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Se não entender o recado de milhões de eleitores nem ouvir a advertência de FHC, a oposição oficial vai morrer de medo

A iminente troca de gerente não afetou a produtividade da usina de escândalos, safadezas e espantos em geral instalada há oito anos no coração do poder. Ainda atônito com as bandalheiras da quadrilha de Erenice Guerra, dos estupradores de sigilo fiscal ou dos fabricantes de dossiês bandidos, que se juntaram para reduzir a campanha presidencial […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 13h34 - Publicado em 22 nov 2010, 02h24

A iminente troca de gerente não afetou a produtividade da usina de escândalos, safadezas e espantos em geral instalada há oito anos no coração do poder. Ainda atônito com as bandalheiras da quadrilha de Erenice Guerra, dos estupradores de sigilo fiscal ou dos fabricantes de dossiês bandidos, que se juntaram para reduzir a campanha presidencial de 2010 a um evento político-policial, o país que presta foi abalroado desde o primeiro minuto do mês pelos assombros de novembro.

Não há perigo de melhorar, reiteraram, entre outras obscenidades, a tentativa de exumação da CPMF, o segundo naufrágio do Enem, a descoberta de uma advogada sanguessuga na equipe de transição, o balcão de barganhas cafajestes explorado pelo PT e pelo PMDB ou as recorrentes ofensivas federais contra a liberdade de imprensa. A turma parece cada vez mais cínica, ressalvou a discurseira triunfalista inspirada no Brasil Maravilha que Lula inventou sobre os escombros legados por Fernando Henrique. Mas o governo, em sua essência, continua o mesmo.

A oposição oficial também continua a mesma, berrou o silêncio indecoroso dos líderes do PSDB — alguns em férias, outros cuidando da montagem de equipes, os restantes imersos no recesso oficioso que começa depois de uma eleição e acaba quando vai chegando a seguinte. Posto em sossego, o maior partido oposicionista não captou ou não entendeu o recado das urnas. Nem alcançou as dimensões de uma oportuníssima advertência formulada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sempre ele.

“Não estou disposto mais a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história”, perdeu a paciência FHC numa entrevista concedida à Folha na noite de 31 de outubro, quando Dilma Rousseff ainda ensaiava o discurso da vitória e José Serra tentava adiar a cerimônia do adeus com um improvável “até logo”. Caso fosse menos tolerante, FHC poderia ter dito a mesma frase já em 2002, quando Serra adotou a estratégia da covardia reprisada por Geraldo Alckmin em 2006 e levada às últimas consequências neste ano.

Os dois fracassos anteriores sedimentaram a suspeita de que o maior partido de oposição não sabe fazer oposição. A suspeita virou certeza depois do fiasco da campanha de 2010 — a mais errática, inepta, insossa e pusilânime campanha conduzida por um candidato do PSDB. A coleção de equívocos, cretinices e monumentos à insensatez não cabe num post só. Veja-se neste texto, portanto, apenas o ponto de partida para o debate que se desdobrará em mais artigos e em centenas de comentários enviados pelo timaço da coluna.

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IMPOSTURA TEM LIMITE
Se Dilma Rousseff foi a adversária que todo candidato pede a Deus, Serra soube ser o candidato com que sonha a mais bisonha adversária. Se o PT seguiu protagonizando bandidagens e trapalhadas suficientes para ser enterrado sem honras por dois ou três discursos de um Carlos Lacerda ou de um Jânio Quadros, o PSDB reafirmou a vocação para desperdiçar em tiroteios domésticos a munição que não ousa usar contra o alvo verdadeiro. O candidato e o partido se mereceram. Quem merece coisa bem melhor é a imensidão de brasileiros insatisfeitos com o governo. Merece e, até que enfim, passou a exigir.

“Esses 44 milhões que votaram em José Serra não são do PSDB”, compreendeu FHC. “É uma parte da sociedade brasileira que pensa de outra maneira, e não se pode aceitar a ideia de que há uma separação entre pobres e ricos. Nunca vi uma elite tão grande”. O Brasil dos descontentes é infinitamente maior que Serra e muito mais combativo que o PSDB, registrei num post aqui publicado no mesmo dia da entrevista de FHC. No primeiro turno, incontáveis eleitores frustrados com a tibieza do candidato tucano optaram por Marina Silva. No segundo, digitaram o número de Serra para votar na democracia.

O PSDB continuará distante desse colosso eleitoral se não se der conta de que, depois deste 31 de outubro, não chances de sobrevivência para quem se declara adversário do governo mas não sabe, ou não quer, interpretar o pensamento e as aspirações da resistência democrática. Os líderes que não aprenderem a opor-se o tempo todo logo não terão ninguém a liderar, e serão substituídos por quem souber que a prudência não pode anular a bravura. Sobretudo, não haverá esperança de salvação para políticos que engolem sem engasgos a discurseira que, simultaneamente, amaldiçoa o grande governo de FHC e celebra o faz-de-conta da potência sul-americana, como se algo de grandioso pudesse vicejar na Era da Mediocridade.

A ausência de réplicas tucanas aos palavrórios de novembro atesta que, até agora, o recado de FHC não interrompeu a interminável siesta pós-eleitoral. “Eu recebi uma herança maldita”, Lula mentiu de novo em Seul, na reunião do G-20. Enquanto a oposição oficial fazia cara de paisagem, um editorial do Estadão recolocou as coisas no lugar. “Para que a memória do país não fique contaminada pela falta de memória do nosso ‘pato manco’”, rebateu o último parágrafo, “convém lembrar (…) a derrubada da inflação com o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a criação do Proer, a criação das agências reguladoras, as privatizações, especialmente da telefonia, da Vale, da Embraer (…). Lula e o PT foram contra tudo isso”.

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Quem não teme revides da oposição diz o que lhe dá na telha ou o que chefe manda, mostrou há dias Dilma Rousseff em outro improviso desbeiçado. “O grande desafio é dar um salto e avançar em cima dessa herança bendita, que tem sempre um grande peso e que para honrá-la temos que ser inovadores”, decolou a oradora aprendiz, a bordo do “momento mágico vivido pela nação” e dos “indicadores sociais de países desenvolvidos” que Lula colheu sabe-se lá em qual das tantas hortas de sabujices. Ninguém no PSDB indignou-se com a novidade: depois de vender anos a fio a fraude da “herança maldita”, o camelô de si mesmo resolveu lançar na praça, pela voz da protegida, o embuste da “herança bendita”.

Nenhum deputado, senador, governador ou cartola partidário julgou necessário antecipar-se ao que escreveu José Roberto Guzzo na edição de VEJA desta semana. “O Brasil não tem um único indicador comparável aos do Primeiro Mundo em áreas fundamentais como educação, saúde, esgotos, transporte coletivo, criminalidade, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e por aí afora”, corrigiu o colunista. “Não tem competência, sequer, para montar um exame de escola como o Enem”.

Com ou sem o PSDB, a oposição real vem defendendo o legado de Fernando Henrique com a convicção obstinada que sempre faltou à oficial. Com ou sem o partido, a oposição de verdade está também decidida a matar no nascedouro a farsa concebida para substituir a realidade por um Brasil de cartão postal e anúncio da Petrobras. É preciso ensinar ao governo que impostura tem limite. E o PSDB precisa aprender que quem vive morto de medo acaba morrendo de inanição.

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