Zika segue rota da pobreza e, depois de Brasil e Venezuela, deve atingir Haiti e ilhas do Caribe
Para pesquisadores, o que acontece com a zika já ocorreu com outras doenças ligadas à pobreza e fáceis de prevenir, como malária, Aids e tuberculose
À primeira vista, doenças como o zika vírus parecem surgir do nada e se espalhar freneticamente. Uma segunda olhada por parte da comunidade científica permite ver os principais fatores por trás do quadro trágico que se forma em países como Brasil, Colômbia e Venezuela.
Para cientistas, a urbanização precária é determinante para o aumento da incidência. Doenças transmitidas por vetores, caso da zika, atingem pobres que não têm governo capaz de protegê-los e vivem em habitações de péssima qualidade,em vizinhanças cercadas de lixo, esgoto a céu aberto e objetos abandonados acumulando água.
Habitantes de Guatelama, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá também não escaparam do vírus. De acordo com Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina de Baylor, seguindo essa lógica, outras regiões que passaram por urbanização recente e concentram moradias degradadas devem se tornar as próximas vítimas da epidemia, caso do Haiti e das ilhas do Caribe. Apesar da previsibilidade, cidades desses locais certamente não melhorarão a tempo de impedir o pior.
O que está acontecendo com a zika já ocorreu com outras doenças correlacionados à pobreza e fáceis de prevenir, como Aids, malária e tuberculose. Elas continuam fazendo vítimas porque, em última instância, só atingem pobres. É o que diz o filósofo britânico William MacAskill, autor da teoria do altruísmo eficiente. Segundo ele, a malária, por exemplo, é responsável por 3,3% das mortes globais por doença, mas recebe bem menos investimento do que outras doenças, como o câncer. “Se a luta contra a malária recebesse proporcionalmente os mesmos recursos que a batalha contra o câncer, seriam cerca de 100 bilhões de dólares por ano. Mas a verdade é que apenas 1,6 bilhão de dólares é gasto com malária por ano, sessenta vezes menos do que o esperado”, afirma.
Por Mariana Barros
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