O triste fim de George Bell e os microapartamentos: dois finais para uma mesma história
Com cada vez mais gente vivendo sozinha, dá para passar dias sem falar com ninguém ou conviver com vizinhos em espaços compartilháveis
Nesta semana, o jornal The New York Times publicou a triste história de George Bell, que aos 72 anos morreu sozinho em seu apartamento no Queens sem que ninguém se desse conta. Sua morte só foi descoberta oito dias depois, e não porque algum amigo ou parente tenha dado falta dele, mas pelo mau cheiro exalado no corredor.
O episódio, que além de melancólico é mais comum do que se imagina, atesta a enorme solidão em que vivem os moradores de grandes cidades. E esse estilo de vida solitário se reflete nos imóveis escolhidos. Desde 2007, mais da metade dos nova-iorquinos mora sozinha, resultado da combinação do aumento da expectativa de vida, dos divórcios mais frequentes e da redução na taxa de fecundidade das mulheres — tendência presente nas maiores cidades do mundo, inclusive nas brasileiras.
Sozinho é bem mais difícil conseguir comprar um imóvel. E, com a alta acumulada durante décadas no preço dos apartamentos, milhares de nova-iorquinos desistiram de tentar comprar um lugar para morar. Acabam, assim, empurrados para o aluguel.
Mas a lei do mercado não falha e, com tanta gente à procura de locações, é claro que esses preços também sobem. Hoje, é difícil encontrar endereço na cidade onde se pague menos de 1.500 dólares mensais. Em média, locatários nova-iorquinos destinam 3.000 dólares do orçamento só para essa despesa.
LEIA TAMBÉM:
+ Imóveis caros fazem moradores de cidade dos EUA entrarem na Justiça contra a prefeitura
+ A cidade e as crianças: por que quem vive em centros urbanos tem menos filhos?
A situação levou o ex-prefeito Michael Bloomberg a lançar em 2011 um concurso para escolher projetos arquitetônicos de moradias populares. O primeiro fruto da empreitada deve ser inaugurado em dezembro. Projetado pelo nArchitects, escritório vencedor do concurso, o My Micro NY é um residencial de nove andares com 55 unidades entre 23 e 35 metros quadrados. São microapartamentos, studios, quitinetes, dependendo do nome que se queira dar. A torre é construída com estruturas modulares pré-fabricadas no Brooklin, e a locação de cada um dos espaços internos custará entre 950 dólares e 1492 dólares, atraindo os solitários típicos ou quem tenha um parceiro ou filho como companhia.
Além do preço, um benefício importante do My Micro NY é propiciar a convivência entre vizinhos. Como as unidades são muito pequenas, foi preciso desenhar áreas comuns que servissem de lounge, lavanderia e guarda-volumes. Se George Bell morasse num desses, quem sabe os vizinhos tivessem percebido antes que havia algo de errado com ele. “Foi como se ele tivesse morrido de tristeza”, escreveu o jornalista N. R. Kleinfield, que assina a reportagem do Times. E disso todos nós estamos sujeitos a morrer pouco a pouco.
Por Mariana Barros