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Por Duda Teixeira
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Por que os ateus são contra a pena de morte?

O ceticismo contra qualquer autoridade pode ser parte da explicação

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 set 2018, 15h58 - Publicado em 23 abr 2018, 13h58

Pelo senso comum, as pessoas religiosas são mais altruístas, mais misericordiosas e, portanto, tendem a ser contra a pena de morte. Será?

Uma pesquisa do Datafolha publicada em janeiro de 2018 concluiu que 57% dos brasileiros apoiam a pena capital. Ao analisar os resultados divididos por religião, o instituto descobriu que os que mais apoiam a punição máxima são os católicos: 63% deles gostam da ideia. Os ateus são os mais reticentes. Apenas 46% defendem a pena.

Mas a pesquisa tem limitações. Em toda a amostra, apenas dezenove entrevistados se revelaram ateus. “Para fazer algum tipo de análise, teríamos que ter pelo menos 30 casos, e ainda assim teríamos uma margem de erro bem alta, com alto grau de imprecisão”, diz Jean de Souza, analista do Datafolha.

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Outros estudos feitos pelo mundo, porém, confirmam que os ateus, ao menos, são menos propensos a apoiar a pena de morte.

Nos Estados Unidos, onde 31 estados aplicam a punição, uma enquete do Gallup descobriu que 62% dos ateus apoiam a pena de morte. Entre os protestantes, que são o maior grupo religioso, o índice é de 66%.

Existem ao menos três teorias para explicar esses resultados. Aí vão elas:

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Os ateus são céticos

“Os ateus tendem a duvidar da autoridade mais do que outras pessoas. São céticos. Portanto, não é surpreendente que uma porcentagem maior deles seja contra a habilidade de o Estado tirar uma vida”, diz o filósofo americano Robert Dunham, diretor do Centro de Informações sobre a Pena de Morte (DPIC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.

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Os ateus são moderados 

Dunham também acredita que pessoas que seguem religiões mais fundamentalistas, sem intermediários para relativizar os textos, têm mais chance de apoiar a pena de morte. “Quanto mais fundamentalista é uma religião, mais autoritária é sua estrutura de valores e maior a probabilidade de seus fiéis apoiarem a pena de morte”, diz.

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O presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA), Daniel Sottomaior, faz coro com Dunham: “O apoio à pena de morte encontra muitos exemplos na Bíblia e no Corão. A sharia, lei islâmica, adota a morte como pena para muitos comportamentos, como adultério, ateísmo e apostasia. Já os ateus, que não possuem nenhuma ligação com ela, estão mais inclinados em fontes seculares para suas leituras morais, incluindo a Declaração Universal dos Direitos do Homem“. 

 

Os ateus têm moral

Muitos religiosos acham que os ateus são imorais. Sem uma divindade ou um texto que lhes sirva de referência, não sabem discernir o que é certo do que é errado. Mas essa capacidade é anterior ao nascimento das religiões, faz parte da evolução da espécie humana e pode ser encontrada até mesmo em bebês.

Segundo o cientista social americano Phil Zuckerman, autor do livro Viver a vida secular (Living the secular life, de 2015), a moral de cada um é construída ao longo da vida a partir principalmente das experiências próprias. O princípio básico que norteia esse processo é o da regra de ouro: tratar os outros da mesma maneira como quer que te tratem.

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Ao contrário da moral dos religiosos, a dos ateus não é absorvida como algo estático que foi dito por uma divindade ou foi impresso em um código de leis. “Para os que não têm religião, a moralidade não é algo como se abster do sexo ou evitar o álcool, ou fazer algo que uma autoridade te diz para fazer, ou não fazer dependendo do medo das consequências de outro mundo. Em vez disso, a moral secular se baseia em não fazer o mal aos outros e ajudar os que precisam, ambos preceitos que nascem da regra de ouro”, escreveu Zuckerman.

Essa moral dos ateus (ou moral secular, nas palavras de Zuckerman) não depende de uma crença e sequer está está ligada ao medo de ser punido depois. Com isso, pode ser até mais forte e duradoura. Zuckerman dá como prova disso que os ateus, em geral, também se colocam contra a tortura, contra os castigos corporais em crianças, contra o militarismo e contra a ideia de que mulheres devem obedecer aos maridos. São menos racistas, mais tolerantes e tendem a apoiar o acolhimento dos imigrantes.

 

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