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Sonia Zaghetto: O cordel encantado de Lula

A petição encaminhada à ONU é uma peça risível e a perfeita tradução da alma do ex-presidente: um tratado de vitimização e de autolouvação

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h13 - Publicado em 30 jul 2016, 07h29

A denúncia de Lula ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) é mais um capítulo na infindável saga de vexames a que o país vem sendo submetido no cenário internacional. Não contente de escancarar ao mundo a extensão de nossa miséria moral, administrativa e política, ao trazer para o Brasil uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, o ex-presidente agora segue os passos de Dilma Rousseff e mancha um pouco mais a imagem da Nação ao levantar suspeitas sobre a Justiça brasileira.

A petição é uma peça risível e a perfeita tradução da alma do ex-presidente: um tratado de vitimização e de autolouvação. Lula parece ver a si mesmo como herói de uma saga de literatura de cordel. A boa notícia é que, perante o Cordel Encantado de Lula, o leitor tem certeza que o petista está em pânico devido à possibilidade de vir a ser preso pelo juiz Sérgio Moro.

O mais surpreendente na petição é o uso, em diversos momentos, de uma linguagem coloquial incompatível com a que se espera em um documento endereçado a uma corte internacional. Os principais alvos são o juiz Sérgio Moro, o Ministério Público e o vazamento de informações, mas as acusações perdem impacto diante das teorias da conspiração e da alta carga ególatra-coitadista que se lê nas mal traçadas linhas.

Lula chega a acusar Moro de ser candidato à Presidência da República em 2018! E não se envergonha de defender o fim das prisões temporárias que levam os envolvidos no Petrolão a fazer delações premiadas. Sua defesa também se posiciona a favor das propostas que tramitam no Congresso Nacional, sob as bênçãos do impoluto Renan Calheiros, e que representam  um freio nas ações da Lava Jato.

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E o que dizer do momento em que Luiz Inácio demonstra incômodo – como aliás já o fez em diversos discursos – sobre os prêmios internacionais concedidos a Sérgio Moro? Lembro-me de, em um de seus últimos discursos, o ex-presidente ter advertido Moro sobre os perigos da vaidade por receber prêmios internacionais. Acho bonito quando a experiência fala – e Lula sabe como poucos o poder da bajulação como infladora do ego. Noto que Lula teme Moro em três aspectos: o de juiz que vai determinar sua prisão; o de concorrente na categoria brasileiro-estrela-incensado-no-exterior; e futuro concorrente nas eleições de 2018. Calma, Lula, só os dois primeiros são reais ameaças.

Juro que tentei fazer uma análise sóbria do que li, mas minha veia histriônica ficou inquieta diante de frases como a que o gabinete de Moro “vaza como uma peneira” informações sigilosas a fim de destruir a honra (sic) e a reputação (sic, de novo) de Lula. Ou que a corrupção no Brasil é um exagero da mídia.

Há de se reconhecer o talento do advogado de Lula para a comédia. Desafio qualquer um a permanecer com ar compungido diante do trecho que classifica Sérgio Moro como um soldado das Cruzadas! Nesse caso, quem seria Lula? Saladino? Outro momento impagável é o “exemplo escandaloso” da parcialidade de Moro: o juiz foi convidado de honra na festa de lançamento de um livro sobre a Lava Jato. O texto adverte que, na ocasião, Sergio Moro cometeu o gravíssimo crime de…posar para fotos com o autor do livro e sua mãe “que é conhecida por reprovar Lula”.

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Ainda agora me pergunto como lidar com esse primor da egolatria vitimista: “Lula é reconhecido internacionalmente como um lutador dos direitos dos trabalhadores para o desenvolvimento econômico e social do país, com ênfase no alívio da pobreza.  No Brasil sua honra e reputação são altas, particularmente entre os mais pobres. No entanto, ele tem muitos opositores nas classes média e alta, os quais estão prontos para falar mal dele quando é difamado por juízes e promotores, que o incluíram como suspeito em investigações de corrupção. Essas autoridades tentam criar expectativas na população da culpa de Lula, com a colaboração da mídia, que também é quase toda contra o ex-presidente e o Partido dos Trabalhadores”.

Segurei o riso quando a defesa de Lula reclamou que o Brasil não tem uma lei “para impedir campanhas de difamação contra suspeitos antes de seu julgamento”. E como sou discípula do velho e bom Aristóteles, apelei para a catarse a fim de terminar a leitura. Já que Lula se vê como herói de literatura de cordel, imagino que os que dominam essa adorável modalidade literária poderiam se apropriar de alguns trechos da petição encaminhada à ONU para compor novas peças. Minha contribuição para a obra é a elaboração dos títulos.

Ei-los: A fantástica história do Pai dos Pobres e sua luta contra as elites malvadas e a mídia perversa; A saga do malvado Moro e de Janot, seu jagunço; A lenda do mensalão e os exageros dos jornalistas malvados; O cruzado Sergio Moro e a tortura dos inocentes; Moro, o ferrador de gente, consumido pelo desejo de ser herói; O grande medo de ver o sol nascer quadrado nos calabouços do Reino de Curitiba; O grande dragão estrangeiro roubando o cordel (sobre a possibilidade da Netflix retratar Moro como herói e Lula como vilão); A espetacular história do jogo de um homem só: o juiz como goleiro, meio campo e centroavante; A epopéia da delação que nasce a fórceps; O manual do eufemismo em terras de Lampião (A “Operação Lava Jato”, sem dúvida, descobriu alguns casos graves de corrupção na Petrobras, como resultado da aparente atuação ilegal das cinco maiores empresas de construção do Brasil, que supostamente formaram um cartel”); A memória que se perdeu no vasto mundo (“Lula tem repetida e enfaticamente negado que tenha conhecimento, tampouco, que tenha aprovado tais crimes, ou recebido qualquer dinheiro ou favores como “propina” por ações ou decisões que ele tenha tomado quando presidente do Brasil, ou em qualquer outro momento”); O mistério do sítio e do triplex sem donos; A incrível história do juiz que queria ser presidente; A farsa de Silvério dos Reis, que culpou os próprios amigos (“A quadrilha envolvida na Lava Jato foi o cartel de empresas construtoras, do qual nunca poderia ter se alegado que Lula era o chefe”); O caboclo incitador de poviléuA epopéia do ataque à casa do pai dos pobres (“De manhã cedo, o ataque contra a casa de Lula foi liberado para a mídia. A foto abaixo mostra ele sendo conduzido de seu apartamento em um elevador cheio de policiais”); O pacto de sangue para matar o herói (Onde se aprende que Moro se aliou a grupos politicamente hostis a Lula); O cavaleiro encantado na luta contra o eixo do mal (“Os principais meios de comunicação brasileiros – jornais, revistas e a televisão – são todos hostis a Lula). Haja imaginação!

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