Bolsonaro paga o preço de colocar a vaidade acima da governabilidade
Alertado dos riscos do 7 de setembro, presidente tornou o jogo político do próprio governo mais difícil
Bolsonaro foi avisado. Quando decidiu ir para o tudo ou nada no 7 de setembro, ministros e líderes no Congresso deram o recado de que a decisão de acirrar a crise institucional traria efeitos na economia e nas relações no Congresso. Mas, com o apoio de muitos dos seus auxiliares, o presidente escolheu a demonstração de força. E agora começa a pagar o preço.
O 7 de setembro de Bolsonaro sacramentou o início da corrida presidencial em detrimento da agenda de governo. O dólar disparou, a bolsa caiu, a alta da inflação se confirmou. As discussões no Congresso foram paralisadas, as negociações do novo Bolsa Família esfriaram. E aí vem a cereja do bolo: perdeu-se o controle de manifestação de caminhoneiros que o próprio presidente chama de “aliados”.
A avaliação feita nos bastidores por líderes do centrão – que ainda segura a articulação do governo em pé – é a de que o jogo ficou bem mais difícil. “É o preço que se paga pela vaidade”, disse um deles à coluna. Regalias como o controle da liberação de emendas em ano eleitoral ainda seguram o casamento com muitos dos partidos que dão sustentação ao governo. Mas quem não tem tanto poder nesse processo já avalia que é hora de procurar um namoro em outro lugar.
Os primeiros a balançar, naturalmente, são aqueles partidos que até agora gostavam de se declarar independentes. Mas que reservavam boa parte de seus votos no Congresso para o governo. Alguns se afastaram. Outros acharam melhor já anunciar a ruptura. E ainda estamos há mais de um ano da eleição.