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Por Leandro Narloch
Uma visão politicamente incorreta da história, ciência e economia
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Mitos alimentares: a resposta do Instituto Nacional do Câncer

Por Leandro Narloch
Atualizado em 31 jul 2020, 00h49 - Publicado em 31 jul 2015, 16h34

Na segunda-feira, eu acusei o Instituto Nacional do Câncer de divulgar mitos e erros comuns sobre o câncer – como os de que adoçante e agrotóxicos causam a doença e alimentos orgânicos a previnem. O Inca me procurou solicitando a publicação de uma resposta, que vai abaixo. Para um próximo post, prometo uma tréplica.

@lnarloch

 

Inicialmente, gostaríamos de esclarecer que além de “desfazer mal-entendidos sobre o câncer”, o INCA possuiu várias outras funções. Por ano, realizamos para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS):

7,5 mil cirurgias;

40 mil atendimentos em quimioterapia;

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67 mil atendimentos em radioterapia;

240 mil consultas médicas;

14,5 mil internações.

Formamos cerca de 1.500 alunos por ano, nos nossos 60 cursos de pós-graduação, que tem conceito 6, em um total de 7, na avaliação da Capes. Nossa pós é a única de excelência na área oncológica do Brasil e formamos médicos e profissionais em Oncologia inclusive para a rede privada em todo país.

Bom, poderíamos citar outros programas e atividades do INCA, mas vamos direto às considerações sobre os três “mitos” elencados por você. Todas as recomendações do INCA são inteiramente baseadas em evidência científica. Não em um ou dois estudos pinçados na Internet, mas em todo o universo da produção científica referendada por organizações internacionais de credibilidade indiscutível, como a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS), da qual o INCA faz parte.

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Adoçantes

 

A IARC verificou em 1999 que existem evidências suficientes de carcinogenicidade da sacarina sódica em estudos experimentais em animais (IARC Monography v.73, 1999).

 

Diversos estudos têm confirmado e reforçado a relação da ingestão de aspartame, mesmo em pequenas doses, com o surgimento de vários tipos de câncer incluindo os do trato urináriolinfomas e leucemias (Life-span exposure to low doses of aspartame beginning during prenatal life increases cancer effects in rats. Environ Health Perspect. 2007; Results of long-term carcinogenicity bio-assay on Sprague-Dawley rats exposed to aspartame administered in feed. Ann NY Acad Sci. 2006;  Aspartame induces lymphomas and leukaemias in rats. Eur J Oncol. 2005; The carcinogenic effects of aspartame: The urgent need for regulatory re-evaluation. Am J Ind Med. 2014; Consumption of artificial sweetener- and sugar-containing soda and risk of lymphoma and leukemia in men and women. Am J Clin Nutr. 2012).

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Outros estudos revelam os mecanismos que explicam como o aspartame aumenta o risco de outros tipos de câncer. O aspartame induz a produção de radicais livres, que aceleram o envelhecimento e aumentam o risco de câncer, além de reduzir as defesas do corpo contra outros agentes cancerígenos, aumentar a expressão de genes que estimulam o surgimento de câncer e suprimir os genes que ajudam a prevenir o câncer (Consumption of artificial sweetener- and sugar-containing soda and risk of lymphoma and leukemia in men and women. Am J Clin Nutr. 2012; Longer period of oral administration of aspartame on cytokine response in Wistar albino rats.Endocrinol Nutr. 2015).

 

Estudos revelam também que o uso de adoçantes artificiais pode contribuir tanto para o ganho de peso como para o aumento do risco de alterações no metabolismo da glicose (como a intolerância à glicose e o diabetes tipo 2), que estão associados ao aumento da incidência de diversos tipos de câncer (Sugar-sweetened beverages and weight gain in children and adults: a systematic review and meta-analysis. Am J Clin Nut 2013; Metabolic effects of non-nutritive sweeteners. Physiology & Behavior 2015; Artificial sweeteners induce glucose intolerante by altering the gut microbiota. Nature 2014; . Obesity and Diabetes: The Increased Risk of Cancer and Cancer-Related Mortality. Physiological Reviews  2015).

 

Essas evidências obrigam o INCA a cumprir com sua responsabilidade de informar à população que o consumo de adoçantes artificiais está associado ao desenvolvimento de algumas doenças, inclusive do câncer.

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Alimentos orgânicos

 

O estudo citado no seu post, realizado no Reino Unido, é contestado no mundo científico e foi considerado inconclusivo, porque não há garantias de que os alimentos consumidos pelas britânicas que participaram do experimento eram efetivamente orgânicos. A comparação feita nesse estudo não é valida.

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O INCA jamais afirmou que “orgânicos ou que algum alimento tem o poder de combater o câncer”. Em recente posicionamento, afirmamos: “Modos de cultivo livres do uso de agrotóxicos produzem frutas, legumes, verduras e leguminosas, como os feijões, com maior potencial anticancerígeno”. Esta informação é baseada em publicações científicas, dentre elas uma recente metanálise de 343 trabalhos científicos, incluindo diversos estudos brasileiros, que demonstrou teores substancialmente mais elevados de uma variedade de compostos anticancerígenos em diversos alimentos vegetais produzidos de forma orgânica comparados àqueles produzidos com a utilização de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos (Higher antioxidant and lower cadmium concentrations and lower incidence of pesticide residues in organically grown crops: a systematic literature review and meta-analyses. Br J Nutr. 2014).

 

Esclarecemos que os compostos anticancerígenos, como os quimiopreventivos naturalmente presentes nas frutas, legumes, verduras e leguminosas, são compostos capazes de prevenir ou reparar danos no DNA e outros danos oxidativos nas células.

 

É com base nessas evidências que o INCA afirma que os alimentos orgânicos tem um maior potencial anticancerígeno.

 

Agrotóxicos

 

A IARC publicou recentemente a avaliação do poder carcinogênico de diversos ingredientes ativos de agrotóxicos e concluiu que há evidências suficientes para confirmar que os herbicidas glifosato e 2,4-D, os mais utilizados nas lavouras brasileiras, exercem efeitos cancerígenos, o que inclui: danos ao DNA capazes de transformar células saudáveis em células precursoras de câncer e disrupções endócrinas que resultam em estímulo ao desenvolvimento de câncer (https://www.iarc.fr/en/media-centre/iarcnews/pdf/MonographVolume112.pdf).

 

A afirmação da ONG britânica que você cita (“considera que o nível atual de resíduos de agrotóxicos nos alimentos do Reino Unido não apresenta uma preocupação significativa para a saúde humana”) refere-se à realidade do Reino Unido, não a do Brasil. Os brasileiros comem basicamente alimentos produzidos no Brasil, que é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, inclusive de produtos proibidos na Europa e América do Norte.

 

Por fim, gostaríamos de enfatizar que a contabilização de casos e mortes por câncer é essencial para priorizar estratégias de prevenção e controle do câncer no país, mas recomendações e ações de prevenção não são realizadas somente em função do aumento ou redução do número de casos de câncer. Do contrário não se tratariam de ações de prevenção.

 

Com base nestas informações, o INCA tem a obrigação de alertar a população brasileira sobre o risco cancerígeno da modalidade de produção de alimentos predominante no Brasil, que se vale do uso excessivo de agrotóxicos.

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