Ensinamentos de Jan Gehl e Jane Jacobs motivam projeto em Limeira para criar bairro fácil, agradável e seguro
Chamada de Bairro da Gente, iniciativa ouviu moradores para planejar a reforma de uma área de 300 mil metros quadrados por parceria público privada (PPP)
Um projeto no interior de São Paulo batizado de Bairro da Gente pretende colocar em prática os ensinamentos de dois “papas” da vida urbana, a americana Jane Jacobs e o dinamarquês Jah Gehl. Jacobs é autora do livro Morte e Vida das Grandes Cidades, em que argumenta, entre outras coisas, que quanto mais movimentada é uma rua, mais segura ela se torna. Já Gehl em seu Cidades para Pessoas questiona por que a escala urbana é pautada mais pelos edifícios do que pela maneira como os moradores usam e vivem em cada espaço. A partir da combinação dessas duas visões, o projeto buscou criar um bairro pelo qual fosse fácil, seguro e agradável circular. A própria equipe de Gehl participou da elaboração do masterplan, que será implantado a partir de uma parceria público privada (PPP).
O local escolhido foi uma área de 300 mil metros quadrados em Limeira, cidade de 300 mil habitantes no interior paulista. O ponto de partida é um antigo aeroclube desativado, e a repaginação inclui melhorar ou criar 30 lugares deste perímetro, entre praças, terminais de ônibus, mercado e escolas.
Em conversa com o blog Cidades sem Fronteiras, dois dos autores do projeto, Iury Lima e Raouda Assaf, contaram o quanto o diálogo com a comunidade foi determinante para a definição do que fariam dali em diante. Em dinâmicas e conversas, ouviram, por exemplo, crianças e idosos dizerem sentir medo dos carros, receio causado pela alta velocidade com que transitavam. Para resolver isso, foram criadas calçadas largas priorizando o pedestre e vias mais estreitas para carros, cujo desenha obriga os motoristas a tirarem o pé do acelerador.
Além de incentivar deslocamentos a pé e de bicicleta, o projeto lançou mão de outras estratégias para aumentar a presença de pessoas nas ruas. O bairro é de uso misto, ou seja, com residências, comércio e serviços intercalados, e também de renda mista, para que não vire nem um Minha Casa Minha Vida nem um condomínio clube (embora preveja a construção de unidades do programa do governo federal). Houve ainda a preocupação de criar arquiteturas diferentes umas das outras, sempre no esforço de tornar a paisagem mais interessante e viva.
O Bairro da Gente faz uso ainda de uma técnica inovadora chamada “place branding”, que investiga a identidade e a vocação de um local a partir da colaboração dos moradores, criando neles um senso de pertencimento. No caso de Limeira, o trabalho foi feito pela starup Places for Us, a primeira agência brasileira especializada no assunto. Basicamente, sua tarefa é fazer com que espaços que poderiam ser insossos e ganhem definição e significado para se tornarem lugares que as pessoas gostem de frequentar.
O projeto está em fase de aprovação e as obras estão previstas para serem entregues em até dez anos.
Por Mariana Barros
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