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A polarização não desenha necessariamente mau cenário

Pela régua da burrice unânime, há inteligência em opiniões extremadas

Por Dora Kramer Atualizado em 6 set 2019, 09h56 - Publicado em 6 set 2019, 06h30

Sem querer contrariar as aparências, e já contrariando, o ambiente de opiniões polarizadas que assola o Brasil não desenha necessariamente um mau cenário. Pela régua de Nelson Rodrigues que atribui burrice à unanimidade, seríamos até muito espertos na divisão em 30% que apoiam Bolsonaro, uma terça parte que o repudia e um terço que lhe é indiferente.

Condenada no mesmo tribunal da opinião pública que a pratica com vigor, a chamada polarização tem seus encantos. Serve ao exercício da crítica, essencial às sociedades democráticas, interdita comportamentos autoritários por parte de governantes e ainda dá às pessoas acesso barato ao contraditório.

O lado escuro da coisa é a grosseria, a falta de educação, a simplificação argumentativa, a ausência absoluta de autocrítica. Com muita relutância, devo admitir que faz parte, embora não compartilhe do método nem do palavreado. Digamos que seja o preço a pagar pela vibração do debate, não obstante a pobreza de alegações, tais como as que aludem a uma suposta demência para justificar interrupção de mandato.

Perdem-se tempo e energia por aí. Jair Bolsonaro não é louco. Sua maneira desmiolada objetivamente não o enquadra nos quesitos previstos para impeachment. Por ora, ao menos. Sendo tosco, faz o que aprendeu na vida, como de resto muitos dos que reagem a ele nos mesmos termos, aos palavrões e piadas bobocas. Atribuir grave alteração mental ao presidente dá margem a considerá-lo inimputável.

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O ponto em questão aqui é outro: a divisão radicalizada de opiniões e o efeito de seu contrário, a unanimidade, no público pagante de impostos em relação a seus governantes. É bom não termos divergências? Diria que é ruim. O exercício do antagonismo fortalece os músculos e prepara a sociedade para uma vigilância constante.

Em seus dois governos, Luiz Inácio da Silva praticamente não teve oposição. Jactava-se disso, menosprezando os 5% apontados nas pesquisas como contrários a ele. Foi bom para Lula, mas péssimo para o coletivo, que, se tivesse sido mais crítico no momento adequado, provavelmente teria servido como anteparo à ousada ofensiva dos atos de corrupção que viriam a ser revelados nas investigações do processo do mensalão e da Operação Lava-Jato.

Lula terminou consagrado no quesito aceitação popular, o que tornava objeto de reprovação críticas mais assertivas às bobagens que dizia e/ou fazia (foram muitas, mas no geral aceitas como parte do “jeitão dele”) e, no limite, acabou possibilitando a eleição de Dilma Rousseff, uma inepta de carteirinha, como era possível perceber desde a campanha.

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Da mesma forma era visível que Jair Bolsonaro não estava à altura da Presidência muito antes de desligadas as urnas. A diferença é que ele enfrentou rejeição e enfrenta forte reação, que se faz crescente quanto mais extremo é o seu modo de operar na lógica do confronto a fim de manter acesas as chamas das paixões eleitorais.

E paixão, como se sabe, vai como vem, num átimo fortuito de ilusão.

Publicado em VEJA de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651

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