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Por Mariana Barros
A cada mês, cinco milhões de pessoas trocam o campo pelo asfalto. Ao final do século seremos a única espécie totalmente urbana do planeta. Conheça aqui os desafios dessa histórica transformação.
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Dream team de empresários doa tempo, dinheiro e conhecimento para melhorar as cidades brasileiras

Programa Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável busca levar a eficiência do setor privado para a administração pública, a exemplo do que fez Michael Bloomberg em NY

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jul 2020, 00h12 - Publicado em 29 out 2015, 07h07
Paraty (RJ), uma das cidades parceiras do programa Juntos (Foto Cristiano Muniz/PMP)

Paraty (RJ), uma das cidades parceiras do programa Juntos (Foto Cristiano Muniz/PMP)

O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg se tornou referência mundial em gestão ao aplicar na vida pública o que aprendeu ao longo de uma sólida carreira como empresário. Para ele, a política nunca foi um fim em si mesma, mas o meio de alcançar objetivos concretos. Bloomberg soube se colocar acima de partidos: eleito republicano, virou democrata e depois independente. Bilionário e dono de um império das comunicações, passou a usar a filantropia para transmitir conhecimento e encorajar outros prefeitos a comprar as brigas certas. Diz ele: “Líderes locais são responsáveis por fazer, não debater. Por inovar, e não argumentar. Por pragmatismo, e não partidarismo. Temos de entregar resultados.”
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Sua trajetória é o exemplo prático de um discurso cada vez mais forte mundialmente, inclusive no Brasil, onde um grupo de empresários trilha o mesmo caminho. Ninguém planeja se candidatar a prefeito, mas, para que as cidades se desenvolvam, estão dispostos a doar o que têm de mais valioso: seu tempo e sua experiência à frente das maiores empresas do país. É o coletivo Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável.
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O integrantes formam uma espécie de dream team do empresariado nacional: Jorge Gerdau, dono da maior siderúrgica do país, Rubens Ometto, dono da Cosan, gigante da produção de açúcar e etanol, Pedro Paulo Diniz, da família fundadora do Grupo Pão de Açúcar, José Ermírio de Moraes Neto, da Votorantim, Ricardo Villela Marino, do Itaú Unibanco, Wilson Ferreira Júnior, da CPFL, José Roberto Marinho, das Organizações Globo, e Carlos Jereissati Filho, do Grupo Iguatemi, entre outros.
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A exemplo do que fez Michael Bloomberg, foi o ambiente filantrópico que impulsionou a transformação. O Juntos é gerenciado pela Comunitas, organização social criada pela ex-primeira-dama Ruth Cardoso (1930-2008). Boa parte das 12 cidades do programa conta com um empresário padrinho, alguém ligado ao local e que acompanha de perto o que é feito. Assim, os empresários participam de uma reunião mensal geral e outra trimestral com os prefeitos apadrinhados, todas presenciais. “Não tem nada de mandar representante, é preciso ir pessoalmente”, afirma Regina Esteves, diretora-presidente da Comunitas e quem coordena os trabalhos do Juntos.
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Achar um mesmo horário na agenda de todos esses líderes já é um primeiro desafio, mas é claro que os problemas municipais a serem vencidos são bem mais complexos. A busca pelo equilíbrio fiscal encabeça a lista de dificuldades, seguida pelas dores de cabeça criadas pela burocracia e por leis malfeitas que asfixiam os bons projetos. O Juntos também destina recursos para as ações municipais, 100% privados.  A verba disponível até 2016 é de 47 milhões de reais.
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LEIA TAMBÉM:
– Sete milhões de pessoas se deslocam entre cidades por dia, prova de que as fronteiras municipais perderam sentido
– Donos de carros de luxo pagam mais IPVA por ano do que desembolsam de IPTU sobre imóveis milionários
 
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Do outro lado, estão os prefeitos, escolhidos independentemente de partidos. O que pesa na seleção do Juntos é que os gestores estejam no primeiro mandato e tenham nomeado seus secretários seguindo critérios técnicos. Também precisam estar dispostos a integrar empresários e população para fortalecer a rede local. Seguem a lógica narrada no livro Metropolitan Revolution, de 2013, com histórias de cidades americanas que superaram seus problemas fazendo uso de uma teia de conexões regionais. Para o bem e para o mal, nenhuma delas teve ajuda do governo federal ou dos estaduais para sair de suas crises. A narrativa corrobora a tese de que são os líderes regionais, e não os nacionais, os que têm maior capacidade de agir. Nas palavras de Bruce Katz, vice-presidente do Brookings Institution e coautor do livro: “Os centros urbanos tornaram-se o coração de todo tipo de mudança ambiental, social e econômica”. O mesmo vale para o Brasil.
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Os prefeitos que não colocarem em prática as determinações do Juntos correm o risco de serem cortados do programa. A linha-dura faz parte do esforço em implantar a cultura corporativa na gestão pública, o que significa, inclusive, oferecer aos servidores municipais a chance de se aperfeiçoar em cursos no exterior.
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Atualmente, o Juntos está presente seis estados e em doze cidades: Campinas (SP), Curitiba (PR),  Juiz de Fora (MG), Paraty (RJ), Pelotas (RS), Santos (SP), Teresina (PI) e Itirapina (SP) – esta última uma ação conjunta que inclui Brotas, Corumbataí, Limeira e São Carlos, também no interior paulista. Abaixo, algumas histórias sobre a capacidade das cidades brasileiras de resolverem seus próprios problemas quando dadas as condições para isso. É o início da nossa revolução metropolitana.
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Lagoa do Taquaral, em Campinas (Foto prefeitura)

Lagoa do Taquaral, em Campinas (Foto prefeitura)

Campinas (SP)
Wilson Ferreira Júnior (CPFL)
Primeira a entrar para o Juntos, Campinas acelerou a aprovação de pequenas construções, que representam 70% dos pedidos enviados à prefeitura. São residências, comércios de até 500 metros quadrados e instituições de até 1.000 metros quadrados. O tempo entre a entrada do pedido de construção e a emissão do alvará baixou de dois meses para um dia. Se houver desvios, a prefeitura pode aplicar multas ou embargar o projeto .
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Paraty: apesar da Flip, nada de IPTU nem abastecimento (Cristiano Muniz / PMP)

Paraty: apesar da Flip, nada de IPTU nem abastecimento (Cristiano Muniz / PMP)

Paraty (RJ)
Padrinho: José Roberto Marinho (Organizações Globo)
Acostumada a receber royalties do petróleo, Paraty nunca se preocupou com a arrecadação municipal. Até que, em 2013, a fonte secou. José Roberto Marinho foi o líder destacado para ajudar a reequilibrar as contas municipais. O primeiro passo foi cobrar o IPTU, que quase ninguém pagava. Pousadas declaradas como residências e outras irregularidades encobriram 3.000 imóveis do pagamento do imposto. Água encanada e esgoto foram outra novidade. Mesmo sediando a Flip, a festa literária internacional que leva ao município milhares de visitantes anualmente, a cidade não tinha rede de abastecimento decente para a população. Até o final deste ano, todos os moradores deverão ter água encanada em casa, e a rede de esgoto deve abranger 80% das residências até o final do ano que vem.

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UBS em Pelotas: aumento de 30% no atendimento (Foto Eduardo Belkeske)

UBS em Pelotas: aumento de 30% no atendimento (Foto Eduardo Belkeske)

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Pelotas (RS)
Padrinho: Carlos Jereissati Filho (Grupo Iguatemi)
A tecnologia foi a principal aliada para melhorar os serviços públicos, começando pela saúde. Um software permitiu o acompanhamento das metas de governo e, paralelamente, médicos, enfermeiros, moradores e agentes simularam ser pacientes com as mesmas limitações daqueles atendidos pela Unidade Básica de Saúde. O teste ajudou a identificar quais eram as melhorias necessárias para o espaço e como reestruturar os serviços. A reforma de uma das unidades permitiu aumento de 30% nos atendimentos.

 
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Itirapina, onde ganha força a conexão com cidades vizinhas (Foto Prefeitura)

Itirapina, onde ganha força a conexão com cidades vizinhas (Foto Prefeitura)

Itirapina (SP)
Padrinho: Pedro Paulo Diniz (Grupo Pão de Açúcar)
O município é o centro de um consórcio que inclui Brotas, Corumbataí, Limeira e São Carlos. Todas essas cidades compartilham um sistema de compras públicas que torna as aquisições mais ágeis e localiza os melhores preços. A ferramenta mostrou que o quilo do sal para a merenda escolar custava 0,96 real em Corumbataí e 1,25 real em Brotas. A comparação dá argumento aos gestores para negociar e, assim, conseguirem economizar.

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