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Por Leandro Narloch
Uma visão politicamente incorreta da história, ciência e economia
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A meritocracia em defesa dos pobres

É curioso ver pessoas de esquerda desprezando a meritocracia. Pois ela surgiu como uma ideia iluminista que irritou conservadores e minou o poder dos aristocratas

Por Leandro Narloch
Atualizado em 30 jul 2020, 23h28 - Publicado em 24 fev 2016, 12h38

Um bom sobrenome foi por muito tempo o critério mais importante para se conseguir um emprego ou uma promoção na Europa. Só tinha autorização para trabalhar como pedreiro ou padeiro quem pertencesse a uma corporação de ofício, e as corporações davam preferência à boa origem e costumavam recusar mulheres e filhos bastardos. No Exército, oficiais com origem nobre começavam a carreira em cargos já graduados e ascendiam com facilidade.

Pouca gente via problemas nessa seleção. Era assim que Deus havia decidido; era assim que as coisas deveriam ser. No século 18, a injustiça transpareceu. “Por que aquela pessoa tem mais direitos e privilégios se não é mais capaz, mais inteligente ou virtuosa do que eu?”, se perguntaram os europeus. Era preciso, dizia Voltaire, trocar a “aristocracia do sangue” pela “aristocracia da virtude”.

Intelectuais criticaram a proibição de crianças ilegítimas nas guildas e mesmo o poder das corporações em determinar quem podia trabalhar. No Exército, defenderam que o critério de promoção não deveria ser a ascendência, mas a habilidade e a capacidade de cada oficial. Ou seja, pelo mérito.

Aristocratas e escritores conservadores espernearam. Justus Moser, nobre da Baixa Saxônia e um dos principais conservadores alemães, escreveu em 1770 um artigo chamado “Contra a promoção conforme o mérito”. Dizia que a meritocracia criaria um caos no serviço público pois jogaria os homens contra si próprios e faria muitos se sentirem ofendidos e caluniados. A origem familiar e a idade eram, para ele, os critérios de seleção que garantiam a paz. “Me atrevo a dizer que o serviço público sequer existiria se a promoção fosse baseada apenas no mérito”, escreveu. Sobre a admissão de filhos ilegítimos nas guildas, Moser dizia que o dever cívico das famílias deveria prevalecer sobre sentimentos humanitários com as crianças.

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É curioso ver hoje muita gente de esquerda se alinhando aos conservadores do século 18 na crítica à meritocracia. Pois ela se difundiu pela Europa como uma ideia perigosa e revolucionária que minava não só a promoção de militares bem-nascidos, mas os privilégios de reis e nobres em geral. Foi uma forma de eliminar as barreiras que impediam a ascensão dos pobres, das mulheres, dos bastardos, dos malnascidos e discriminados. Deu oportunidade para a ralé provar seu valor pelo talento e pela engenhosidade, e não pela obediência ou adulação aos poderosos.

@lnarloch

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