Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Dias Lopes Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Curiosidades e novidades da gastronomia universal. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A bênção, São Jorge

Apesar de ter o nome retirado do calendário litúrgico católico em 1969, a devoção ao "santo guerreiro" continua fortíssima

Por J.A. Dias Lopes 25 abr 2018, 00h13

Patrono de Portugal, Inglaterra, Geórgia, Lituânia, Sérvia, Montenegro, Etiópia, Barcelona, Moscou, Beirute e do S. C. Corinthians Paulista, São Jorge foi festejado em todo o mundo na segunda-feira passada, dia 23/4, data do seu martírio. Católicos, ortodoxos, anglicanos e adeptos das religiões afro-brasileiras o veneram. Na umbanda, associam-no a Ogum, o orixá do ferro e da guerra; no candomblé, a Oxóssi, o orixá das matas e da caça. A iconografia o apresenta montado em um cavalo branco, usando armadura, esporas, capa vermelha esvoaçante, espada na cintura e cravando uma lança no dragão da maldade.

“Santo guerreiro”, teria poderes miraculosos. Afastaria a inveja, as traições, o chamado mau olhado, as energias negativas nas quais tanta gente acredita, as suspeitas de feitiço e nos protegeria das perdições em geral. O dragão que ele ataca representa demônio. São Jorge nasceu no século III, na região histórica da Capadócia, que compõe a Turquia moderna. Mudou para a Palestina, onde se tornou soldado de cavalaria do Império Romano e, por defender os cristãos, foi decapitado em 303 durante as perseguições feitas aos seus irmãos pelo imperador romano Diocleciano.

Curiosamente, São Jorge só passou a combater o dragão da maldade na Idade Média, oito séculos depois do seu martírio, por influência de uma lenda. Atravessando uma terra de pagãos, o santo teria encontrado uma moça vestida de noiva, que caminhava sozinha na praia. Intrigado, aproximou-se dela. “Fuja, cavaleiro, ou o dragão também o matará”, gritou a moça. Apesar de ser filha do rei que governava a cidade vizinha, ela fora sorteada para ser devorada por aquele animal horrendo, com garras de leão, asas de águia ou morcego, de bafo insuportável, que vomitava fogo. O rei não conseguiu impedir o sacrifício da filha. Todos os anos uma jovem da cidade era sorteada para morrer. Caso contrário, o dragão exterminaria sua população sem piedade.

São Jorge ignorou a advertência e retrucou à moça: “Deus proíbe um homem fugir quando uma donzela está em perigo”. Então, avançou sobre o dragão, que lhe partiu a lança com os dentes, deu-lhe uma violenta pancada com a cauda e o derrubou do cavalo. Mas o santo conseguiu desembainhar a espada e cravá-la debaixo da asa do monstro fabuloso. São Jorge mandou a moça puxar o dragão até a cidade. A população recebeu os três apavorada. Na praça local, o “santo guerreiro” desferiu o golpe mortal naquele ser abominável e explicou: “Fiz isto para demonstrar o poder de Deus e anunciar-lhes a verdadeira fé”.

Os cruzados – integrantes das expedições militares que entre os séculos XI e XIII partiram da Europa Ocidental em direção à Terra Santa com o intuito de tomá-la dos muçulmanos – espalharam internacionalmente a devoção a São Jorge. Acreditavam que ele os ajudou em 1098, na conquista de Antioquia, no sudoeste da Turquia. Os ingleses já o cultuavam desde o século VIII. Mas os responsáveis pela consolidação da fé no santo seriam os cruzados retornados da Terra Santa.

Continua após a publicidade

Soldados ingleses que ajudaram D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, na conquista de Lisboa, em 1147, fizeram o mesmo no solo lusitano. Consolidada a vitória, o soberano transformou em sua residência a cidadela mourisca do alto da colina que domina a cidade, chamando-a de Castelo de São Jorge. D. João I (1357-1433), o fundador da dinastia de Aviz, converteu o santo em patrono nacional. Desde o século XIV sua imagem é conduzida pelos fiéis na procissão anual de Corpus Christi, expressão latina que significa Corpo de Cristo.

Luís da Câmara Cascudo, o grande pesquisador das manifestações culturais brasileiras, conta no “Dicionário do Folclore Brasileiro” (Global Editora, São Paulo, 2001) que a tradição chegou ao nosso país com os portugueses. Por muito tempo, em muitas cidades brasileiras, na festa de Corpus Christi, “a figura de São Jorge, montando um cavalo branco e cercado de aparato militar, era o maior centro de interesse”. Cascudo acrescenta que, em São Paulo, a tradição se manteve até 1872, “quando, desequilibrando-se, a imagem caiu sobre um soldado, matando-o”.

Nunca faltou comida na festa do santo. Na Inglaterra, são preparados doces, um dos quais se chama trifle. Trata-se de uma sobremesa à base de pão de ló ensopado em vinho fortificado e licoroso. Serve-se em taça transparente, com camadas de gelatina, amoras, framboesas ou morangos e creme de leite, finaliza-se com uma camada de fruta fresca, amêndoas torradas e nata batida ou chantilly.

Em Portugal, a mais conhecida das preparações alusivas ao santo se encontra no arquipélago dos Açores, onde há uma ilha com o nome dele. São as Espécies de São Jorge, rosquinhas que incorporam especiarias, com pequenas frestas por onde se vê o recheio. No Brasil, faz-se no interior do Nordeste os Biscoitos de São Jorge. Um dos ingredientes é o amendoim. Uma variação são os antiquíssimos Biscoitos de Nata, bastante populares em Minas Gerais, muitas vezes comida votiva ao santo. Não leva amendoim.

Continua após a publicidade

A umbanda e o candomblé homenageiam São Jorge do mesmo jeito. Cada um desses sincretismos introduzidos no Brasil pelos escravos tem comidas especiais. Um dos alimentos que os umbandistas, por exemplo, oferecem a Ogum/São Jorge é o amendoim. Os demais são as frutas, ervas e pescados: manga espada, o inhame cozido e coberto de mel, o inhame assado nas brasas regado com dendê e o peixe de mar assado. Conforme os devotos, o orixá do ferro e da guerra também gosta de cerveja branca.

Em 1969, o papa Paulo VI reformou o calendário litúrgico católico, o elenco anual de festas, solenidades e cerimônias, e baniu o nome de São Jorge, tornando opcional a devoção a ele. O motivo seria não haver prova definitiva da sua existência, embora as relíquias do santo estejam guardadas na igreja que lhe é dedicada em Lida, Israel. O templo foi erguido por ordem do imperador romano Constantino I. Os fiéis do mundo inteiro ficaram inconsoláveis. Nem precisavam reagir assim. O “santo guerreiro” continuou a ser cultuado pela mesma força que o elevou à glória dos altares: a fé pura, simples e autêntica do povo. No Brasil, o apreço a São Jorge continua fortíssimo, louvam-no da literatura de cordel à música popular, como no emocionante samba Ogum, gravado por Zeca Pagodinho e Jorge Bem Jor:

RECEITA

BISCOITOS DE NATA

Continua após a publicidade

CERCA DE 20 UNIDADES (CONFORME A MODELAGEM)

INGREDIENTES

.1 copo de nata (use como medida um copo americano, de 200ml)

.2 copos americanos de Maizena

Continua após a publicidade

.1 copo americano de farinha de trigo

.2 colheres (sopa) de manteiga ou margarina

.1 colher (sopa) de fermento em pó (o que se usa para bolos)

.1 copo americano de açúcar

Continua após a publicidade

.1 pitada de sal

PREPARO

1.Amasse muito bem todos os ingredientes, até obter um composto homogêneo e muito macio.

2.Modele os biscoitos de preferência em formato de rosquinhas.

3.Coloque-os em uma assadeira e leve-os ao forno médio, preaquecido a 180°C, por cerca de 20 minutos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.