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Por Laryssa Borges
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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O cinismo de pensar que a corrupção são sempre os outros

Foi muita ingenuidade não pensar que brasileiros sucumbiriam ao ‘vacina pouca, minha dose primeiro’

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 jan 2021, 11h25 - Publicado em 21 jan 2021, 11h11

21 de janeiro, 10h02: Brasileiros furando a fila da vacinação contra a Covid, brasileiros fraudando atestados médicos com declaração de comorbidades, brasileiros desviando ampolas da CoronaVac, brasileiros pleiteando que jornalistas ou veterinários se tornem grupos prioritários, brasileiros pedindo reserva de 7.000 doses porque o Judiciário não pode parar. No país das 212.831 mortes pelo novo coronavírus, os corruptos são sempre os outros.

Até setembro do ano passado, quando me inscrevi para ser voluntária no estudo clínico da Janssen em busca de um imunizante contra o coronavírus, nunca havia pensado em me colocar como soldado da ciência e ajudar, ainda que de uma forma singela, pesquisadores a desenvolverem um fármaco que evite formas graves de Covid e nos devolva a esperança de dias futuros menos turbulentos. Fazia aquilo não por mim, mas pelos meus pais idosos, pela minha irmã com comorbidades, pela minha avó que ultrapassou com louvor a casa dos 90, pelos profissionais de saúde extenuados nas UTIs, por sem teto e refugiados de quem ninguém se lembra na partilha futura das vacinas. Fazia aquilo porque o mundo precisa que alguém faça alguma coisa – ainda que não sejamos tantos: 7.560 brasileiros estamos testando a vacina da Johnson & Johnson.

Naquele momento da pandemia, cheguei a pensar que o mundo sairia melhor dessa, mais solidário, mais consciente da abissal desigualdade social que nos cerca, mais crédulo dos avanços da ciência, mais lúcido sobre as escolhas eleitorais que possa ter feito. Mas não. No país em que um aplicativo do Ministério da Saúde receita cloroquina para cego de olho furado e para bebê com diarreia, foi muita ingenuidade não pensar no ‘vacina pouca, minha dose primeiro’.

Na manhã desta quinta-feira, às vésperas de me submeter a mais uma bateria de testes para atestar se o imunizante da Johnson & Johnson permite que meus anticorpos continuem fortes 71 dias após ter recebido o antígeno experimental, choro pela pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo, destroçada após concluir que, por “absoluta incompetência diplomática”, não teremos condições de produzir as vacinas Oxford/AstraZeneca no curto prazo. Insumos fabricados na Índia e na China para o desenvolvimento de imunizantes aos brasileiros estão paralisados em seus países de origem e impedem que possamos dar continuidade à nossa vacinação.

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Sem saber, Dalcolmo se transformou em meu referencial na pandemia, meu lumiar de cientificismo contra as negligências diárias de autoridades públicas, a voz que sopra no ouvido cada vez que vejo uma pessoa burlar as regras de distanciamento social e de uso de máscara, a cientista com quem pranteamos juntos diante da inação de quem deveria zelar pelo seu povo.

Hoje sou voluntária também por inspiração em Margareth Dalcolmo.

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