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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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O perigo das meias verdades sobre a cloroquina

Estudos clínicos com o medicamento ainda não comprovaram sua eficácia contra a Covid-19 e apontam que ele não deve ser usado como rotina contra a doença

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 20 Maio 2020, 16h48 - Publicado em 20 Maio 2020, 13h18

O dia de ontem, marcado pela perda de 1.179 vidas pela Covid-19 no Brasil, mereceria muito mais que o triste rufar dos tambores comemorativos da cloroquina. Afinal, o nosso SUS é percebido como uma das mais exitosas experiências de um sistema universalizante de saúde.

Teríamos muito para contar, desde o programa de Saúde da Família, de sua potencialidade para o incremento da atenção primária, da maneira corajosa como implantamos um sistema de atendimento para a Aids e até mesmo os programas de combate ao tabagismo. Mas agora – quando ocupamos o terceiro lugar em número de casos da Covid-19 – quem sabe seja isso o que, infelizmente, nos reste comemorar.

Há cerca de 15 dias, a revista “The Lancet”, respeitada por toda comunidade científica do mundo, trazia fortes críticas ao que se faz no Brasil no combate à pandemia do novo coronavírus. Seu editorial argumentava que a urgência, por maior que seja, não pode se sobrepor ao rigor da boa ciência.

A compreensão do que significa um ensaio clínico e dos cuidados que são tomados antes de conclusões precipitadas a respeito do desenvolvimento de um medicamento não é trivial para aqueles que não vivem e não cresceram dentro da ciência. Até isso podemos admitir. Mas, no limite do desconhecimento, deve prevalecer o bom senso e o apoio de quem conhece.

Tenho usado muito uma frase de Benjamim Franklin: “Uma meia verdade é pior que a mentira inteira”. Algumas das coisas, diria a metade, do que essas pessoas dizem pode até ser verdade. O problema está na hora que usam essa parcela de verdade para dar uma interpretação errada. Aí surge o problema.

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No momento existem, pelo menos, cerca de 1.500 estudos clínicos em andamento no mundo (clinicaltrials.gov) para avaliar potenciais fármacos para a Covid-19, nos mais diversos cenários da doença: profilaxia (prevenção), tratamento das formas leve e moderada da doença (que não necessitam internamento hospitalar), tratamento das formas grave e crítica, podendo ser modificado à medida que novos conhecimentos médicos são publicados.

Interessam particularmente os estudos clínicos mais importantes e que definem se um medicamento é eficaz e seguro para o tratamento de uma doença, que são os ensaios clínicos randomizados e com grupo de controle. É isso o que define um ensaio clínico.

Sem esses estudos, corremos o risco de administrar medicamentos para centenas de milhares de pacientes e, no final, não saberemos se os pacientes foram beneficiados ou prejudicados.
Os estudos clínicos atuais com cloroquina ou hidroxicloroquina, associada ou não à azitromicina, permitem concluir que tais medicamentos, neste momento, não mostraram eficácia no tratamento farmacológico da Covid-19 e não devem ser recomendados de rotina.

Por outro lado, independentemente da falta de conclusões acerca dos benefícios, alguns estudos vêm demonstrando efeitos colaterais cardíacos, como arritmias, que são potencialmente fatais. Por isso, neste momento, pacientes com Covid-19 que não podem ser monitorados com eletrocardiogramas seriados NÃO devem receber cloroquina, nem hidroxicloroquina.

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Recomenda-se que esses medicamentos só sejam utilizados em pesquisa clínica. Porém, se o médico desejar, poderá prescrevê-los, sendo recomendado que compartilhe com o paciente a falta da evidência científica de sua eficácia à luz dos conhecimentos atuais e seu potencial risco de dano, principalmente cardíaco.

O solene Juramento de Hipócrates prestado pelos médicos, tradicionalmente por ocasião de sua formatura, os obriga a se comprometerem com a prática de uma medicina honesta. De acordo com o juramento, responde pelo dano à saúde quem lhe deu causa. Quem sabe é por isso que a boa medicina preza a prudência.

Claudio Lottenberg é presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde.

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