Isenção de IPI para carros alimentou corrupção sem contrapartidas para melhorar vias ou transporte
Fortaleza e Manaus são campeãs do aumento da frota registrado no ano passado
Um levantamento do Observatório das Metrópoles, ligado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, revela que apenas ao longo do ano passado, 3,2 milhões de carros passaram a circular no país. Com isso, a frota alcançou 57 milhões de automóveis. Ou seja, há 1 carro para cada 4 brasileiros, a maior taxa já registrada.
Fortaleza teve o maior aumento percentual da frota entre as cidades analisadas. Ao longo de 2014, o número de carros por lá cresceu 6,7%. Ela aparece no ranking seguida por Manaus (6%) e Natal (5,8%).
O aumento reflete a melhoria da renda da população, alavancada partir de 2003. Revela também a completa falta de diretrizes para o desenvolvimento das cidades. Segundo o pesquisador Juciano Rodrigues, coordenador do relatório do Observatório, os governos relegam a segundo plano as políticas de transporte público de massa e reduzem quase a zero a implementação de políticas para o transporte não motorizado.
Pior do que isso, a priorização do carro embute um esquema de corrupção que agora começa a ser revelado. Uma reportagem publicada nesta semana pelo jornal O Estado de S. Paulo mostrou que montadoras de veículos foram beneficiadas em troca de pagamentos durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (leia mais aqui).
Lobistas que atuam pelo setor receberam até 36 milhões de reais das montadoras para conseguir do Executivo a aprovação da medida provisória que prorrogou os descontos de IPI (imposto sobre produtos industrializados) para automóveis. Os incentivos fiscais chegaram a 1,3 bilhão de reais por ano.
O legado do episódio está traduzido nos números do Observatório: um aumento da frota sem precedente e sem infraestrutura adequada para acomodá-la. Nada foi revertido em benefício da população: nem vias melhores para quem adquiriu carros sem IPI nem alternativas de transporte público de qualidade.
E agora que a própria indústria automobilística enfrenta problemas para manter a produção, é ainda mais difícil entender qual foi a vantagem de longo prazo prevista por manter por tantos anos os incentivos para a compra de automóveis. O escândalo envolvendo o governo Lula comprova que poucos são os que pensam a longo prazo quando têm a oportunidade de tirar vantagem do uso do dinheiro público.
O estudo do Observatório pode ser lido na íntegra aqui.
Por Mariana Barros
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