Na contramão das mesas de pingue-pongue das empresas de tecnologia, escritórios criam espaços de trabalho que valorizam o silêncio e a privacidade
Nesta semana, o Google anunciou que a capital paulista sediará um campus da Google for Entrepreneurs, local de trabalho compartilhado voltado a empreendedores da área de tecnologia que estejam iniciando seu próprio negócio. O Google oferece treinamento, orientação e contato com investidores, e os desenvolvedores entram com suas ideias e a força de vontade para […]
Nesta semana, o Google anunciou que a capital paulista sediará um campus da Google for Entrepreneurs, local de trabalho compartilhado voltado a empreendedores da área de tecnologia que estejam iniciando seu próprio negócio. O Google oferece treinamento, orientação e contato com investidores, e os desenvolvedores entram com suas ideias e a força de vontade para colocá-la em prática. Espaços semelhantes são mantidos pela gigante da internet em Londres, na Inglaterra, Tel-Aviv, em Israel, e Varsóvia, na Polônia. O de São Paulo deve ser inaugurado no ano que vem.
Embora nem o endereço esteja definido ainda, o simples anúncio do Google já suscitou a curiosidade dos tecnólogos sobre como serão os espaços de trabalho da futura unidade paulistana. Afinal, a empresa é famosa por oferecer mesas de pingue-pongue, enormes pufes e redes de descanso, lanches gratuitos e ambientes informais como parte da estratégia de estimular a criatividade e o bem estar de seus funcionários e assim aumentar sua produtividade (leia mais aqui). Essa visão marcou a maneira como as empresas de tecnologia passaram a organizar seus espaços de trabalho a partir dos anos 2000 e pouco a pouco influenciou o modo como os projetos corporativos passaram a ser concebidos pelos escritórios de arquitetura. Nos anos seguintes, repetiu-se à exaustão a fórmula dos ambientes amplos, que favorecem a integração entre funcionários, separados apenas por pequenas baias ou às vezes nem isso, mesas de pingue-pongue, design divertido e uso de cores vibrantes para garantir certa descontração. Agora, essa receita dá seus primeiros sinais de esgotamento.
De acordo com a Metropolis Magazine, empresas de tecnologia como BuzzFeed e Reddit já embarcaram na mudança e contrataram a gigante WeWork para desenhar seus novos locais de trabalho, companhia norte-americana fundada em 2010 e que já moldou 19 edifícios corporativos aos novos tempos. Os prédios escolhidos são sempre de esquina, para que a luz incida em ângulos diferentes, e com históricos interessantes. Mas a novidade mesmo é misturar os ambientes amplos onde todo mundo se vê com cubículos que permitem momentos de total privacidade, seja para trabalhar em paz, seja para descansar um pouco.
A mesma lógica é seguida pela Steelcase, tradicional escritório de arquitetura corporativa norte-americano fundado em 1912 e que tem apostado nos cubículos como forma de cortar a distração e permitir que os funcionários possam de fato pensar e concentrar-se no que estão fazendo. A ideia veio da observação de que, sempre que surge uma tarefa importante para fazer ou uma decisão difícil para tomar, as pessoas optam por trabalhar ou se reunir fora da empresa.
Para corroborar essa tese, um levantamento da consultoria Lee Hecht Harrison realizado em abril e divulgado na semana passada revelou que, para 45% dos 848 americanos entrevistados, as conversas frequentes são o principal fator de perturbação no local de trabalho. Embora avaliem que a comunicação seja importante, os pesquisadores afirmam que colegas que falam demais e não sabem a hora de parar são a principal fonte de distração dos demais. Os e-mails aparecem em segundo lugar, com 18% das reclamações. Assim, os cubículos também despontam como uma arma contra as distrações.
Para essa nova onda de projetos, a Steelcase contou com a consultoria de Susan Cain, autora do best-seller O Poder dos Quietos (Editora Agir, 2012, em média 29 reais), em que examina como a cultura americana passou a valorizar a extroversão e a interação em grupo em detrimento da solidão e da reflexão. Em conversa com os diretores da Steelcase, Susan ponderou que num escritório há sempre diferentes tipos de pessoa e que ambientes abertos podem ser opressores para os mais introvertidos. E mais: que momentos de solidão são cruciais para a criatividade. A partir daí, surgiu uma nova linha de produtos, em que o barulho das mesas de pingue-pongue dá lugar a uma outra forma de descontração: o silêncio.
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