Programa Nacional de Residência Pedagógica: mais um factoide?
No modelo de ensino que temos no país, a educação só vai começar a melhorar quando conseguirmos atrair pessoas com bom nível de formação para o magistério.
A residência médica constituiu e ainda constitui um dos elementos da formação de médicos especialistas. Uma rápida análise no site da AMA – American Medical Association mostra como o assunto da formação médica vem sendo debatido nas últimas décadas, e inúmeros outros mecanismos estão surgindo para lidar com os novos desafios da profissão.
De repente, como que saindo da cartola do mágico, o país é surpreendido com o anúncio de “mais um programa do MEC”: a residência pedagógica. Como não há documentos nem registro de debates, cabe especular como foi gestada, nos bastidores, mais essa novidade.
Antes de aprofundar o tema, cabe lembrar que, nos últimos 25 anos, o MEC desenvolveu duas políticas e mais de 40 programas. As duas políticas – financiamento da educação básica e avaliação tiveram algum impacto e sofreram mudanças, nem sempre para melhor. Dos 40 programas, há avaliação de apenas três, e são muito negativas. Dos demais só sabemos os custos. Agora vem mais um programa. Vai funcionar?
São poucas as chances. Primeiro, porque a matéria-prima é muito diferente – em geral, alunos de Medicina situam-se entre os 10% melhores dos vestibulares, enquanto que os alunos de Pedagogia e licenciatura entre os 10% piores. Segundo, porque a natureza do “campo” é muito diferente: o aluno exposto a uma variedade de situações em uma emergência hospitalar tem oportunidade de treinar muito o que já aprendeu e ter feedback imediato – pelo paciente e pelo eventual supervisor ou tutor.
As evidências sobre como aprendemos a ensinar sugerem que o estágio probatório só funciona quando o aprendiz está em mãos de tutores experientes e atua em uma escola onde haja condições adequadas para o ensino, a cargo de bons professores. Onde estão essas condições?
Por falar em Medicina, no início do século XX, um documento chamado relatório Flexner revolucionou o ensino médico nos Estados Unidos. Praticamente todas as escolas de medicina de lá foram fechadas para dar vez ao novo modelo.
O Brasil ainda não aprendeu que não existe bala de prata para consertar a educação. Não aprendeu que é preciso começar do começo. E que, no modelo de ensino que temos, a educação só vai começar a melhorar quando conseguirmos atrair pessoas com bom nível de formação para o magistério. Por que não fazemos nosso relatório Flexner antes de continuarmos com essas invencionices custosas e inócuas?