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Por Laryssa Borges
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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Voluntário relata ‘cheiro de queimado’ e temor de AVC

Pedro Monteiro Sevante é voluntário da vacina experimental do grupo Johnson & Johnson e por dias sentiu que o mundo cheirava a uma grande lareira em chamas

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 dez 2020, 11h36 - Publicado em 2 dez 2020, 11h27

2 de dezembro, 11h25:  Pedro trabalha em uma fábrica de chocolates. Imagine você o cheiro de um ambiente desses. O adocicado das frutas prestes a virar geleia, os caldeirões repletos de cacau, as castanhas sendo torradas antes de virar cobertura de tortas. Pedro não percebia nada disso. Parecia que o mundo exalava o aroma de lenha na fogueira. No trabalho, ele andava de um lado para outro para ver se não havia mesmo uma panela esquecida no fogo e que agora tinha virado carvão. Não, não havia. Nenhum dos outros funcionários sentia o que estava vivenciando. Até a mulher dele cheirava a queimado. Pedro Monteiro Sevante, de 39 anos, é, assim como eu, voluntário da vacina experimental do grupo Johnson & Johnson. O cheiro de fogueira foi o mais importante efeito colateral que teve desde que recebeu a dose de testes do imunizante no dia 19 de novembro no Rio Grande do Sul.

Pedro chamou a experiência de “cheiro imaginário”. Assim como eu e todos os voluntários que se inscreveram no estudo clínico da Janssen-Cilag, ele teve de preencher diariamente, na primeira semana, tudo o que estava sentindo. Se havia febre, dor no corpo, mal-estar. Nada digno de nota, mas o cheiro de uma lareira em chamas o acompanhava 24 horas por dia. Distúrbios sensoriais como o dele não estão na lista dos efeitos colaterais mais comuns em voluntários que recebem testes da vacina anti-Covid. Mas já há estudos que relacionam alucinações olfativas a indicativos de que uma crise de enxaqueca se aproxima. São casos raros, mas existem. Pedro pensou no pior.

“Cheguei em casa e disse para minha mulher que podia estar tendo um AVC. O cheiro não ia embora”, disse ele ao blog. Em uma rápida procura em sites de busca, encontrou informações de crianças infectadas com Covid, mas assintomáticas, relatando o mesmo cheiro de queimado. E se ele estivesse contaminado sem saber? Poucos dias antes, após uma pessoa do trabalho ter testado positivo, Pedro havia se submetido a testes, que deram negativo. Diante da persistência do cheiro – foram três dias inteiros com essa sensação –, avisou a equipe médica.

Pacientes que tiveram o novo coronavírus já relataram alterações importantes no olfato, como a perda momentânea de sensibilidade olfativa e a presença de um odor desagradável persistente, como o de produtos de limpeza utilizados em hospitais. Cheiro de lenha na lareira talvez fosse novidade. Um pesquisador, após ler os relatos dele no aplicativo preenchido pelos voluntários da vacina, telefonou para saber mais e disse que o que sentia não era uma reação esperada, mas que seria observada.

Como voluntário e diante da iminência de outras vacinas entrarem no mercado, ele sabe que pode optar por receber o imunizante que estiver à disposição, mas terá de deixar o estudo do qual é parte. Ele ainda não decidiu o que fazer. “Não tive um AVC e continuo sem saber se tomei vacina ou placebo”, relata Pedro, que já voltou a sentir cheiros normalmente. Inclusive o de chocolate.

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