síria, e será assim também em 2014 –, o que realmente desconcerta é a aceitação resignada desse massacre permanente, como se fosse um elemento inevitável da natureza. Mas a ganância descrita por Paulo Prado não produz apenas a ruína social: ela também produz frustração pessoal. Porque quase nunca é recompensada.”
 
É dessa frustração pessoal, repito, que nasce o azedume e a inveja, já satirizada cem anos atrás por Lima Barreto, como mostrei no artigo “O mundo está cheio de todo mundo“.
 
Na seção “Capitalismo x Socialismo” do nosso best seller, Olavo explica o sucesso do ideal socialista no Brasil justamente em função dessa inveja arraigada e generalizada:
 
“Tom Jobim dizia que no Brasil o sucesso é um insulto pessoal. Sem querer, explicava assim a ampla aceitação da ideologia socialista entre nós. Para o cidadão normal de uma democracia, o êxito de quem quer que seja é resultado do talento e da sorte. Para frustrados e invejosos embriagados de mitologia socialista, é o efeito de uma planificação maligna das classes dominantes, o produto diabólico de uma máquina de exclusão social inventada e controlada por astutos engenheiros sociais burgueses” (p. 130).
 
O problema é que aqueles líderes militares, empresariais ou supostamente oposicionistas que têm os meios de ação para conter a exploração esquerdista da inveja geral do povo morrem de inveja, no mínimo, dos verdadeiros homens de estudo que a desmascaram intelectualmente e que podem lhes oferecer o devido engov para curá-los também da ressaca mitológica. Quando esses líderes começam a sentir que algo vai mal, acham, como todo brasileiro, que precisam fazer alguma coisa – e esta coisa nunca é saber o que é que, afinal, não vai bem.
 
São os homens práticos, de que falava Chesterton:
 
“Em nossa época, despontou uma fantasia singularíssima: a de que, quando as coisas vão muito mal, precisamos de um homem prático. Seria bastante mais verdadeiro dizer que, quando as coisas vão muito mal, precisamos de um teórico. Um homem prático é alguém acostumado à mera prática cotidiana, à maneira como as coisas funcionam normalmente. Quando as coisas não estão funcionando, é preciso do pensador, do homem com uma doutrina que explica por que elas não estão funcionando. Enquanto Roma arde em chamas, é errado tocar violino; mas é correto estudar teoria hidráulica.”
 
Se, com uma ou outra exceção, nossos homens práticos com meios de ação não querem saber nem o mínimo de “teoria hidráulica”, só o que nos resta é desmascará-los e satirizá-los também, até que se corrijam ou abram alas para uma geração capaz de apagar o fogo vermelho real, assim como estamos apagando o intelectual (ver meu artigo “Sucesso e Sader-masoquismo“).
 
Como já anotou Olavo:
 
“É inútil tentar convencer quem acha que já sabe. Sem a humilhação preliminar que quebra a autoconfiança postiça e cria o desejo de saber, nada é possível.”
 
Nada mesmo. Não se quebram séculos de ignorância sem psicochoques terapêuticos. É por isso que, terminado o hangout, anotei estas frases singelas no Facebook, sem dúvida o ‘mínimo’ que eu podia fazer a respeito:
 
– A diferença entre o empresário e o militar brasileiros é que o primeiro se acha esperto porque é rico e o segundo porque está armado; e:
 
– O problema do Brasil é que os ricos sentem culpa por ser ricos, não por serem ignorantes.
 
Felipe Moura Brasil – https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
 
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Leia também:
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