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Silvio Navarro: Quem usa ônibus não depreda ônibus

SILVIO NAVARRO Na noite de 8 de janeiro, não houve um único telejornal que não tenha encerrado a cobertura dos protestos contra o reajuste das tarifas de transporte público em São Paulo com a mesmíssima imagem tristonha: um jovem com o rosto coberto pela camiseta preta, olhos raivosos de rebelde sem causa definida, peito estufado de bravo combatente, […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 23h40 - Publicado em 21 jan 2016, 18h10

Oniubus protestoSILVIO NAVARRO

Na noite de 8 de janeiro, não houve um único telejornal que não tenha encerrado a cobertura dos protestos contra o reajuste das tarifas de transporte público em São Paulo com a mesmíssima imagem tristonha: um jovem com o rosto coberto pela camiseta preta, olhos raivosos de rebelde sem causa definida, peito estufado de bravo combatente, protagoniza o espetáculo da covardia que a adolescência supostamente lhe permite destruindo um ônibus que levava para casa gente exaurida por outra jornada dura de trabalho. Alertado pelo som das sirenes, bateu em retirada quebrando vidraças até topar com um bando de parceiros de baderna entrincheirados debaixo do Minhocão ─ a via elevada que simboliza a degeneração da paisagem urbana da capital paulista. Então, exibiu o rosto iluminado pelo ar triunfante. Estava desavergonhadamente feliz. As câmeras da TV haviam registrado sua valentia no ataque ao ônibus. Outro soldado da guerra dos R$ 0,3 viveria seus minutos de fama.

O ano tecnicamente novo começou com um punhado de protestos nas principais artérias da capital paulista contra o necessário reajuste nas tarifas de transporte público de R$ 3,50 para R$ 3,80. Os atos foram agendados pelo Movimento Passe Livre (MPL), o grupo anticatraca que maneja com habilidade as redes sociais, mas desfraldou uma bandeira com a qual não compactua sequer seu ídolo de ocasião, o prefeito petista Fernando Haddad. Liberar a roleta nos ônibus custaria R$ 8 bilhões ─ cifra impensável para a prefeitura mais endividada do país e a mais inepta no uso do pouco dinheiro que sobra.

O MPL tem todo o direito de gritar nas calçadas, no asfalto e – por que não? — nas dezenas de ciclovias de cores já desbotadas. O problema está na estação seguinte. O MPL não existe, por uma razão singela: quem depreda ônibus não usa ônibus. Os “black blocs”, glamourizados por parte da imprensa criativa que ainda vê na esquerda a salvação para o que a esquerda estragou, são indissociáveis do MPL. Se não fosse assim, desde junho de 2013, os envolvidos em mobilizações anticatraca teriam repelido a adesão da artilharia de estilingue e dos vândalos de plantão infiltrados nos atos de protesto, que acabariam arremessados para longe das passeatas. O MPL continua devendo desculpas à população pelos arroubos bestiais cometidos por aliados. Prefere fingir que nada tem a ver com black blocs.

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É possível amparar-se em correntes de pensamento, ou nos hormônios excitados pela liberdade, ou resgatar ideologias libertárias de outros séculos e temperar tudo isso com citações políticas e filosóficas para tentar justificar o que fazem. É possível fechar os olhos às arruaças e a quem teve a lojinha destruída por meninos que exigem circular de graça pela cidade. É possível até, lá no limite do puritanismo débil de quem ainda acha o PT uma opção suportável, acreditar que esses moços que protestam nada têm a ver com os selvagens encapuzados.

Não penso em nada disso ao ver uma cena como a descrita no primeiro parágrafo. O que me vem à cabeça quando um bandido que esconde a cara irrompe na tela da televisão, brandindo uma clava improvisada, é a terrível sensação de que o estrago é consentido.

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