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Por Laryssa Borges
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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A véspera do fim do cego: quatro meses depois, a vacina já está reservada

Por garantia, uma ampola com o imunizante está reservada para mim e será aplicada se eu tiver sido uma das que recebeu um líquido sem nenhum princípio ativo

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 mar 2021, 13h19

17 de março, 11h10: Ainda não consegui digerir aquela que será a semana mais importante da minha breve vida de voluntária de uma vacina anti-Covid. O noticiário político e a ascensão meteórica no número de mortes embaçam a constatação de que faltam menos de 24 horas para eu desembarcar no Rio de Janeiro e enfrentar a bateria final de exames que mostrará se tomei o imunizante verdadeiro da Janssen naquela tarde de novembro, quando comecei a participar da pesquisa científica em prol de uma vacina, ou se tudo não passou de um placebo, uma ampola de soro fisiológico que fez companhia ao meu medo, angústia e incerteza nesta pandemia.

A partir das três horas da tarde de amanhã, testes de sangue, uma longa consulta médica e a apresentação de meu histórico clínico em quatro meses e um dia como voluntária serão colocados à prova. Ao final, receberei uma cartinha, quase como uma dessas de programas de auditório em que um prêmio está à espreita. Nela estará a resposta definitiva: era vacina ou placebo? Por garantia, uma ampola com a dose verdadeira está reservada para mim e refrigerada em uma geladeira comum, com uma longa porta transparente de vidro, e será aplicada se, pelo azar dos algoritmos, eu tiver sido selecionada na pesquisa entre aqueles que receberam um líquido sem nenhum princípio ativo.

Em meio à montanha de mortos no Brasil, sinto quase um descolamento da realidade por ter sido voluntária em benefício de uma vacina e agora estar prestes a confirmar minha imunização bem antes de uma parcela significativa dos grupos prioritários terem recebido qualquer dose. Para além do aprendizado e da disposição de ajudar diretamente pesquisas em prol da ciência, há também o reconhecimento de que tudo poderia ser ainda mais cataclísmico (sim, é possível), se não tivéssemos no país um sistema universal de saúde pública.

Enfrentamos o primeiro ano de pandemia sem que autoridades da administração federal tivessem clara noção sobre a importância, o funcionamento diário ou o subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS). O ministro demissionário da pasta chegou ao governo com a confissão de que não sabia o que era o maior conglomerado de saúde gratuita do mundo. O novo titular da pasta, que assume o posto quando o número de mortes de brasileiros por Covid-19 em 24 horas beira os 3 mil, elogiou o SUS e pediu união no enfrentamento e combate à doença. Mas eles sabem, de fato, quais são as fragilidades do sistema público de saúde do país? Os médicos Adriano Massuda, Ana Maria Malik, Gonzalo Vecina, Renato Tasca e Walter Cintra Ferreira Junior, vinculados à Fundação Getúlio Vargas, listaram uma a uma no artigo “A resiliência do Sistema Único de Saúde frente à Covid-19”.

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Segundo os pesquisadores, estudos em todo o mundo revelam que países com grandes desigualdades socioeconômicas e frágeis sistemas de seguridade social têm demonstrado mais dificuldade em controlar a proliferação do novo coronavírus. No caso do SUS brasileiro, dizem, enfrentamos fragilidades de liderança e governança, como a dificuldade de uma convergência nacional para enfrentar a pandemia, a insuficiência de instrumentos de gestão e a falta de integração entre os setores público e privado em situações de emergência, como a atual, em que a capacidade pública de atendimento à população já extrapolou há muito. Um fato ajuda bem a entender a barafunda da saúde pública no país: o Brasil é o único país com um sistema universal de saúde em que o gasto privado com tratamentos é superior ao público – são 58% do total, segundo o IBGE.

Também há gargalos na falta de profissionais especializados em áreas específicas e má distribuição deles pelo Brasil, além de um precário treinamento para situações de emergência, como a pandemia de Covid. A desigualdade social crônica do Brasil aparece no diagnóstico dos pesquisadores: a maioria dos leitos do SUS é ofertada em hospitais de pequeno porte, é insuficiente o número de leitos de UTI no setor público, e a maior disponibilidade de vagas para tratamento intensivo está no setor privado, hoje destinado a menos de 25% da população.

“O enfrentamento da Covid-19 desnudou fortalezas e fragilidades do SUS. A pandemia também evidenciou que sistemas de saúde resilientes são essenciais não só para efetivação do direito à saúde, mas também para a manutenção de atividades sociais e econômicas. Certamente países que tiveram sucesso em enfrentar a doença estarão mais bem posicionados para o retorno às atividades sociais e econômicas, mesmo que a normalidade seja restabelecida só depois da vacinação da população”, concluem os médicos.

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