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Bacalhau de Consoada

Comemore o Natal com uma receita do peixe salgado e desidratado que os portugueses introduziram na ceia da festa e na própria alimentação humana

Por J.A. Dias Lopes Atualizado em 18 dez 2018, 16h26 - Publicado em 18 dez 2018, 16h20

Ao contrário do que acreditam muitos dos cerca de 2,3 bilhões de cristãos existentes no mundo, divididos em três ramos principais – católicos, protestantes e ortodoxos – , Jesus não nasceu a 25 de dezembro. Aliás, o Novo Testamento não fala nada a respeito. Jesus igualmente não veio ao mundo em dezembro, inverno no hemisfério norte. Analisando pistas encontradas no Novo Testamento, estudiosos bíblicos sugerem que teria nascido no início do outono. Também não foi no primeiro ano da era cristã. Pode ter sido entre 6 e 4 a.C. Essas questões, porém, não inquietam a fé das pessoas. Para elas, o importante é ter um dia do ano voltado à figura central do cristianismo, o Messias anunciado no Velho Testamento.

Portanto, 25 de dezembro é uma data simbólica. Foi oficializada em 350 d.C. pelo papa Júlio I. O cristianismo precisava ofuscar a festa pagã do solstício de inverno, quando o sol atinge a maior distância angular em relação à linha do equador, que marca o início do inverno no hemisfério norte, por volta de 22 de dezembro. Durante o fenômeno astronômico, os pagãos adoravam Mitra, o deus do sol. Em Roma, a festa se chamava Festival do Sol Invicto. Entronizado no lugar de Mitra, Jesus passou a ser “a luz espiritual que ilumina a humanidade”.

Desde então, seu aniversário é comemorado a partir do pôr do sol do dia 24 de dezembro. Nesse caso, os cristãos seguiram a tradição hebraica, que considera o pôr do sol já o começo do dia seguinte. O que isso significa? Para os judeus, o dia se inicia com o crepúsculo vespertino. Acontece por exemplo no Shabbat, o “sábado de paz” hebraico.  O dia de descanso semanal começa no pôr do sol de sexta-feira e termina no pôr do sol de sábado.

Daí um dos significados da tradição da Vigília do Natal que os católicos realizam no crepúsculo vespertino de 24 de dezembro e cujo momento culminante é uma missa. Originalmente, era oficiada à meia-noite, a hora em que Jesus nasceu, segundo a crença popular. Hoje, a liturgia pode ser realizada mais cedo, para conforto dos fiéis. Na maior parte do mundo, chama-se Missa da Noite de Natal ou Missa da Meia Noite. Nos países de língua portuguesa e espanhola, prefere-se a denominação Missa do Galo. Quando iniciada à meia-noite de 24, termina uma hora depois, a 25 de dezembro.

Há diferentes explicações para seu nome. As mais repetidas são que no século V o papa Sisto III mandou celebrar o nascimento de Jesus “ad galli cantus”, ou seja, “à hora que o galo canta”; que a ave cantou à meia-noite no dia em que Jesus nasceu; que o galo foi citado oito vezes na Bíblia, uma das quais quando Jesus previu que, ao ser preso pelos romanos, São Pedro negaria conhecê-lo antes que o galo cantasse na manhã seguinte; e daí por diante. Antigamente, no interior de Portugal e do Brasil, levava-se um galo à igreja e se torcia para ele cantar durante a cerimônia. Se isso acontecesse, era sinal de boas colheitas no ano vindouro.

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Nos primeiros tempos, as vigílias eram dias de jejum. Na de Natal, os fiéis jejuavam e se abstinham de carne. Só interrompiam a penitência na ceia familiar que festejava o nascimento de Jesus, habitualmente servida em suas casas depois da Missa do Galo. Os portugueses ainda hoje chamam essa refeição familiar de consoada, palavra vinda do latim “consolata” e “consolare”. A designada já foi usada em alguns lugares do Brasil, mas o nome desapareceu, restando apenas a mesa reforçada da ocasião e a tolerância dos excessos gastronômicos. Virou ceia de Natal. A seguir, as pessoas se confraternizam e trocam presentes.

A consoada tem um prato obrigatório em Portugal: o bacalhau cozido com todos. Não por acaso o chamam ainda bacalhau de consoada. É preparado especialmente no Norte e no Centro do país. Incorpora-se ao cardápio festivo o polvo cozido ou enriquecendo o arroz. No Norte, come-se igualmente frango capão, que vem sendo substituído pelo peru. No Sul, começa-se a saborear borrego (cordeiro) assado ou mesmo ensopado. A nível nacional, existe fartura de doces: filhoses, aletrias, sonhos, bolinhos de jerimum (abóbora) e de arroz, rabanadas, broas, milhos doces, pudins e o ubíquo bolo-rei.

A tradição do bacalhau, porém, é a mais forte da consoada, pois se reporta à antiga abstinência de carne das vésperas do Natal. As comunidades portuguesas no Brasil, sobretudo a do Rio de Janeiro, não deixam de ter na ceia um prato generoso com esse delicioso peixe salgado e desidratado. Sendo peixe, o bacalhau toma o lugar da carne, alimento outrora considerado “capaz de excitar a sensualidade, fonte e motor da concupiscência”, como lembra o espanhol L. Jacinto Miranda, no livro “Comer Como Dios Manda” (Ediciones Destino, Barcelona, 1999).

Mas há uma ressalva a fazer. Bacalhau não é peixe, porém o resultado de um processo de salga e desidratação de cinco espécies marinhas que podem ser vendidas com esse nome. Elas é que vão originar o produto. Como receita para a ceia natalina deste ano, sugerimos uma invenção portuguesa: o bacalhau com todos ou da consoada. É uma das mais equilibradas e saborosas receitas com esse peixe – perdão, ingrediente – capturado nas águas frias do Canadá e do Mar da Noruega, teoricamente introduzida pelo povo lusitano na mesa de Natal e na própria alimentação humana.

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BACALHAU COM TODOS

Rende 10 porções

INGREDIENTES

.10 postas de bacalhau da Noruega (passe as postas em água corrente e coloque-as de molho em água fria, com a pele para cima, por cerca de 24 a 48 horas, trocando a água de vez em quando)

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.400g de batatas em pedaços

.250g de cenouras em pedaços

.200g de grão-de-bico cozido

.600g de couve portuguesa rasgada em pedaços

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.10 ovos cozidos (duros)

.4 dentes de alho picados

.130g de cebola picada

.10ml de vinagre de vinho branco

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.Azeite extravirgem de oliva para regar o bacalhau

.Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

PREPARO  

1.Em uma panela grande, com água temperada com sal, cozinhe as batatas e as cenouras, cuidando para que não fiquem muito cozidas. Incorpore as postas de bacalhau, a couve, o grão-de-bico e ferva por cerca de 3 minutos, aproximadamente. Ajuste o sal e polvilhe com um pouco de pimenta-do-reino.

2.Descasque os ovos.

  1. Retire as postas, tempere-as com alho, cebola e vinagre de vinho branco.
  2. Sirva o bacalhau com as  batatas, as cenouras, o grão-de-bico,  a couve e os ovos.  Regue com o azeite.

Receita preparada pelo chef português Vitor Sobral

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