Lira derrapa na largada
Investigada na CCJ, mão pesada e aglomeração festiva marcam estreia na Câmara
Em sua estreia na presidência da Câmara, Arthur Lira negou três vezes o discurso feito logo após a vitória. Na teoria, celebrou a democracia interna, pregou autonomia do Parlamento e ressaltou a importância do combate à crise sanitária pedindo, inclusive, um minuto de silêncio em atenção às vítimas da Covid-19.
Na prática, estreou lançando mão pesada sobre a oposição ao tentar excluir adversários da Mesa Diretora, não impôs reparo à indicação de uma deputada investigada no Supremo Tribunal Federal para a Comissão de Constituição e Justiça e comemorou a eleição numa festa para 300 pessoas aglomeradas e, na maioria, sem máscaras de proteção.
Há significados nos três fatos. Primeiro, precisou recuar do veto aos oposicionistas numa demonstração de que sua vontade não será soberana nem pode se sobrepor às circunstâncias políticas do colegiado. Segundo, fez uma concessão de conteúdo simbólico com a indicação da deputada Bia Kicis para a CCJ, pois, além de investigada no inquérito das fake News, é defensora das posições do presidente Bolsonaro na negação da gravidade da pandemia e nos elogios ao regime militar.
Para fechar a cena, a aglomeração festiva em contradição flagrante com as palavras proferidas no discurso autoriza a suspeita de que o que Arthur Lira diz não necessariamente deva ser escrito.