Atestado de malfeitos
CPI, no mínimo, produziu farto material de campanha contra Bolsonaro em 2022
Votado o relatório final da CPI da Covid, nenhuma surpresa se viu. O conteúdo é aquele já conhecido: presidente da República, filhos, ministros e aliados culpados por ações e omissões deletérias no curso da pandemia. Nos votos finais, também o esperado 7 a 4 que permeou os trabalhos da comissão de inquérito.
Descontados exageros retóricos e exorbitâncias de procedimentos aqui e ali, a robustez dos fatos expostos garantiu o êxito da CPI e desmentiu alegações de que as investigações atrapalhariam o combate à crise sanitária.
Ocorreu o contrário. O trabalho dos senadores interditou falcatruas em andamento, obrigou o governo federal a sair do imobilismo e revelou casos que ficariam abafados não fosse a exposição proporcionada pela mexida no vespeiro à vista da nação nas sessões televisionadas.
Agora, no entanto, é que são elas. Uma coisa é o que a CPI sugere que seja feito, outra coisa é o que a Justiça, a polícia e o Ministério Público farão. Não se deve esperar punições breves nessas instâncias.
Portanto, o problema imediato do presidente da República é com o tribunal eleitoral para o qual a CPI já produziu farto material, um verdadeiro atestado de malfeitos que será explorado pelos adversários de Jair Bolsonaro em 2022.
Não é trivial, ou por outra, é inédito alguém entrar numa disputa eleitoral _ notadamente se esse alguém é o presidente _ com um passivo de investigações, acusações e processos que Bolsonaro carregará para a campanha do ano que vem.
De saída, a CPI provocou sérios estragos nas bandeiras de idoneidade e eficiência que o presidente candidato poderá até levantar, mas terá dificuldade para sustentar.