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Adorável vagabundo

O mundo não esquece do filme no qual Charles Chaplin, no papel de Carlitos, comeu os cadarços das botinas simulando ser spaghetti

Por J.A. Dias Lopes Atualizado em 30 jul 2020, 20h37 - Publicado em 3 jan 2018, 15h59

Passaram-se quase desapercebidos os quarenta anos da morte do britânico Charles Chaplin (1889-1977), genial diretor, produtor, roteirista, ator, dançarino, humorista e empresário do cinema, além de compositor e escritor. Pela sua contribuição ao cinema e a importância da obra deixada, ele merecia mais lembrança. Qual a razão de uma evocação esmaecida? Terá sido porque os quarenta anos caíram em 25 de dezembro e havia um aniversariante infinitamente mais importante no dia?

Dominando a arte da mímica, da expressão corporal, desempenhando o papel do vagabundo Carlitos, Charlot ou Carlito (como o chamavam nossos avós brasileiros), Chaplin foi um dos construtores da arte e da técnica do cinema. Apresentou-se em 81 filmes curtos e longos, que combinaram humor e drama. O primeiro foi em 1914; o último é de 1967.

Usando chapéu-coco, calças bufantes e sapatos rotos maiores do que o necessário, empunhando    uma bengala, tendo um bigodinho preto e  o coração mole de criança, ele personificou um impagável vagabundo. Nesse papel, viveu situações tragicômicas que divertiram e emocionaram milhões de pessoas pelo mundo.

O diretor, produtor e ator que encarnou Carlitos nasceu em Londres, onde passou a infância nas ruas boêmias e sujas de Kennington Road. Esse período marcante contribuiu para desenvolver sua ideologia vagamente socialista. O adorável vagabundo Carlitos não ligava para nada, inclusive para a comida, exceto quando necessitava matar a fome. Aí, virava-se como podia. Na comédia “Em Busca do Ouro” (“The Gold Rush”, 1925), entretanto, teve a refeição mais engraçada da história do cinema.

O filme gira em torno da Corrida do Ouro do Rio Klondike, iniciada em 1896 na gelada e hostil região de Yukon, ao noroeste do Canadá e a leste da fronteira com o Alasca. Carlitos é um dos milhares de forasteiros que tentaram a sorte como garimpeiro. Para rodar o filme, Chaplin se inspirou em reportagem sobre a Corrida do Ouro,  que leu fascinado. Descrevia a aventura arriscadíssima das cerca de 100 mil pessoas que escalaram a montanha coberta de neve, enfrentando o frio e a fome, cobiçando riqueza. Chaplin reproduziu essa imagem monumental na abertura da fita, com uma legião de 600 extras. O filme foi rodado na Serra Nevada, cordilheira entre a parte oriental da Califórnia e o vizinho estado de Nevada; e em Hollywood, distrito da cidade de Los Angeles.

O talento de Chaplin se manifesa   espetacularmente na sequência em que Carlitos, enfrentando a hostilidade da natureza, encontra refúgio em uma cabana na montanha. Passa a dividir a precária habitação com outro aventureiro, o grandalhão Jim McKay, conhecido como Big Jim, vivido pelo ator Mack Swain. As barrigas de ambos roncavam, sem ter nada que pudesse apaziguá-las. Então, Carlitos retirou a botina preta do pé, enfiou na panela e levou ao fogo.

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Depois, colocou-a no prato, tendo o cuidado de acrescentar, com uma concha, o “caldo” do cozimento. Dividiu a botina em porções. A parte que cobria o alto do pé e o tornozelo ficou com Big Jim; a sola repleta de pregos coube a Carlitos. O mesmo acontece com o cadarço, que o vagabundo e aventureiro dispõe em um pratinho. Na imaginação de Carlitos, aquele cordão surrado se converte em saboroso spaghetti, que ele enrola com o garfo e leva à boca.

Acossado pelo estômago, chupa prazerosamente os pregos, como se fossem iguarias. Big Jim, sem a igual elegância, faz o mesmo com a porção que lhe cabe. Mas segue cutucado pela fome. Então, Carlitos propõe cozinhar a outra botina, porém Big Jim recusa, sendo logo acometido de uma perigosa alucinação. Enxerga Carlitos como uma gorda e apetitosa galinha carijó. Tenta caçá-la para comer, mas não consegue.

A cena foi inspirada na notícia, também lida por Chaplin, a respeito das agruras de um grupo de aventureiros que se viu obrigado a comer os sapatos, roupas e cadáveres de amigos na aventura da Serra Nevada. Impressiona a sincronia dos movimentos do frango e de Carlitos quando volta a aparecer na forma humana – ele mesmo se vestiu de galinha. Outra sequência sensacional é a cena de suspense na qual a cabana desliza no gelo e fica dependurada no penhasco, cai-não-cai.

Na prática, Carlitos e Big Jim foram filmados comendo de verdade a botina e seus cadarços. Repetiram a cena várias vezes, até a perfeição. A botina e os cadarços não eram de couro e tecido. O grande diretor, produtor e ator encomendou duas dúzias de sapatos comestíveis, rigorosamente idênticos. Foram moldados por um confeiteiro italiano, que usou ingredientes do seu ofício. Em vez de couro e tecido, misturou xarope de alcaçuz ou liquirizia, arbusto da família das leguminosas; mais açúcar e a resina natural de acácia. Um ator do filme provou e garantiu que botinas e cadarços estavam “uma delícia”.

A fim de alimentar centenas de extras, Chaplin mandou instalar uma cozinha atrás das câmeras, ou seja, junto às filmagens. O chef nascera igualmente na Itália. Ali, sim, comeu-se de verdade. O problema era muitas vezes se tratar de prato único. Mas essa monotonia não parece ter sido levada em conta. “A fome é a melhor cozinheira do mundo”, diz o provérbio. Certo, mas o prato também era delicioso e recebeu o nome de Spaghetti das Montanhas, a ponto de ser saboreado até pelos devoradores de falsas botinas.

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RECEITA

SPAGHETTI DAS MONTANHAS

RENDE 4 PORÇÕES

INGREDIENTES

.100g de manteiga

.1 cebola grande bem picada

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.4 tomates grandes e maduros, sem pele, bem picados

.1 colher (sopa) de alfavaca em pó

.1/2 colher (chá) de orégano

.200g de spaghetti

.4 ovos ligeiramente batidos e temperados com sal e pimenta

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.200g de queijo ralado

.Sal e pimenta-do-reino moída a gosto

PREPARO

1.Leve ao fogo médio uma panela grande, de preferência de barro. Quando estiver quente, coloque a manteiga.

2.Junte a cebola e misture bem, até dourar. Adicione os tomates e tempere com a alfavaca, o orégano, o sal e a pimenta-do-reino. Misture bem e deixe por alguns minutos no fogo, para os temperos se mesclarem.

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3.Cozinhe a massa em abundante água fervente com sal, mexendo de vez em quando com um garfo grande . Escorra quando estiver al dente.

4.Junte a massa à panela com o molho quente (fora do fogo) e, com o garfo, misture rapidamente.

5.Incorpore os ovos previamente batidos e temperados com sal e pimenta. Misture mais uma vez, delicadamente, para que cozinhem por igual, no calor da massa.

6.Polvilhe com o queijo ralado e sirva imediatamente.

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