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Um assassinato disfarçado de suicídio fez nascer a assombração que vai antecipar a morte política de Cristina Kirchner

Nunca se viu um suicida tão de bem com a vida na véspera da morte. Neste 16 de janeiro, um sábado, o promotor federal Alberto Nisman saudou com um largo sorriso quem o viu sair do prédio onde morava em Buenos Aires. De volta ao apartamento no bairro de Puerto Madero, fez a lista de […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 02h15 - Publicado em 26 jan 2015, 20h33

Nisman-kirchner

Nunca se viu um suicida tão de bem com a vida na véspera da morte. Neste 16 de janeiro, um sábado, o promotor federal Alberto Nisman saudou com um largo sorriso quem o viu sair do prédio onde morava em Buenos Aires. De volta ao apartamento no bairro de Puerto Madero, fez a lista de compras para a semana seguinte e pareceu muito animado aos amigos com os quais conversou por telefone. A um deles, enviou por celular uma foto que mostra alguns documentos sobre a mesa de trabalho. Eram parte das provas do envolvimento de Cristina Kirchner e figurões do governo numa cabeludíssima trama político-policial.

O ousado homem da lei estava pronto para apresentar ao Congresso, na segunda-feira, a documentação que sustentava a denúncia que uma semana antes espantara milhões de argentinos: em parceria com o governo no Irã, a presidente vinha agindo nas catacumbas para sepultar as investigações sobre o atentado terrorista sofrido em 1994 pela Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA). O arquivamento do caso garantiria a impunidade dos oito iranianos que planejaram a explosão da bomba que matou 85 pessoas. Em troca da criminosa manifestação de apreço, os aiatolás atômicos beneficiariam a comparsa com generosos acordos comerciais.

No domingo, o corpo de Nisman foi encontrado no banheiro, ao lado de um revólver calibre 22, com uma bala enfiada na cabeça. Os integrantes do esquema de segurança juram que foram dispensados do serviço, entre a noite de sexta e a manhã do domingo, pelo homem que deveriam proteger. Também juram que tentaram inutilmente falar com Nisman por telefone. Intrigados com o silêncio do outro lado da linha, chamaram a mãe do promotor, que não encontrou o código para abrir a porta. Chamaram então um chaveiro, que topou com uma segunda porta apenas encostada.

Engrossado por autoridades que nada têm a ver com apurações do gênero, o grupo demorou quase 15 horas para topar com o cadáver. Demoraria mais um dia para descobrir que havia uma terceira entrada, com marcas de pegadas recentes e impressões digitais. O ritmo arrastado do primeiro ato contrastou com a rapidez da promotora Viviana Fein, escalada para cuidar da história. A doutora chegou ao cenário da tragédia no início da madrugada de segunda-feira. Uma hora depois, ressurgiu diante dos jornalistas com o mistério solucionado: “Foi suicídio”.

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O parecer de duas palavras ganhou o imediato endosso de Cristina Kirchner, que não perdeu a chance de culpar o morto e, claro, a oposição. A sherloque de tango concluiu que Nisman optou pelo suicídio ao constatar que, tapeado por adversários do governo, acreditara em invencionices, avalizara provas fabricadas e fora injusto com governantes inocentes. Em resumo: aos 51 anos, morreu de remorso. Na terça-feira, peritos informaram que não havia resíduos de pólvora nos dedos do morto. “Lamentavelmente, deu negativo”, suspirou Viviana Fein, que nem por isso se rendeu.

“É preciso fazer outro exame, porque disparos com armas desse calibre às vezes não deixam vestígios”, foi à luta. Na quinta-feira, Viviana e o restante do país se espantaram com a abrupta guinada da viúva profissional. “O suicídio foi um assassinato”, mudou Cristina de rota sem mudar de culpado. Na versão reciclada, os carrascos de Nisman devem ser procurados entre antigovernistas muito espertos. Eles adivinharam que, na cabeça da gente comum, a morte de um acusador da presidente só poderia ser coisa de parceiros da acusada, nunca de adversários beneficados pelas acusações. “Eles o usaram vivo e agora precisavam dele morto”, deduziu Cristina.

Viviana Fein não se abalou: “Podemos até examinar outras hipóteses, mas entendo que foi suicídio”. Entre segunda e sexta, o que começou como suspeita já virara certeza. A promotora irredutível continuou onde sempre esteve: na contramão da verdade. E ali permanece: “”Foi suicídio”, reiterou neste fim de semana depois de confrontada com a revelação do El Clarin: o tiro foi disparado a uma distância de 15 a 30 centímetros. “A distância foi de um centímetro”, devolveu de canela Viviana.

Num país sério, ela já estaria contando o que sabe sabe numa sala de interrogatório. Na terra devastada por uma gangue peronista, segue devotada à missão de exorcizar com mentiras o fantasma que confiscou o sossego da chefona. Perda de tempo. Viviana Fein e milhões de argentinos logo saberão que o promotor federal suicidado se transformou na assombração que vai antecipar a morte política de Cristina Kirchner.

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