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Por Leandro Narloch
Uma visão politicamente incorreta da história, ciência e economia
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Três mitos sobre o capitalismo no discurso do papa

Por Leandro Narloch
Atualizado em 31 jul 2020, 00h58 - Publicado em 10 jul 2015, 14h32

papa bolivia

 

O papa Francisco deu um discurso claramente anticapitalista ontem na Bolívia. Defendeu mudanças estruturais contra a “ditadura sutil” das forças do mercado. “Reconhecemos que este sistema impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza?”, disse ele. Há na fala do papa pelo menos três mitos frequentemente repetidos sobre o capitalismo. Estes aqui:

“O capitalismo destruiu a natureza”

A princípio parece difícil de discordar do papa. Da Revolução Industrial do século 19 até a China dos dias de hoje, o avanço das fábricas cria nuvens negras nas cidades. O que pouco se diz é que só depois de um certo nível de prosperidade (criada pelo capitalismo) surge a preocupação dos cidadãos com o meio ambiente.

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Isso fica claro com o seguinte dilema. Imagine o leitor que está à beira de morrer de fome e consegue caçar um pato. Mas tem um problema: trata-se de um animal em extinção, talvez o último sobrevivente daquela espécie rara de pato. Quem preza pela própria vida até lamentaria o fim da espécie, mas comeria o infortunado pato sem pensar demais. Já se o leitor está de barriga cheia, fica mais fácil poupar o animal. Do mesmo modo, só países enriquecidos pelo capitalismo podem se dar ao luxo de se importar com a natureza.

Os economistas chamam esse fenômeno de “curva ambiental de Kuznets”. Quando um país atinge a marca de 4 mil dólares de renda per capita, a ecologia entra na agenda pública. Florestas, animais, ar e rios limpos ganham relevância. Mais uma vez é o exemplo da China, que agora, mais rica, luta para despoluir as cidades. Países comunistas (de verdade, não como a China hoje) nunca chegaram a esse nível de renda – não à toa, avançaram sobre a natureza com muito mais força que os capitalistas.

“O capitalismo nos tornou egoístas”

Bem, seria preciso encontrar um modo de medir o egoísmo em diferentes épocas. Parece impossível – ou seja, a opinião do papa é frágil. Também sem provas ou medições, poderíamos supor o contrário. Assim como a prosperidade possibilitou a preocupação com a natureza, facilitou a caridade e a preocupação com o próximo. Aqui também vale um exemplo. Se o leitor tem três sacos de batata em casa, e vai precisar de todos os três nos próximos meses, fica difícil doar um deles. Mas se o estoque conta com vinte sacos de batata, destinar alguns aos pobres se torna barato. O capitalismo de massa, ao possibilitar a abundância, barateou a caridade – e deu força a outras lógicas, além da “lógica do lucro” do discurso do papa. Estão aí os grandes bilionários do mundo, como Bill Gates, que doa mais da metade da sua fortuna, para provar que é mais fácil ser caridoso quando rico. Como diz Deirdre McCloskey, da Universidade de Chicago, “o capitalismo não corrompeu a natureza humana – pelo contrário, ele a melhorou”.

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“O capitalismo exclui os mais pobres”

Antes do capitalismo industrial, quatro em cada dez pessoas morriam ou durante a gestação ou até completar 15 anos. Crises de fome ceifavam 10% a 15% da população pelo menos uma vez por século. Vestidos e casacos, de tão caros, apareciam em testamento como herança. Quase todos os gordos eram ricos, mas só os ricos tinham comida de sobra.  Quem ingeria 900 calorias por dia poderia se considerar sortudo – hoje temos que nos esforçar para ingerir menos que 2400 calorias. A altura média dos homens passou de 1,68 metro (em 1700) para 1,77 hoje. Desculpa, caro papa Francisco, mas na Idade Média, quando a Igreja dominava o mundo, a pobreza era um pouquinho maior. Não foi o capitalismo que excluiu os pobres, e sim a falta de capitalismo.

 

@lnarloch

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