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Por Coluna
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Padroeiro do Amor

Porque o Dia dos Namorados é festejado no Brasil a 12 de junho, véspera da festa de Santo Antônio – e não a 14 de fevereiro, como em outros países

Por J.A. Dias Lopes Atualizado em 30 jul 2020, 20h51 - Publicado em 5 jun 2017, 11h53

Foi a campanha publicitária de uma loja de departamento de São Paulo, em 1949, que transformou 12 de junho em Dia dos Namorados no Brasil. No resto do mundo, a celebração acontece a 14 de fevereiro. É quando se festeja São Valentim (226-273), martirizado nessa data em Roma, obviamente no início do cristianismo, apesar de certos historiadores católicos suspeitarem que nunca existiu.

Quem escolheu o nosso Dia dos Namorados foi João Agripino da Costa Doria Neto, conhecido por João Dória (1919-2000), publicitário baiano radicado em São Paulo, pai de João Doria Jr., atual prefeito paulistano. Ele era na época diretor vice-presidente da filial da Standard Propaganda na cidade.

A agência tinha como cliente uma loja de departamento, tipo de comércio que os esnobs chamavam “department store”. Era a extinta Exposição Clipper, “o grande magazine da cidade”, cujo endereço mais famoso ficava no Largo Santa Cecília, esquina Sebastião Pereira.

SANTO ANTÔNIO - azulejo
Santo Antônio: invocado pelas mulheres que desejam arrumar namorado ou marido e pessoas que precisam achar objetos perdidos (Azulejo português/Divulgação)

No final da década de 1940, a loja estava precisando estimular as vendas, que se apresentavam fracas na metade do ano. A Standard criava campanhas de sucesso para a Exposição Clipper, conhecida no mercado pelas inovações comerciais.  Uma delas foi a introdução do sistema de venda a crédito no Brasil, logo copiado pela concorrência.

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Apoiado pela Federação do Comércio, João Doria promoveu 12 de junho como Dia dos Namorados, por ser véspera da festa do casamenteiro Santo Antônio de Lisboa, também denominado Santo António de Pádua, solicitadíssimo no Brasil. O popular orago tem 38 municípios do país com seu nome, além de uma infinidade de igrejas e capelas.  “Não é só de beijos que se prova o amor”, dizia o slogan da campanha com a qual a Standard ganhou o prêmio de “agência do ano”. Na década de 1950, os namorados de outras cidades do Brasil passaram igualmente a trocar  presentes a 12 de junho.

João Doria escolheu a data da festa, não a devoção dos namorados a Santo Antônio, que já era antiga. Impossível saber quando começou. Nascido em Lisboa, Portugal, a 15 de agosto de 1195, com o nome de Fernando de Bulhões, ele morreu perto de Pádua, na Itália, a 13 de junho de 1231. Frade de Santo Agostinho, mudou em 1220 para a Ordem de São Francisco, adotando o nome de Antônio. Místico, taumaturgo, escritor, orador sacro, foi um personagem relevante pensamento da Idade Média. Em 1946, o papa Pio XII o proclamou Doutor da Igreja, título conferido pela “importância da sua doutrina” e “alto grau de santidade”.

Séculos depois de ascender à glória dos altares, Santo Antônio foi transformado pelos católicos em patrono do amor e dos casamentos; e também numa espécie da Waze, ou seja, em um tipo de aplicativo de navegação para achar coisas perdidas. Curiosamente, os seus sermões não fornecem pistas desses prodígios. Os devotos também o veneram a cada terça-feira. Reza a lenda que Santo Antônio  recomendou a uma fiel orar na sua igreja nesse dia da semana e a fez alcançar uma graça.

Alguém necessita urgentemente de intercessão junto a Deus? Que faça as suas “trezenas” – treze terças-feiras seguidas de orações e leituras de passagens heróicas  da vida do santo. No dia 13 de junho, que este ano cai numa terça-feira, muitas paróquias franciscanas oferecem aos fiéis o pãozinho de Santo Antônio, bento por um sacerdote, para distribuir aos pobres e devotos. Levado à casa, pode ser consumido logo ou guardado em saco de farinha, “a fim de que nunca falte comida”.

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Segundo a voz do povo, um grupo de miseráveis foi pedir pão no convento onde o santo se encontrava. O frade que o atendeu se negou a dar o alimento. Os poucos pães disponíveis estavam reservados para a refeição dos religiosos e não haveria mais tempo para preparar substitutos. Santo Antônio ouviu a conversa e, sendo o padre-provincial, ordenou ao frade padeiro: “Dê pão aos pobres que Deus proverá”. Os pedintes mataram a fome e partiram. Quando os frades entraram no refeitório, encontraram cestos  repletos de pães quentinhos. A história apresenta variações, porém todas evidenciam a riqueza da vida apostólica de Santo Antônio.

Mas qual seria o motivo que o fizeram virar padroeiro dos namorados? Segundo a tradição, quando vivia ele ajudava as mulheres com dificuldades para encontrar maridos, providenciando dote para o casamento, o bem que precisavam dar aos parceiros na ocasião em que se uniam a eles. Outra explicação vem de uma lenda portuguesa do século 17.

Uma mulher que buscava marido, desesperada pela falta de resposta às súplicas feitas diante da imagem de Santo Antônio, atirou sua estatueta pela janela. Naquele momento, passava na calçada um cavalheiro.  Atingido na cabeça pela imagem, ele a apanhou e foi devolvê-la furioso à agressora. Os dois se apaixonaram e casaram.

No interior do Brasil, especialmente no Nordeste, Santo Antônio muitas vezes é torturado pelas casadoiras aflitas. Tiram-lhe dos braços o Menino Jesus com o qual é representado iconograficamente – os devotos acreditam que Cristo aparecia para ele como criança de colo; arrancam seu resplendor e colam uma moeda no lugar; viram a imagem do santo de cabeça para baixo; amarram-lhe uma corda no pescoço e a mergulham em um poço ou balde com água, de onde só retiram alcançada a graça.

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E dê-lhe que te dê-lhe a reza poderosa e um pouco divertida, recolhida  por Ataliba Nogueira, no livro “Santo Antônio na Tradição Brasileira”(Editora Biblioteca Pátria-Nova, São Paulo,  1933): “Meu Santo Antônio querido,/Eu vos peço, por quem sois;/Dai-me o primeiro marido,/Que o outro arranjo depois./Meu Santo Antônio querido,/Meu santo de carne e osso,/Se você não me der marido,/Não tiro você do poço.”

Enfim, por que Santo Antônio ajuda a achar objetos perdidos? No “Dicionário do Folclore Brasileiro” (Global Editora, São Paulo, 2001), Luís da Câmara Cascudo atribui esse prodígio a um processo de convergência semântica. “Como quer que seja, o milagre veio de França”, afirma o historiador, antropólogo e mestre do folclore nacional, apoiando-se em frase de outro autor. Os pescadores gauleses dos séculos 15 não o chamavam de Saint-Anthoine de Padoue (Santo Antônio de Pádua), como seria natural, mas “Saint-Anthoine de Pave”. Ora, a palavra francesa “épave” significa “destroços” ou “coisa perdida”.

Com essa transladação linguística, o Doutor da Igreja virou localizador das “épaves”, ou seja, dos restos de naufrágio. A seguir, tornou-se capaz de achar qualquer coisa sumida. Na verdade, a capacidade de encontrar objetos extraviados e a de atuar como cupido se entrelaçam. Como sublinha   Câmara Cascudo, muitas vezes encontrar o amor também é “um milagre da paciência incrível”.

 

PÃOZINHO DE SANTO ANTÔNIO – Rende cerca de 16 unidades

INGREDIENTES

  • 1 envelope de fermento biológico seco
  • 1/2 xícara (chá) de açúcar
  • 4 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • 1 e ½ xícara (chá) de leite morno
  • 1 colher (chá) de sal
  • 2 ovos
  • 50g de manteiga macia, em temperatura ambiente
  • 1 gema diluída em 2 colheres (sopa) de água (para pincelar)
  • Manteiga para untar a assadeira

PREPARO

1. Em uma tigela grande, misture o fermento, 1/3 do açúcar, 1 xícara da farinha e o leite. Espere 10 minutos, até espumar.

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2. Junte o sal, os ovos, o açúcar restante e a manteiga. Aos poucos, vá misturando a farinha que sobrou.

3. Trabalhe a massa até que fique macia e se solte das mãos. Cubra com um pano limpo e deixe levedar por 1 hora, até dobrar de volume.

4. Divida a massa em 16 partes iguais, molde cada uma em pequenas bolas e coloque-as em uma assadeira untada com manteiga, deixando uns 3 centímetros de espaço entre elas.

5. Pincele com a gema e deixe repousar por mais 1 hora, até dobrar de volume.

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6. Quando faltarem uns 10 minutos para completar o tempo, preaqueça o forno a 180ºC (médio) e asse por cerca de 20 minutos, até que os pãezinhos estejam bem dourados.

7. Retire do forno, aguarde 10 minutos e sirva.

 

Receita de Heloísa Bacellar, chef e dona do restaurante Lá da Venda, em São Paulo, SP

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