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Por Laryssa Borges
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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‘Há uma pequena possibilidade de a vacina agravar o quadro de Covid’

Ressalvas como esta são feitas para que o voluntário de estudos clínicos saiba todos os cenários possíveis e decida se quer ou não continuar a caminhada

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 dez 2020, 12h19 - Publicado em 10 dez 2020, 10h09

9 de dezembro, 7h45: Protocolo de vacina é igual bula de remédio. Tem de prever a mais remota e improvável reação adversa e alertar previamente os voluntários que, como eu, se dispõem a receber doses experimentais em busca de um imunizante contra a Covid-19. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, um longo documento que detalha tudo que um leigo que quer ajudar a ciência precisa saber antes de tomar a aspirante à vacina, me revelou hoje algo de que não tinha a mais vaga ideia: “Há uma pequena possibilidade de a vacina agravar a sua doença caso você contraia a Covid-19”. Motivo para pânico? Nenhum.

Ressalvas como esta são feitas para que o voluntário que está se colocando à disposição de estudos clínicos nesta pandemia saiba todos os cenários possíveis e decida se quer ou não continuar a caminhada. A tal “pequena possibilidade” é justificada porque na história das pesquisas científicas há relatos de situações em que vacinados e depois infectados pelo organismo causador da doença tiveram o quadro agravado justamente porque tomaram o imunizante. Isso se chama doença potencializada pela vacina e foi detectado, por exemplo, em animais que faziam parte de testes contra outros tipos de coronavírus, como a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). Covid? Não. Pesquisas em seres humanos usando tecnologia semelhante produziram respostas que não estão associadas à doença potencializada pela vacina. Mas a ressalva está lá. É pior que bula de remédio.

10h40: Faz 22 dias que recebi no músculo do braço esquerdo a dose de um líquido não-identificado do estudo clínico em que o laboratório Janssen-Cilag busca uma vacina anti-Covid. Se Nossa Senhora do Algoritmo estiver do meu lado, o conteúdo da ampola é o imunizante experimental Ad26.COV2.S, um combinado de vírus atenuado da gripe com um pedacinho da coroa do coronavírus capaz de – espera-se – contribuir para o desenvolvimento de anticorpos que previnam ou diminuam a gravidade da Covid-19. Pode ser que, no sorteio, eu tenha caído no Grupo 2, o dos que receberam soro fisiológico. Imagino se ao final de dois anos de pesquisas clínicas eu não vou descobrir que tudo não passou de um placebo. É preciso certo desprendimento de espírito para ser voluntária.

14h26: O Instituto Brasil de Pesquisa Clínica (IBPClin) telefona para confirmar meu comparecimento na visita de segurança e imunologia, agendada para a próxima semana, quando será recolhida nova amostra de sangue para detectar se desenvolvi ou não anticorpos. Evidentemente que estarei lá – e ansiosíssima apesar de, nesses estudos de duplo-cego, nem eu nem a equipe médica sabermos se terei ou não apresentado defesas naturais. O material será levado para uma central nos Estados Unidos, que analisará informações colhidas de milhares de voluntários. Em breve será possível saber o percentual de eficácia do imunizante da Janssen. Esse aviso de possibilidade remota de doença potencializada pela vacina é só mais uma demonstração da seriedade com que as pesquisas devem ser conduzidas.

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