Contrariando aliados, Bolsonaro insistiu no vale-tudo
Diante de apelo para baixar o tom dos ataques ao STF, presidente transformou o feriadão em festival de medidas para afagar base bolsonarista
Nas conversas que teve na última semana, o presidente Jair Bolsonaro ouviu de alguns dos seus principais conselheiros preocupações com os desdobramentos dos atos convocados para esta terça-feira. Recebeu recados de líderes do Congresso e auxiliares diretos dando conta de que o tom do seu discurso seria perigoso para o andamento de projetos de interesse do Palácio do Planalto.
Os argumentos levantados por aliados do presidente passavam pelas últimas pesquisas sobre aprovação do governo. Vislumbravam também as dificuldades para tirar do papel a repaginação do programa Bolsa Família, peça-chave da estratégia eleitoral bolsonarista do ano que vem. E lembravam o rombo nos precatórios e a salada do Orçamento do ano que vem.
Bolsonaro preferiu a demonstração de força. Na última sexta-feira, um interlocutor relatou à coluna que o presidente avisou que não abriria mão de “enquadrar” os ministros do Supremo Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Eis que, já no sábado, ele se antecipou durante o discurso que fez em Caruaru, onde disse que os magistrados seriam “colocados no seu devido lugar”.
Desde então, veio uma sucessão de medidas que transformaram o feriadão em festival para afagar a base bolsonarista. Teve estátua do presidente exibida no Palácio do Planalto, encontro no Palácio da Alvorada com ex-assessor de Donald Trump, medida provisória para dificultar a remoção de conteúdo das redes sociais, anúncio de que o governo vai derrubar a obrigatoriedade da vacina, e assim por diante. Tudo isso coroado com a cena de manifestantes bolsonaristas invadindo a Esplanada na noite de ontem com gritos contra o STF.
O fato é que as preocupações no entorno do presidente vão além das manifestações de hoje. Embora alguns discordem da decisão de tensionar as relações com o Supremo, auxiliares de Bolsonaro apostam em uma distensão depois do feriado. O curioso é que nenhum dos líderes ouvidos pela coluna sabia citar uma prioridade na agenda de governo no resto da semana.