Tropa de choque dá tiro no pé
Depoimento proposto por governistas da CPI ressaltou negligência federal
A convocação do ex-secretário de Saúde do Amazonas foi proposta pela tropa de choque governista na CPI da Covid-19, com a intenção de livrar o governo federal e transferir a responsabilidade pelo caos provocado pela falta de oxigênio no Estado, ao governador Wilson Lima.
O depoimento de Marcellus Campêlo, no entanto, acabou tendo efeito contrário. Ficou clara a negligência estadual e a completa falta de preparo do depoente para a função à qual foi nomeado, mas ficou evidenciada não apenas a incúria do ministério da Saúde, mas também a responsabilidade federal dolosa pelo estímulo ao uso da medicamentos ineficazes e a omissão das autoridades de Brasília na busca por uma solução diligente para salvar vidas.
O que houve no Amazonas, ficou patente no depoimento, foi um compartilhamento de ações deletérias entre Estado e União. O relato de Campêlo corroborou a indiferença em relação à gravidade da situação, a participação ativa da divulgação da suposta e enganosa eficácia da hidroxicloroquina, a opção preferencial por exigências burocráticas em detrimento da atenção para com a saúde pública e a submissão do governador amazonense a pressões que o fizeram recuar da tomada de medidas restritivas para evitar a contaminação.
Recuo este ocorrido dez dias antes da explosão do número de mortes por asfixia e na época comemorado por bolsonaristas, entre os quais um dos filhos do presidente da República.
Se não revelou novidades, a CPI nesta terça-feira, 15, reforçou o roteiro do desmazelo governamental na gestão da pandemia que a comissão de inquérito vem escrevendo e apresentando à população brasileira em detalhes cada vez mais espantosos.