O mercado da não delação
Imagine só o valor das ofertas que denunciados da Lava Jato devem receber para ficarem calados
Por essa a gente não esperava: presos da Operação Lava Jato devem estar embolsando um bom trocado para ficarem com a boca fechada.
As duas prisões de hoje miram esse mercado da não delação. A PF acusa Delcídio do Amaral, líder do governo no Senado, de oferecer 50 mil reais por mês para ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró ficar calado. Já sobre o banqueiro André Esteves recai a suspeita de ter oferecido 4 milhões de reais para bancar a fuga de Cerveró do Brasil.
Há pelo menos um caso confirmado de venda de omissões em depoimentos. Em junho, o fiscal Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, um dos envolvidos na máfia do ISS em São Paulo, foi preso por cobrar 170 mil reais do colega Carlos Moretti Filho para não citá-lo na delação que faria dias depois. Magalhães foi preso num bar do Tatuapé com uma bolsa com 70 mil reais em notas de cem.
Entre os advogados da Lava Jato, é frequente o boato de algum colega negociar omissões nas delações dos clientes. A pressão sobre eles é imensa. Cada prisão de um diretor da Petrobras aterroriza um bocado de políticos e empresários. Tentar negociar um acordo que os deixe de fora das investigações deve ser uma atitude frequente.
E o denunciado, na carceragem da PF em Curitiba, de repente descobre que sua lealdade vale milhões.
@lnarloch