Dois terços dos americanos seguem favoráveis à legalização da cannabis
Instituto Gallup pesquisa o assunto desde 1969. Apoio à erva atingiu a máxima histórica no ano passado e tendência se manteve em 2019
Pesquisa divulgada na última quarta-feira (23) pelo instituto Gallup aponta que o apoio popular à legalização da cannabis se mantém no patamar mais alto da história entre os cidadãos dos Estados Unidos. Dois terços dos americanos (66%) acreditam que a proibição da erva deve acabar, com seu uso e comércio sendo regulamentados e taxados. O número é o mesmo aferido no ano passado, apesar dos problemas recentes causados por inalação de vaporizadores com THC, o princípio psicoativo da planta. Esses dispositivos, que aquecem e transformam em vapor o óleo extraído da cannabis, já provocou 33 mortes e causou problemas respiratórios em cerca de 1500 pessoas nos EUA, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção a Doenças (Center for Disease Control and Prevention – CDC). Segundo especialistas que investigam as causas, os eventos estariam ligados a produtos adquiridos no mercado ilegal, o que pode ter dado ainda mais força ao argumento da legalização. Produtos regulamentados precisam de testes de segurança e qualidade, ausentes no tráfico.
De 2005 para cá, o apoio à legalização cresceu 30 pontos percentuais, de 36% para 66%. No primeiro levantamento, realizado em 1969, quando o movimento de contracultura estava no auge, apenas 12% dos americanos se diziam favoráveis à erva. O Gallup informou que não há diferenças significativas na opinião nos recortes por gênero, escolaridade, renda, região e local de moradia (rural/suburbana/urbana). As divergências aparecem mais quando os entrevistados são separados por ideologia e preferência partidária. Entre os democratas, 76% apóiam a legalização contra 51% dos republicanos. Entre os que se declaram independentes, o índice é de 68%, bem próximo da média nacional. Como esperado, a maior diferença aparece quando se comparam liberais com conservadores: 82% contra 48%, respectivamente, enquanto os moderados registram 72% de aprovação.
No Brasil, a pesquisa mais recente foi realizada no final de 2017 pelo Datafolha e revelou que, por aqui, o apoio à legalização também está no nível mais alto desde que a pergunta começou a ser feita, em 1995. O índice, contudo, é o oposto do americano: apenas um terço (32%) dos brasileiros declaram que “fumar maconha deveria deixar de ser crime”. O debate nacional ainda está assentado sobre premissas equivocadas, muito preconceito e desinformação. O valor medicinal da cannabis já é reconhecido pelas autoridades, que autorizam a importação de medicamentos, mas não conseguem avançar em direção a uma regulamentação que torne mais barato, simples e abrangente o acesso às terapias com canabinoides.
Talvez os EUA, onde 98,6% da população vivem em Estados que já aprovaram algum tipo de regulamentação para a cannabis, tenham alguma coisa a nos ensinar (imagem acima). A mudança no status da planta no país, iniciada com a legalização medicinal na Califórnia em 1996, não causou os problemas apontados pelos adversários da liberação. Ao contrário, reduziu o uso abusivo, ajudou pacientes com moléstias graves, criou uma indústria bilionária e gerou empregos. A crescente aprovação popular demonstra que, quando confrontados com a realidade, os cidadãos tendem a tomar decisões mais racionais. Se nosso aliado da América do Norte é mesmo um exemplo, como pregam nossas mais altas autoridades, talvez esteja na hora de começar a prestar mais atenção no que está acontecendo por lá.