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Por João Batista Oliveira
O que as evidências mostram sobre o que funciona de fato na área de Educação? O autor conta com a participação dos leitores para enriquecer esse debate.
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Biden, Harris e a arte da retórica

Hoje é mais comum vermos discursos escritos para serem lidos, não para serem ouvidos. Não têm o mesmo sabor. A maioria deles não tem qualquer sabor.

Por João Batista Oliveira 10 nov 2020, 16h16

Não tem a força do Discurso de Gettysburg, de Lincoln. Embora curto, naquele tempo era possível escrever frases longas e elaborar o pensamento de forma complexa. A última do curto texto tem nada menos do que 82 palavras. E não dá para tirar nenhuma. Nem acrescentar. O discurso do Biden se dirige à geração Twitter – 106 frases curtas. A colaboração de um batalhão de experientes ghostwriters não tira o mérito.

Neste blog, que trata de evidências em educação, o tema é o discurso em si, a arte da retórica. É um convite à análise do texto e à sua discussão no trabalho, em casa, com adultos, entre adultos e com alunos de todos os níveis de ensino, independentemente de suas convicções. Todos que cultivam a arte da palavra. É pelo uso judicioso da palavra que elaboramos argumentos. O foco é a estrutura, não a substância dos argumentos.

Trata-se de um discurso, um texto oral. Foi pensado antes de ser escrito. Mas foi pensado para ser ouvido antes de ser lido. Hoje é mais comum vermos discursos escritos para serem lidos, não para serem ouvidos. Não têm o mesmo sabor. A maioria deles não tem qualquer sabor. A linguagem oral tem sua força própria e suas nuanças que são generosamente resgatadas no texto em apreço.

As frases são curtas, em sua esmagadora maioria. Frases curtas que acompanham ideias claras, expressas com a força de palavras cuidadosamente escolhidas.

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As ideias são organizadas e apresentadas em sequência: (a) o povo venceu; (b) sou o servidor do povo; (c) a visão da terra prometida na campanha; (d) quem somos – eu, minha família, a vice-presidente, os voluntários, os eleitores de todos os matizes; (e) quem precisamos conquistar –  os que não votaram em nós; (f) o que precisamos fazer primeiro: tempo para abaixar a temperatura e curar as feridas; (g) para isso precisamos encontrar o campo comum em torno de prioridades e desafios imediatos; (h) mas para avançar precisamos ANTES aprender a cooperar como já soubemos fazer no passado. E o resto do discurso é um forte e bem arquitetado apelo emocional para resgatar a alma da América.

O uso das figuras de linguagem é estudado: (a) restorar, reconstruir, fazer-se respeitar;  (b) enumerações com endereço certo (voluntários, companheiros, apoiadores, democratas etc., etc., etc.; (c) repetições bem estudadas como a enumeração das batalhas que vai priorizar – a batalha para controlar o vírus, para construir prosperidade etc. – todas as batalhas enumeradas em termos positivos e não como inimigos a destruir e também a convite para avançar: avante para uma América mais livre e justa, para uma América etc. etc.; (d) transições marcantes (“entendo o desapontamento dos que votaram no Presidente Trump”), e nesse ponto parafraseia o livro do Eclesiastes com uma receita precisa para o movimento de conciliação: tempo para colocar de lado a retórica, abaixar a temperatura, olhar no olho etc. E, claro, (e) o esperado final, com a retomada do tom pessoal e o envolvimento emocional para a chamado à unidade. Que contraste com os improvisos a que estamos acostumados!!!!!

Por falar em contraste, a fala da Kamala Harris se situa noutro patamar. Se falou de improviso, certamente terá sido um improviso amadurecido ao longo de 4 anos. Falou para o público interno. Falou com a força da Emily Bronte do Morro dos Ventos Uivantes. Vento é pouco. A mulher é um furacão.

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