Versões em vertigem
Ótima para o cinema brasileiro, indicação ao Oscar reacende polêmica sobre documentário
A indicação do documentário Democracia em Vertigem ao Oscar é excelente para o cinema brasileiro, especialmente nessa fase de muitas e bem fornidas de público produções nacionais. A qualidade dos filmes de sucesso de bilheteria pode até ser questionada, mas esse não é o ponto. Até porque há exemplos de sobra de produções internacionais que não se notabilizam pela excelência do conteúdo a despeito de levarem multidões aos cinemas.
O filme de Petra Costa é bem feito e ainda tem a vantagem de não escamotear a parcialidade da visão da cineasta sobre os fatos a partir dos quais ela constrói uma obra de ficção política. Atende a quem compartilha da perspectiva sob a qual ela examina o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Fosse matéria de imprensa escrita seria um editorial e, com opinião, concorda-se ou não.
Duas evidências se destacam dessa indicação. Uma é que, com o aval da Academia, confirma-se que na guerra (no caso, de versões) a primeira vítima é a verdade. A outra diz respeito à realidade. Ainda que ganhe o Oscar, a visão de Petra Costa não muda os fatos: Lula é réu impedido legalmente de disputar eleições, Dilma foi rejeitada para a Senado pelo eleitorado de Minas Gerais e o PT não conseguiu emplacar o relato do “golpe” onde ao partido interessa mais que a opinião do júri do Oscar: o eleitorado brasileiro.