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Por Leandro Narloch
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Quatro argumentos da direita em defesa das drogas

A descriminalização do porte de drogas, que o STF debate hoje, costuma ser uma bandeira da esquerda. Mas os seus melhores argumentos vêm do outro lado da política

Por Leandro Narloch
Atualizado em 31 jul 2020, 00h40 - Publicado em 19 ago 2015, 13h51

1. O argumento conservador

Será que Edmund Burke, o pai do conservadorismo inglês, seria contra a legalização das drogas? Suspeito que não. Burke não era contra mudanças sociais, e sim contra a tentativa de redesenhar toda a sociedade a partir de teorias de gabinete, como fizeram os revolucionários franceses. Os políticos, dizia Burke, devem legislar para homens reais, e não homens imaginários; para as pessoas como elas são, e não como devem ser.

E as pessoas reais, de qualquer cultura ou época, usam drogas legais ou ilegais.

Talvez Darwin ajude a explicar o motivo de humanos gostarem tanto de drogas. A seleção natural legou ao homem padrões de pensamento nem sempre agradáveis. No Paleolítico, tinha mais chance de sobreviver e gerar descendentes quem se preocupava, imaginava ameaças, antecipava ataques, temia ser rejeitado pelo grupo e ficar sozinho. É como se tivéssemos um pequeno rádio grudado na testa repetindo, sem parar: “o pedaço de mamute que você caçou na semana passada está acabando”, “você deveria ter investido em dólares”, “com essa pontaria, da próxima vez não te chamam pra caçar mamute”, “o Laurentino vende muito mais livros que você”, “aquele leopardo vai invadir a caverna e levar o seu filho embora”.

É por isso que toda sociedade humana usa drogas. É um direito legítimo tentar se livrar desse pesadelo evolutivo pelo menos em ocasiões especais, por pouco tempo. Barrar esse direito é legislar para um homem irreal – e atentar contra tradições que os conservadores tanto prezam.

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2. O argumento individualista

Projetos coletivos, sejam eles a cidade sem carros, a cruzada aos infiéis, a sociedade igualitária ou totalmente sóbria, não devem se sobrepor à liberdade individual. O cidadão tem todo o direito de recusar contribuir com um projeto da maioria – porque a liberdade individual é em si própria o bem público mais valioso.

3. O argumento do mercado eficiente

Não é certeza que a legalização provoque um aumento do consumo e dos problemas relacionados a drogas. Mas digamos que sim, que o número de viciados se multiplique depois de uma legalização completa. Isso criaria uma enorme oportunidade de mercado. De um lado, empreendedores concorreriam entre si para produzir produtos com menor teor (foi o que aconteceu depois da liberação do álcool, nos Estados Unidos). Do outro, médicos, bioquímicos e farmacêuticos investiriam bilhões em pesquisa para ganhar dinheiro curando viciados. Já há diversas iniciativas assim. Por exemplo, o médico brasileiro André Waismann, radicado em Israel, descobriu um método de menos de uma semana para reduzir o vício em opiáceos (heroína e morfina). O combate ao vício de cigarros já está estabelecido, à base de antidepressivos e adesivos de nicotina. Num mundo onde o consumo de drogas é livre, haveria muito mais dinheiro para inovações como essa. Em pouco tempo, resolveríamos a dependência como se ela fosse uma gastrite – comprando um remédio de R$ 8,90 na farmácia.

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4. O argumento elitista

Proibir as drogas é nivelar por baixo – restringir a liberdade dos bravos e fortes, que saberiam se controlar e ter uma relação saudável com as substâncias alucinógenas, em nome dos impotentes que se tornariam viciados. Uma sociedade pode ser caridosa com os fracos, mas não deve se guiar por eles. Proibir as drogas em nome de potenciais viciados é cultuar a mediocridade. O elitismo deixa a sociedade mais perigosa, é verdade – e também muito mais interessante.

@lnarloch

 

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