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Ataques a bar LGBT evidenciam questão da homofobia em Salvador

Desde a inauguração, em janeiro, proprietárias contabilizam seis episódios de hostilidades ao estabelecimento, mas denúncias não surtem efeito

Por Dagmar Serpa
Atualizado em 8 Maio 2018, 19h43 - Publicado em 8 Maio 2018, 18h05

Era a noite da final de um concurso promovido pelo coletivo Afrobapho. Em plena festa, o teto do bar Caras & Bocas — na Avenida Carlos Gomes, um pedaço de agito underground frequentado pelo público LGBT no centro de Salvador — foi atingido por sacos recheados de gelo. A munição veio do alto e causou estrago na cobertura do sobrado. Uma parte acabou no meio do salão. Mas somente um cliente se machucou, na testa, sem gravidade.

O episódio marcou a sexta vez em que o estabelecimento foi alvo do mesmo tipo de investida em menos de quatro meses. “A primeira foi logo na noite de inauguração, em 5 de janeiro deste ano”, conta Rosy Silva, sócia no negócio da parceira Alexsandra Leitte. A cada ocorrência, o casal de proprietárias, além de mobilizar a comunidade, sempre registra queixa. “Quando cheguei à delegacia da última vez, um agente até disse: ‘De novo aqui?’”, conta Rosy.

Em três das ocasiões, foi solicitada perícia. Ela recebeu um dos laudos, referente à ocorrência da noite de estreia. Um dos documentos mostra que havia até uma pedra dentro de sacos plásticos arremessados contra o bar. As indicações são de que os objetos vieram da direção de um prédio vizinho, que abriga salas comerciais e apartamentos.

Rosy lamenta não ter alcançado resultados concretos com suas denúncias sucessivas. “Sinto que há um descaso, as investigações andam a passos de tartaruga”, diz essa ativista da comunidade LGBT, que se forma em direito no ano que vem e manteve, por dez anos e na paz, o mesmo bar no Subúrbio Ferroviário, que reúne bairros periféricos na capital da Bahia.

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Ela conta que outras duas casas do mesmo estilo já funcionaram no seu atual endereço e teriam se mudado pelo mesmo motivo. “Não vou desistir”, garante Rosy, que, após o último ataque, decidiu também fazer uma denúncia ao Ministério Público. Ela diz ter certeza de que não se trata de briga de vizinhos. Até porque ninguém nunca foi lá reclamar de barulho ou de nada, reivindicar ou negociar qualquer coisa. “A questão é a homofobia, esse ódio violento. Todos nós somos agredidos diariamente de diferentes formas.”

A tese de Rosy ecoa na estatística segundo a qual um membro da comunidade LGBT morre a cada dezenove horas, de acordo com estudo de 2017 do Grupo Gay da Bahia (GGB) — cujo levantamento anual foca apenas em homicídios e suicídios de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, com base no garimpo de casos que viraram notícia em todo o país e em relatos pessoais. “Observamos que o volume tem crescido ano a ano. De 2016 para 2017, o aumento de casos foi de 30%”, conta o pesquisador do GGB, Eduardo Michels.

Em Salvador, o Centro de Referência LGBT, inaugurado em março de 2016 pela Secretaria Municipal da Reparação, realizou 2.363 atendimentos desde que iniciou suas atividades: há no pacote de orientação para a mudança de nome social de transgêneros a encaminhamento jurídico de casos que envolvem violência de qualquer tipo contra seu público-alvo.

O volume de atendimentos é mais um indicativo da presença da homofobia na cidade. “É uma situação paradoxal, porque há uma aparente permissividade maior com expressões de identidade de gênero, inclusive em manifestações fora do Carnaval”, diz Leandro Colling, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e criador e coordenador do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade.

O ativista Genilson Coutinho, editor-chefe do site Dois Terços, especializado na temática, avalia que a dificuldade do bar em buscar providências é a regra para casos semelhantes . “A pessoa, nesses casos, já pensa duas vezes antes de ir a uma delegacia, imaginando o que vai passar”, afirma.

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“Aqui em Salvador, existe um projeto de lei na Câmara dos Vereadores para criminalizar a LGBTfobia, mas houve sete tentativas em abril de levar para votação na Comissão de Constituição e Justiça, todas paradas por manobras”, conta. Sem leis específicas, argumentam os ativistas, as ocorrências acabam ganhando outros nomes, como vandalismo ou injúria, o que só esconde o problema e impede avanços.

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