Em SP, faixas verdes para pedestres reproduzem projeto de Nova York, mas falham na execução
Nos EUA pedestres e veículos foram separados por pinos, tartarugas e até vasos de plantas
Nesta semana, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad anunciou um projeto piloto que prevê a criação de faixas verdes exclusivas para pedestres. A primeira via a receber essa demarcação foi a Rua Vergueiro, na Liberdade, região central da capital paulista. A faixa tem 1,5 metro de largura e 750 metros de comprimento e foi pintada numa região onde é grande o fluxo de pedestres, devido à concentração de universidades.
Nova York experimentou algo semelhante em 2013, movido principalmente pelo esforço de melhorar a sensação de segurança dos moradores. Partindo da ideia de que ruas mais seguras são as de maior circulação, a cidade ampliou as áreas de permanência, como bancos e praças, aproveitando espaços mortos como rotatórias e cotovelos em esquinas.
No Brooklin, o cotovelo de um cruzamento que servia de ponto de encontro para traficantes e prostitutas foi convertido em uma simpática praça. O resultado foi imediatamente sentido pelos comerciantes, que assistiram a um aumento significativo nas vendas. Jovens americanos que, ao contrário de seus pais, preferiram a agitação da cidade à rotina pacata do subúrbio, também gostaram da medida. Com pouco dinheiro para gastar com moradia, eles se viram empurrados para as regiões menos nobres e com poucos espaços públicos que pudessem frequentar.
A maneira como essas zonas foram demarcadas contrasta bastante com a fórmula adotada em São Paulo. Em nenhuma das “plazas” nova-iorquinas a tinta bastou demarcar a área dos pedestres e protegê-los dos veículos. Em todos os pontos, a pintura foi combinada a tartarugas ou pinos instalados no chão. Alguns lugares ganharam até mesmo charmosos vasos de plantas. Não é o que se vê na Rua Vergueiro, onde apenas a tinta verde separa os pedestres dos carros e ônibus que tafegam na via.
A iniciativa demonstra a vontade política de Haddad de criar espaços na cidade onde o carro não é a medida de todas as coisas. Demonstra ainda que a falta de verbas não é sentença que deva condenar propostas ao papel. Por outro lado, é preciso lembrar que o pedestre é o elo mais frágil da cadeia alimentar urbana e, portanto, o que mais precisa ser protegido. Incentivar as pessoas a se aproximar de veículos sem oferecer nenhum obstáculo físico é permitir que ocorram acidentes. As faixas verdes são interessantes no mérito e refletem a tendência global de abrir espaço nas cidades para os pedestres. Mas se não forem executadas corretamente farão dar errado aqui algo que tem dado certo no mundo todo.
ESCLARECIMENTO:
Após a publicação deste post, a assessoria de imprensa da prefeitura de São Paulo entrou em contato para esclarecer que a implantação das faixas verdes ainda não está completa e só deve ser concluída no mês que vem, com mecanismos que separarão os pedestres dos veículos. Diz o comunicado: “A intervenção receberá pintura antiderrapante na cor verde, reforçada com uso de outros elementos de sinalização, tais como segregadores, balizadores e tachas refletivas. Nos quatro pontos de ônibus do trecho, as calçadas serão alargadas e os ônibus farão a parada na sua própria faixa, sem ter necessidade de avançar sobre a faixa de pedestres. Atualmente, é proibido estacionar carros no local de segunda a sexta-feira, das 6 horas às 23 horas. Com o novo passeio, será proibido estacionar por período integral.”
NOTA MINHA: É ótimo saber que o projeto prevê contemplar a segurança dos pedestres. Trata-se do ponto fundamental para que a iniciativa dê certo. Cabe registrar, porém, que os pedestres já estão usando a faixa neste momento e continuarão a usá-la nas próximas semanas mesmo sem disporem de nenhuma proteção.
Por Mariana Barros
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