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Por João Batista Oliveira
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Como os países desenvolvidos se comportam no PISA: oito lições importantes

O que podemos aprender com o sucesso dos países da OCDE no PISA? Há duas grandes lições: onde queremos chegar e o que fazer para chegar lá?

Por João Batista Oliveira Atualizado em 19 dez 2019, 13h50 - Publicado em 19 dez 2019, 13h47

No 8º post desta série, examinamos oito importantes lições que o PISA nos permite aprender em relação à história da participação dos países da OCDE nesse teste. Como o foco da prova de 2018 foi em Leitura, usamos os dados de leitura – mas a análise não seria diferente se baseada nos resultados de Matemática ou Ciências. As comparações se dão entre a média dos países-membros da OCDE em relação à média geral de todos os países participantes do PISA. Vamos às lições:

Primeiro: quem é bom é bom em tudo. Dos 23 países da OCDE que se situam na média ou acima da média em Leitura, quase todos também estão na média ou acima dela nas demais disciplinas. E dos 13 restantes, cinco situam-se a menos de 10 pontos da média.

Segundo: ao longo de 20 anos de aplicação da prova, a maioria das oscilações se dá para melhor. Países que estavam bem abaixo da média, como Polônia ou Portugal, em duas ou três rodadas chegaram próximos da média. As quedas tendem a ser passageiras – raramente superiores a 20 pontos. Isso sugere que a base desses países era razoável e que medidas pontuais e acertadas podem promover grandes avanços. Por outro lado, países no topo da distribuição continuam surpreendendo com avanços de 20 ou mais pontos. A lentidão de avanços como no Chile, por exemplo, pode sugerir que faltam condições e/ou componentes centrais nas propostas de reforma do país.

Terceiro: a maioria dos países de elevado desempenho tem populações reduzidas – menos de 20 milhões de habitantes. Os que se situam em torno da média já incluem populações maiores – que chegam a 50 e 70 milhões de habitantes. Os Estados Unidos são o único país de grande porte com notas próximas à média (e também a Rússia, mas que não é um país-membro).

Quarto: alguns países não vêm conseguindo avançar na educação. Israel é um deles – a média é relativamente baixa e as diferenças são gigantescas. Certamente não falta conhecimento nem recursos – há barreiras de ordem cultural que impedem a redução das desigualdades. Mas isso também não explica porque Israel apresenta resultados tão medíocres em educação.

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Quinto: nos países de elevado desempenho, mas com algum grau de descentralização, como o Canadá, a diferença de resultados entre as províncias é relativamente pequena – chega a um máximo de 40 pontos na média. Isso não significa que não haja espaço para o Canadá e suas províncias melhorarem seu desempenho – apenas que, por detrás das diferentes estratégias usadas nas várias províncias, parece haver elementos comuns que asseguram um nível de desempenho relativamente elevado em todas elas. O mesmo já não ocorre nos Estados Unidos, onde as diferenças de desempenho entre estados são enormes – como também são enormes as estratégias de reforma educativa usada neles.

Sexto: há grande diferença de desempenho dentro dos países – cerca de 100 pontos. Em Cingapura – país com a segunda maior nota em Leitura –, a diferença entre o melhor e o pior aluno é dessa ordem. Mas o pior aluno tem nota superior à média do Brasil, e, em Cingapura, mais da metade dos alunos tem o inglês como 2a língua. É importante cuidar das desigualdades, mas elas sempre existirão. Se pelo lado da qualidade há grandes vantagens em promover uma elite de altíssimo nível, do lado da equidade pode ser mais viável assegurar um padrão mínimo elevado para todos do que tentar reduzir o tamanho da diferença.

Sétimo: a maioria dos países-membros da OCDE tem entre 20 e 70% dos seus alunos em escolas técnico-profissionais de nível médio. Há diferença de desempenho entre os alunos dessas escolas e os alunos das escolas acadêmicas. Apesar disso, esses países conseguem se manter acima da média do conjunto de países que participam do PISA. E os resultados desagregados dos alunos dos cursos profissionais, em média, são superiores à média da maioria dos outros países. 

Oitavo: em todos os países da OCDE, existem projetos, propostas e uso de tecnologia da educação. Mas em nenhum deles isso é o carro-chefe de seus sistemas educativos.  As tecnologias vão sendo usadas e descartadas – algumas se tornam mais resilientes e úteis -, mas, em nenhum caso, o uso de tecnologia está associado a saltos de qualidade nesses países.

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Que lições podemos tirar desse breve resumo? A meu ver há duas grandes lições: onde queremos chegar e o que fazer para chegar lá. 

Para saber onde queremos chegar, precisamos entender o que esses países fazem em comum para estar onde estão, e não o que fazem de diferente. O que fazem de diferente não tem muito interesse e possivelmente reflete peculiaridades culturais que não dá para imitar. Já o que é comum é possível imitar: são os fundamentos de um bom sistema escolar, que o Brasil insiste em ignorar. Precisamos entender e implementar os fundamentos da escola – e começar de baixo para cima. E também precisamos entender que a diversificação do ensino médio é condição necessária para assegurar um futuro – educacional e profissional – para a grande maioria da população.

Precisamos também procurar entender como esses países – especialmente os que deram saltos de qualidade expressivos – fizeram para promover essas mudanças. E as lições aí são muito claras: as reformas eficazes começam com um elevado grau de estrutura e padronização e reduzido grau de autonomia. Em todos os momentos, há foco no essencial e eliminação de atividades que distraem. Tudo isso acompanhado por avaliações criteriosas. E, ao longo da reforma, há autonomia progressiva e proporcional ao estágio de qualificação dos professores e escolas. Onde isso é feito com rigor os resultados começam a aparecer quatro a cinco anos depois. E onde a reforma avança, os resultados se consolidam.

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