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Nada será como antes

Comparar 2018 a 1989 é crer que o Brasil ficou três décadas parado

Por Dora Kramer Atualizado em 31 jan 2018, 15h22 - Publicado em 5 jan 2018, 06h00

É verdade que comparações facilitam o raciocínio e favorecem o entendimento das ideias a ser expostas. É verdade também que com igual facilidade elas se prestam a equívocos que levam a deduções distantes da tese defendida. Não raro conduzem a conclusões opostas à premissa inicial.

É o caso, por exemplo, da comparação muito em voga entre a eleição de 1989 e a próxima de agora, neste ano. A despeito da aparência inicial de semelhança, nada as unifica, no geral quase tudo nelas é divergente. A começar por um detalhe fundamental: há 29 anos a eleição (a primeira direta presidencial pós-ditadura) foi só para presidente. Um pleito “solteiro” — e, nele, as estruturas partidárias contam muito pouco.

Não estão em jogo, nesse caso, as disputas por governos dos estados, vagas no Senado, cadeiras na Câmara dos Deputados e nas assembleias legislativas. Aquela foi uma circunstância excepcional em decorrência de um acerto de calendário: a Assembleia Nacional Constituinte eleita em 1986 determinou, em 1988, que a retomada da escolha direta para presidente, depois da última, em 1960, antes do regime militar, seria no ano seguinte.

A partir de 1990, ficou estabelecida a rotina de eleições gerais em âmbito nacional a cada quatro anos, intercaladas pelas disputas municipais (prefeitos e vereadores). Daquela data em diante, tornou-se mais difícil, se não impossível, a eleição de alguém por partido irrelevante, conforme havia acontecido com Fernando Collor, a bordo do até então inexistente PRN.

As diferenças, no entanto, não param por aí, muito menos os motivos pelos quais a recorrente comparação é absolutamente imprópria. Na realidade, nada aproxima as duas eleições e tudo as divide, à exceção da quantidade de candidaturas. Em 1989 foram 22; em 2018 não se sabe quantas serão, embora tudo indique que haverá candidatos a mancheias, para todos os gostos. Também, e muito provavelmente, desgostos.

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Acreditar no mito da semelhança entre os dois pleitos equivale a considerar que o Brasil parou no tempo nas três décadas que os separam. O país é outro. Vivíamos sob a égide da inflação (1 972,91% ao ano em 1989) enlouquecida, não tínhamos a consciência coletiva que temos hoje sobre os danos e a amplitude da corrupção, havia a proximidade da ditadura (fator essencial para a modelagem dos pensamentos e sentimentos nacionais).

Tínhamos, além disso, um governo tão inepto e amorfo que o presidente na época, José Sarney, se absteve de participar do processo eleitoral. Não apoiou ninguém, inclusive porque ninguém queria o apoio dele. Hoje também temos um governante impopular, cujo partido, porém, não pretende abrir mão de participar, independentemente das chances de vitória.

A corrupção, segundo as pesquisas, está em primeiro lugar na lista do eleitorado sobre problemas a ser resolvidos com urgência, fator que faz toda a diferença entre aquele Brasil de democracia incipiente e o atual, de República consciente. Um país bastante mais amadurecido, onde dá gosto viver.

Publicado em VEJA de 10 de janeiro de 2018, edição nº 2564

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