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Por João Batista Oliveira
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Novos alertas da neurociência para a importância da caligrafia

Domínio da letra cursiva foi abolido das escolas brasileiras, junto com muitas boas ideias e práticas que faziam e ainda fazem sentido

Por João Batista Oliveira 7 jun 2021, 14h45

A pandemia poderá contribuir para um gigantesco avanço em educação se as pessoas que militam no ramo levarem a sério as contribuições da ciência para o ensino. Estudo recente publicado na revista Nature em 26 de março de 2021 traz à luz o relegado tema da caligrafia.

Comecemos pelos fatos: o ensino da caligrafia sumiu das escolas. Em novembro de 2020, ao implementar um programa de alfabetização pela TV (clique aqui e aqui) num município mineiro relativamente próspero, as famílias receberam materiais didáticos que incluíam atividades sistemáticas e cadernos de caligrafia. Nunca haviam visto aquilo – nem como alunos nem como pais. As crianças, naturalmente, se encantaram. E é assim em todo o Brasil.

A caligrafia foi abolida das escolas brasileiras, junto com muitas boas ideias e práticas que faziam e ainda fazem sentido. Ela foi abolida no bojo de um conjunto de ideias equivocadas sobre a função da escola e do ensino. Assim, nossos educadores foram levados a confundir escrever com redigir, a considerar a caligrafia como um ato “mecânico” e, portanto, indigno de ser ensinado. Nessa perspectiva, as letras e o alfabeto constituiriam uma barreira ao entendimento do sentido “global” do texto. Mas, no ensino médio, onde o princípio da realidade vem resistindo ao princípio do prazer, o Enem obriga os alunos a fazer redação à mão, e quem tem prática com letra cursiva se sai melhor.

A importância da caligrafia, especialmente o domínio da letra cursiva, tem a ver com eficiência: a escrita cursiva dá mais velocidade ao registro, pois o lápis não sai do papel. Ela permite a escrita fluente e, uma vez automatizada, permite que o cérebro cuide de outros assuntos, como a ortografia e, em seguida, o sentido das palavras e a escolha das palavras, no caso de uma redação. Mas a escrita cursiva também tem a ver com a ortografia – a recorrência de movimentos contínuos contribui para fixar a forma ortográfica das palavras no cérebro. Tudo isso já é sabido há séculos e confirmado há décadas.

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Recente estudo publicado na revista Nature em 26 de março de 2021 (“High-performance brain-to-text communication via handwriting“) revela o impacto da caligrafia no cérebro. O estudo documenta o desenvolvimento de um instrumento que permite restaurar a comunicação de pessoas que perderam sua capacidade de falar ou mover-se. O novo equipamento foi desenvolvido com base numa interface cérebro-computador que decodifica a atividade mental correlata à tentativa mental de escrever. A complexidade de movimentos envolvidos ao mentalizar a escrita cursiva é captada no cérebro. Como ela é muito maior do que na escrita de letras de forma, isso facilita a aprendizagem da máquina, tornando-a muito mais eficaz do que suas antecessoras. O estudo comprova o que já se sabe: o cérebro aprendeu a ler e a escrever e desenvolveu mecanismos especializados. Esses mecanismos, por sua vez, nos tornaram capazes de novas proezas. Um detalhe importante: se o indivíduo lesionado dominar apenas a escrita da letra de forma ou a digitação não conseguirá fazer o aparelho interpretar seu esforço de escrita.

Durante a pandemia, o Brasil se dividiu em várias dimensões. Em educação, há os que se especializaram em identificar perdas, lamentar a falta de universalização do 5G e a denunciar a proverbial inépcia dos governantes. E há os que se dedicaram a promover ganhos de aprendizagem. A tão desprezada e tão necessária caligrafia é uma das múltiplas habilidades que precisam e podem ser ensinadas e desenvolvidas, inclusive no meio desse pandemônio. E inclusive pode ser ensinada à distância – com a colaboração da família e o uso de materiais e protocolos adequados.

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