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Por Mariana Barros
A cada mês, cinco milhões de pessoas trocam o campo pelo asfalto. Ao final do século seremos a única espécie totalmente urbana do planeta. Conheça aqui os desafios dessa histórica transformação.
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Documentário sobre Minhocão questiona como manter moradores de baixa renda em regiões revigoradas

O uso do elevado para lazer encarece imóveis que sempre foram baratos, barulhentos e empoeirados. Mas manter as más condições também não resolveria o problema

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 23h38 - Publicado em 28 jan 2016, 16h57
Minhocão usado como área de lazer (Foto Ingrid Mabelle)

Minhocão usado como área de lazer (Foto Ingrid Mabelle)

Até que ponto melhorar uma área degradada é bom para seus moradores? Sempre, podem pensar muitos leitores. Mas esta não é uma resposta unânime. Grandes cidades que passaram pela experiência de ter bairros revitalizados tiveram de lidar com uma situação bastante complexa: a gentrificação.

A gentrificação acontece quando um local se torna melhor do que era, e o valor de seus imóveis aumenta. Com isso, as residências se tornam inacessíveis para a população que sempre viveu ali. Sempre viveu, mas, dada a melhora da região, não consegue arcar com o novo custo de vida. O resultado é que essas pessoas acabam migrando para lugares piores, que tenham condição de bancar.

Em São Paulo, a gentrificação virou assunto a partir da ideia do Parque Minhocão, iniciativa para usar como área de lazer um viaduto que corta o centro da capital. Para debater a questão, os estudantes Ingrid Mabelle, Caroline Carvalho e Fabio Santana e o operador de câmera Fernando Zamora fizeram o documentário Ponto de Vista (abaixo).

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[youtube https://www.youtube.com/watch?v=FZrgLzHoKeU?feature=oembed&w=500&h=281%5D

 

O filme mostra diferentes perspectivas sobre os efeitos da melhoria do Minhocão, com entrevistas com o prefeito Fernando Haddad, secretários municipais, vereadores, moradores de edifícios vizinhos ao elevado e pessoas que usam o local para lazer. A pesquisa levou um ano e meio e é parte de um trabalho de conclusão do curso de jornalismo da Unifieo, de Osaco, na Grande São Paulo.

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“Percebemos que poucas pessoas sabem e discutem a gentrificação, que é um assunto novo. Então, além de discutir o fenômeno, o filme é uma maneira de torná-lo público”, diz Ingrid Mabelle, uma das autoras.

Por causa da proximidade dos prédios residenciais, cujas janelas chegam a estar apenas três metros distantes da via expressa, o elevado tem horário de funcionamento. Carros são proibidos de circular por ali nos finais de semana e à noite — horários em que o asfalto é tomado por ciclistas, pessoas passeando com seus cachorros, praticantes de yoga, crianças e artistas.

O parque High Line, de Nova York, construído em uma linha férrea suspensa desativada

O parque High Line (à dir.), construído em uma linha férrea suspensa desativada

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Parte dos ativistas defende transformar o elevado em parque permanente e desativar de uma vez por todas a via expressa. Em Nova York, situação semelhante — uma linha férra suspensa abandonada — originou um dos projetos urbanísticos mais interessantes dos últimos anos, o parque High Line. Ganhar vista para um parque fez os imóveis vizinhos se valorizarem, e pessoas de baixa renda que moravam ali tiveram de se mudar. O fenômeno tende a se repetir no elevado da capital paulista, e quem sempre conviveu com barulho e poeira dos automóveis pagando alugueis baratos terá de procurar outro endereço. É possível evitar que isso aconteça? E, se não for, essas pessoas devem continuar suportando milhares de carros passando rentes às suas janelas?

É bom lembrar que quando o Minhocão foi implantado, nos anos 1970, o efeito que causou foi o de uma gentrificação às avessas, iniciando um triste processo de degradação da região. Qualquer intervenção que se faça, seja ampliar o uso recreativo ou desmontar/implodir a estutura, como defendem alguns, fará com que o preço dos imóveis locais aumente.

Há uma corrente crítica à gentrificação que afirma que ter vizinhos ricos torna a vida dos pobres mais difícil. Estudos apontam que, em alguns casos, a chegada de vizinhos com renda maior aumenta a renda média geral. Além disso, ter vizinhos pobres também não melhora a vida dos pobres, pelo contrário. Infelizmente, é isso o que acontece na maioria dos casos.

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Nas palavras do especialista em economia urbana  Joe Cortright, há um impulso que beira o segregacionismo. “As pessoas ricas devem viver com pessoas ricas e pobres devem viver com os outros pobres. Qualquer coisa que mude esse status é suspeito. Quando pessoas ricas se mudam para bairros pobres, dá se o nome de gentrificação. Quando pessoas pobres se mudam para bairros ricos, dá-se o nome de engenharia social. É difícil imaginar que fazer enquadramentos desse tipo crie um mundo com menos segregação econômica.”

 

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Por Mariana Barros

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